Gigantes da mineração em guerra na justiça da Inglaterra

Os advogados que representam as vítimas do rompimento da barragem de Mariana acreditam que o embate entre a mineradora brasileira Vale e a BHP nos tribunais britânicos é uma “jogada simulada”, uma tentativa de atrasar o processo que já colocou a mineradora anglo-australiana como ré nos tribunais da Grã-Bretanha.

As duas maiores mineradoras do mundo começaram a se enfrentar nesta quarta-feira (12) na Corte de Tecnologia e Construção de Londres. Oficialmente, a BHP quer a companhia da Vale no banco dos réus.

A mineradora anglo-australiana queria evitar o julgamento nos tribunais britânicos, mas perdeu uma batalha de 5 anos com um escritório de advocacia inglês, que representa as vítimas.

“A estratégia da BHP tem sido atrasar esse processo desde 2018. Tudo o que eles tem feito é pra tentar atrasar”, afirma Tom Goodhead, dono do escritório Pogust Goodhead, que já tem cerca de 700 mil brasileiros na lista de clientes.

Entre eles, estão moradores de Bento Rodrigues, distrito de Mariana, destruído pelo rompimento da barragem, povos indígenas, prefeituras e Igrejas. Eram 200 mil antes do escritório conseguir a garantia do julgamento no Reino Unido.

A Vale alegou que “trata-se de uma questão discutida judicialmente e todos os esclarecimentos vêm sendo oportunamente apresentados no processo”.

Em resposta, a BHP enviou a seguinte nota:

“A BHP refuta integralmente os pedidos formulados na ação instaurada no Reino Unido e continuará a se defender no processo, o qual consideramos desnecessário por duplicar questões que cobertas pelo trabalho da Fundação Renova ou são objeto de processos judiciais em andamento no Brasil. 
 
A ação de contribuição ajuizada contra a Vale foi uma medida processual necessária, uma vez que a Vale não consta como ré na ação movida no Reino Unido.  Caso a defesa da BHP não seja acolhida e haja uma ordem de pagamento no processo inglês, a Vale deverá contribuir com no mínimo 50% de qualquer valor a ser pago. 

A BHP Brasil continua a trabalhar em estreita colaboração com a Samarco e a Vale para apoiar o processo de reparação no Brasil. A Fundação Renova avançou significativamente com os programas de indenização individual, tendo feito pagamentos a mais de 417 mil pessoas, incluindo comunidades tradicionais quilombolas e povos indígenas. Foram mais de R$ 6 bilhões pagos por meio do Novo Sistema Indenizatório a mais de 68.000 indivíduos que são autores no processo do Reino Unido. No total, mais de 200.000 autores da ação inglesa já receberam algum tipo de pagamento no Brasil.”

A anglo-australiana BHP e a Vale são controladoras da Samarco, responsável pela barragem do Fundão que se rompeu em novembro de 2015.

O rejeito de minério liberado soterrou e matou 19 pessoas no distrito de Bento Rodrigues, que ficou completamente destruído, além de ter provocado danos ambientais sem precedentes em todo o curso do rio Doce, até o Espírito Santo.

“Do rio, nós tirávamos sustento, remédio e nossa energia espiritual. Hoje isso não existe mais”, afirmou Mychael Krenak, representante do povo Krenak, um dos indígenas presentes na manifestação de hoje em frente à corte londrina.

Ainda que não estejam diretamente envolvidos na ação, indígenas, prefeitos, moradores de Bento Rodrigues e jornalistas brasileiros têm sido trazidos a Londres pelo escritório de advocacia, como forma de mobilizar a opinião pública, o que pode ajudar a pressionar a justiça britânica.

Fonte: SBT News

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