Faz pelo menos quatro anos que o fotógrafo Bruno Pompeu, 29 anos, separa seu shorts, camiseta, tênis para correr pelas ruas de São Paulo, onde mora. No entanto, no último momento acaba sempre desistindo e vai fazer alguma das atividades que ele próprio classifica como “desculpas”.
“Quase todos os dias eu separo tudo, deixo ao pé da cama para usar, mas na hora falta vergonha na cara para parar de procrastinar; começo a estudar fotos, ler livros, editar uns trabalhos que na verdade não tem nenhuma urgência. Meu corpo diz que eu estou trabalhando, mas no fundo é uma desculpa, porque tem gente que trabalha, tem filho, e está lá fazendo exercício”, conta com preocupação.
Pompeu é um dos cerca de 60% dos brasileiros que não fazem nenhuma atividade física regular, segundo um estudo publicado nesta sexta-feira (11/08) na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde. O levantamento mostrou ainda que apenas 26% dos brasileiros seguem as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a realização de atividades físicas durante o tempo de lazer.
Para uma vida saudável, a agência da ONU recomenda que adultos pratiquem ao menos 150 minutos de exercícios físicos por semana. A OMS afirma que a prática semanal de atividades físicas aeróbicas, como caminhada, corrida ou andar de bicicleta, e de fortalecimento muscular, como musculação, pilates ou yoga, pode contribuir para reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares, metabólicas e alguns tipos de câncer. Essas atividades fazem ainda bem para a saúde mental.
Realizado por pesquisadores do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com instituições dos Estados Unidos e Noruega, o estudo se baseou em dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. A análise focou em informações fornecidas por 88 mil participantes da PNS maiores de 18 anos.
Entre idosos, parcela de inativos é ainda maior
Para a análise, os pesquisadores usaram como base a recomendação da OMS de ao menos 150 minutos de atividades físicas por semana. Os participantes foram então divididos em três categorias: inativos – que não praticam nenhum exercício –; insuficientemente ativos – que fazem exercícios esporadicamente –; e ativos – que seguem pelo menos o mínimo recomendado pela OMS.
Os dados da PNS revelam que cerca de 60% dos participantes da pesquisa se encaixam na categoria inativos, outros 14% eram insuficientemente ativos, e apenas 26% eram ativos, ou seja, estão seguindo as recomendações da OMS para uma vida saudável.
De acordo com Arão Oliveira, doutor em fisiologia do exercício na USP e um dos autores do estudo, se forem levados em conta apenas os dados dos maiores de 65 anos, a parcela de inativos sobe para 70%. “Este dado talvez seja o mais preocupante para nós”, avalia Oliveira.
“Sabe-se que há uma prevalência de problemas ósseos, de articulação, e outras debilidades na população idosa, no entanto, cerca de 3% destes fazem algum fortalecimento muscular que melhoraria muito a qualidade de vida desta população”, complementa o pesquisador.
Oliveira alerta que, contrariando o senso comum, o fortalecimento muscular reúne atividades mais amplas que apenas a musculação. Yoga, Tai-chi-chuan ou pilates também cumprem a função de manter o tônus de modo a não sobrecarregar ossos e articulações. Entre toda a população adulta, menos de 9% faz algum tipo de fortalecimento no tempo livre.
Sedentarismo é maior entre as mulheres
O estudo também mostrou que a porção de inativos é maior entre as mulheres – ficando em 63%. Entre a população masculina, os inativos são 56%. O texto destaca que “fatores sociodemográficos e ocupacionais podem ter determinado diferenças entre sexo, favorecendo maior disponibilidade de tempo para atividade física nas pessoas do sexo masculino”.
Oliveira pontua ainda que trabalhos braçais ou com alta exigência física não trazem os mesmos benefícios do que as atividades físicas realizadas em momentos de lazer. “São exercícios feitos sem tanta consciência corporal, com carga inadequada para um fortalecimento correto, alta repetição; tudo isso acaba sendo mais prejudicial”, diz, citando uma pesquisa que revelou que empregadas domésticas tinham níveis cardiorrespiratórios abaixo do esperado, apesar do trabalho extenuante.
Para reverter esse cenário prejudicial de sedentarismo, Oliveira acredita que um dos melhores caminhos seja a atenção básica via orientação do médico sobre a gravidade do problema.
Foi um “susto” provocado pelo médico da UBS onde é atendido, junto com um medo justificado que chamou a atenção de Bruno Pompeu. Quando bateu os 95 kg e começou a ter dificuldades em se abaixar para amarrar os sapatos, sentiu que precisava se cuidar mais. “O médico chamou minha atenção para o nível de colesterol em uma época que observei que três amigos morrerem de infarto, todos com menos de 50 anos”, conta. Melhorar a alimentação já lhe tirou 5 kg, mas a falta de ar ao subir escadas permanece.
Fonte: DW Brasil