Nove membros da tripulação de uma embarcação lotada de migrantes que afundou no litoral grego na quarta-feira (14/06) foram presos e estão sob custódia em Kalamata, no sul da Grécia. Segundo a Guarda Costeira grega, eles são egípcios, têm entre 20 e 40 anos e são suspeitos de tráfico humano, morte por negligência e de integrarem uma organização criminosa.

O barco estaria transportando cerca de 750 pessoas e havia zarpado da costa da Líbia. Até o momento, as equipes de resgate encontraram 104 sobreviventes e 78 corpos. Todos os sobreviventes são homens ou meninos. Mulheres e crianças teriam ficado presas no porão quando a embarcação virou e afundou, na região central do Mar Mediterrâneo.

O naufrágio ocorreu a cerca de 75 quilômetros a sudoeste da Península do Peloponeso, numa área conhecida como Trincheira de Calypso, o ponto de maior profundidade do Mediterrâneo, com mais de 5 mil metros.

De acordo com informações obtidas pela Agência Internacional para Migrações (IOM), da Organização das Nações Unidas (ONU), após entrevistas com sobreviventes, estima-se que havia pelo menos 40 crianças a bordo.

A chefe da IOM, Erasmia Roumana, disse que vários sobreviventes têm amigos e parentes que ainda não foram encontrados e que eles estão em “condições psicológicas muito ruins”.

“Eles querem entrar em contato com suas famílias para dizer que estão bem e continuam perguntando sobre os desaparecidos”, afirmou. “Muitos estão em estado de choque, extremamente abalados”, acrescentou.

Os sobreviventes são de países como Síria, Egito, Paquistão e do território palestino. Eles foram levados a um centro de acolhimento ao norte de Atenas para serem registrados e solicitarem asilo.

Os trabalhos de busca continuam, mas, segundo declaração do guarda-costeiro aposentado Nikos Spanos à televisão estatal grega ERT, a chance de encontrar mais sobreviventes “é mínima”.

A Grécia anunciou três dias de luto devido à tragédia e colocou um promotor exclusivo para investigar o episódio.

Contato a bordo

A Guarda Costeira grega informou a Agência Europeia de Fronteiras e da Guarda Costeira (Frontex) que o barco foi descoberto no final da manhã de terça-feira e que os migrantes recusaram repetidas ofertas de resgate. E argumentou que o barco poderia ter afundado antes se as autoridades tivessem executado uma intercepção.

“Não é possível desviar à força um barco com tantas pessoas a bordo, a menos que haja cooperação”, afirmou o porta-voz da Guarda Costeira da Grécia, Nikos Alexiou.

As autoridades também afirmaram que a embarcação, observada por um helicóptero, parecia navegar normalmente por volta das 18 horas de terça-feira.

Na manhã de quarta-feira, equipes de resgate gregas contataram um passageiro, que disse que as pessoas a bordo precisavam de comida e água. Navios mercantes teriam repassado suprimentos.

Mais tarde, foi relatado um problema no motor do barco que, segundo a Guarda Costeira, começou a balançar violentamente e afundou cerca de 40 minutos depois desse último contato.

Especialistas acreditam que o barco pode ter ficado sem combustível ou ter enfrentado falhas mecânicas no motor. A movimentação dos passageiros teria feito com que a embarcação se inclinasse e, depois, virasse.

Uma fotografia aérea do barco divulgada pelas autoridades gregas mostra pessoas amontoadas no convés, e a maioria não estava usando coletes salva-vidas.

Críticas a autoridades

De acordo com a Alarm Phone, uma rede de ativistas que presta socorro imediato a migrantes em situação de emergência, os problemas começaram antes da quarta-feira, dia em que a embarcação afundou. A organização disse que os migrantes pediram ajuda já por volta das 15h de terça-feira.

Especialistas afirmaram que, conforme as leis marítimas, as autoridades gregas deveriam ter tentado um resgate se o barco não apresentasse segurança, independentemente de um pedido da tripulação ou passageiros.

A busca e o resgate “não são um contrato de mão dupla. Você não precisa de consentimento”, declarou o almirante aposentado da Guarda Costeira italiana Vittorio Alessandro, que instou que a superlotação, a falta de coletes salva-vidas ou a ausência de um capitão teriam sido motivos para intervir.

O professor Erik Røsæg, do Instituto de Direito Privado da Universidade de Oslo, na Noruega, disse que as autoridades gregas “tinham o dever de iniciar procedimentos de resgate”, dadas as condições da embarcação.

O ministro interino para Proteção Civil da Grécia, Evangelos Tournas, em contrapartida, defendeu a conduta da Guarda Costeira, dizendo que a instituição não poderia intervir em uma embarcação enquanto ela estivesse em águas internacionais.

Da Líbia para a Europa

Migrantes de países como Egito, Níger e Sudão costumam usar a Líbia como rota de tráfego para o Mediterrâneo, atravessando o mar em barcos inadequados e superlotados para chegar às costas europeias.

Os traficantes de pessoas geralmente autorizam o embarque após o pagamento de uma taxa que não garante que os passageiros sobreviverão à jornada marítima.

A Itália e a Grécia são dois dos destinos mais frequentes dos migrantes que buscam entrar na União Europeia (UE).

Eftychia Georgiadi, funcionária do Comitê Internacional de Resgate na Grécia, declarou que o fracasso da UE em oferecer rotas mais seguras para a migração “efetivamente fecha a porta para as pessoas que buscam proteção. Ninguém embarca nessas jornadas traiçoeiras a menos que sinta que não tem outra opção”, afirmou.

Fonte: DW Brasil

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