Em 2022, houve 138 situações em que policiais franceses dispararam contra carros em movimento, resultando na morte de 13 pessoas. Agora foi a vez de Nahel, jovem de 17 anos assassinado na última terça-feira (27/06) no subúrbio parisiense de Nanterre. O caso desencadeou uma série de tumultos e manifestações pelo país contra uma suposta violência policial racista.

Enquanto nem todos os casos de mortes associadas à violência policial provocaram tamanha indignação na França, outros permanecem vivos na memória de muitos franceses ainda hoje. Relembre alguns nomes.

27 de outubro de 2005, Clichy-sous-Bois – Zyed Benna e Bouna Traoré

Traoré, de 15 anos, e Benna, de 17, estavam entre os dez jovens que voltavam para casa depois de uma partida de futebol. Naquele mesmo momento, a polícia havia recebido uma chamada de emergência sobre a invasão de um quartel e, atrás dos responsáveis, resolveu abordar o grupo. Sem documentos de identificação, Traoré, Benna e um amigo, Muhittin Altun, preferiram fugir.

A polícia chamou reforços e deu início a uma perseguição feroz. Os três adolescentes fugiram para uma área fechada e se esconderam em uma central de distribuição elétrica. Lá, Traoré e Benna morreram eletrocutados. O amigo Altun, por sua vez, conseguiu sobreviver, mas ficou com queimaduras graves.

Na época, uma mensagem de rádio gravada pela polícia gerou polêmica: “Se eles entrarem na EDF [produtora e distribuidora de energia da França], não dou muita esperança pela vida deles”, disse um dos policiais que os perseguiam ao ver os jovens escalando uma cerca rumo ao terreno de propriedade da empresa. Posteriormente, contudo, o policial justificou as declarações alegando não imaginar que eles haviam ficado no local. Uma colega que estava na delegacia no momento da perseguição acompanhava os acontecimentos pelo rádio.

Os dois policiais foram acusados de omissão de socorro e de não alertarem a empresa de energia sobre a presença dos invasores, cuja vida estava em risco. Dez anos depois, ambos foram absolvidos por um tribunal criminal em Rennes. A justificativa foi de que o perigo não era óbvio no momento e que os policiais, portanto, agiram de forma adequada.

17 de junho de 2007, Belleville – Lamine Dieng

Após uma discussão entre Dieng e sua namorada, a polícia prendeu o jovem de 25 anos e o colocou em uma viatura. Segundo a organização de direitos humanos Anistia Internacional, cinco policiais o seguraram à força e o mantiveram imobilizado por meia hora com o rosto no chão e os pés amarrados. Dieng acabou perdendo a consciência e morreu sufocado.

Treze anos depois, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo ordenou à França que pagasse à família da vítima 145 mil euros. O caso levou as irmãs de Dieng a formarem a primeira Comissão da Verdade e Justiça para esclarecer o que realmente aconteceu naquele dia. Outros casos viriam a seguir.

9 de junho de 2009, Argenteuil – Ali Ziri

Em viagem à França para comprar presentes de casamento para seu filho, o argelino de 69 anos decidiu tomar uns drinks com um amigo após as compras. Na volta, porém, Ziri teve o carro parado pela polícia. Embriagado, o aposentado tentou resistir, mas teve as mãos presas pelas costas e foi levado até uma viatura, onde foi mantido algemado e com a cabeça entre os joelhos.

Ziri vomitou várias vezes, entrou em coma e acabou morrendo no hospital em decorrência de asfixia. Aqui, mais uma vez, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a França por “negligência”. A filha de Ziri recebeu 30 mil euros por danos morais, além de 7,5 mil euros pelos custos e despesas com o julgamento.

19 de julho de 2016, Beaumont-sur-Oise – Adama Traoré

Filho de pais malianos, o jovem de 24 anos havia conseguido escapar de uma perseguição policial, mas acabou sendo detido pela Gendarmaria francesa. Três policiais se ajoelharam sobre suas costas e, segundo os registros da prisão, Traoré disse que não conseguia respirar. A polícia chamou uma ambulância, mas quando ela chegou, Traoré já estava morto.

Na falta de testemunhas ou gravações de vídeo, a causa exata da morte gerou controvérsia: de um lado, um tribunal atribuiu o óbito a uma doença pré-existente; de outro, uma autópsia feita a pedido da família de Traoré concluiu que Traoré morreu sufocado em decorrência de violência externa.

5 de janeiro de 2020, Paris – Cédric Chouviat

O homem de 42 anos estava andando de moto perto da Torre Eiffel quando foi parado pela polícia por supostamente falar ao telefone enquanto dirigia. A checagem de rotina, no entanto, saiu completamente fora do controle: houve uma troca de agressões verbais, até que os quatro policiais imobilizaram Chouviat com a cabeça no chão, ainda de capacete.

“Estou sufocando”, teria gritado sete vezes o pai de cinco filhos, conforme mostram as gravações de vídeo e áudio apreendidas. Os policiais, no entanto, não reagiram. Chouviat perdeu a consciência e morreu no hospital 48 horas depois. Segundo o laudo da autópsia, o óbito se deu em decorrência de uma fratura laríngea.

Fonte: DW Brasil