Um dos principais monumentos da cultura maranhense, o Teatro Arthur Azevedo (TAA) está comemorando 206 anos de história. Inaugurado em 1º de junho de 1817, a casa colocou o Maranhão na rota dos grandes espetáculos. Segundo teatro mais antigo do Brasil, sua história se confunde com a própria história do país e do nosso estado.
A história do Teatro Arthur Azevedo começa durante o período de esplendor econômico do Maranhão, em pleno ciclo do algodão maranhense, após a inclusão do Brasil ao Reino Unido de Portugal e Algarves na segunda década do século XIX.
Diretor do TAA, Victor Silper ressalta a importância histórica do teatro para a cultura Maranhense. “O Teatro Arthur Azevedo chega aos 206 anos, consagrando-se como o segundo teatro mais antigo do Brasil ainda em funcionamento e um dos que mais mantém suas características arquitetônicas originais”, afirma.
Em 1815, dois comerciantes portugueses – Eleutério Lopes da Silva Varela e Estevão Gonçalves Braga – movidos pelo desejo de assistirem espetáculos de arte dramática e música lírica de qualidade e em condições adequadas, aqui mesmo em São Luís, a exemplo do que assistiam em Lisboa, decidiram edificar um grande teatro do mesmo porte das casas de óperas da Europa.
E quem frequenta o local pode nem imaginar, mas a ideia original dos seus fundadores era que a entrada principal do teatro tivesse outra localização. A planta original previa uma fachada para a Rua da Paz e a principal para o Largo do Carmo. Entretanto os dois tiveram que enfrentar a oposição dos padres carmelitas da Igreja Nossa Senhora do Carmo que não admitiam ter como vizinhos uma casa de espetáculos profanos. E foi assim que depois de muita briga o prédio foi construído com a frente para a Rua do Sol.
O teatro começou a ser construído em 1816, sendo o quarto a ser construído na cidade de São Luís, entre 1780 e 1816, sendo considerado uma construção monumental para a época já que os teatros anteriores eram de pequeno porte e sem os espaços e conforto adequados. O projeto do Teatro Arthur Azevedo era grandioso. Na época, São Luís era a quarta maior cidade do Brasil e os 800 lugares do teatro representavam 5% da população local.
Nascia assim o Teatro União, inaugurado em 1º de junho de 1817. O primeiro espetáculo apresentado na nova casa ficou à cargo da Companhia Dramática de Lisboa e durante alguns anos o teatro foi palco de apresentações de companhias europeias, muito prestigiadas pela sociedade da época.
Edificado em estilo arquitetônico neoclássico, o Teatro Arthur Azevedo é a única construção verdadeiramente desse estilo em São Luís. No Brasil, o neoclássico foi difundido com a chegada da missão artística francesa, trazida por Dom João VI em 1816. No Rio de Janeiro, a primeira edificação no estilo neoclássico só ocorreu em 1819.
Inicialmente denominado de Teatro União, em 1852 a casa de espetáculos passa a se chamar Teatro São Luiz. E apenas dois anos depois, em 1854, o teatro viveu um dos momentos mais importantes da sua história e das artes cênicas maranhense.
Em 21 de junho de 1854, no camarim nº 1 do teatro nasceu a atriz Apolônia Pinto. Filha de uma atriz portuguesa que entrou em trabalho de parto em pleno teatro, Apolônia acabou se tornando uma das maiores atrizes do teatro brasileiro. Sua estreia nos palcos ocorreu apenas aos doze anos, na peça “A Cigana de Paris” e em seus 83 anos de vida ficou conhecida como a maior intérprete das paixões humanas da ribalta nacional.
Os restos mortais de Apolônia Pinto estão guardados no próprio teatro, no piso térreo, em um nicho dá acesso à plateia. Lá, a atriz foi homenageada, ainda, com um busto em bronze e uma placa alusiva à sua brilhante trajetória cultural, localizada no próprio camarim nº 1.
Além do nascimento de Apolônia Pinto, o ano de 1854 marcou a história do Arthur Azevedo por outro motivo: a realização do primeiro baile de máscaras de São Luís. O evento teve grande repercussão e provocou intensas discussões na sociedade ludovicense.
Foi apenas na década de 20 do século XIX que o teatro passa a ser chamado de Teatro Arthur Azevedo, em homenagem ao importante teatrólogo maranhense.
Ao longo de sua história, o Teatro Arthur Azevedo também enfrentou momentos de crise e chegou a funcionar como cinema, além de sofrer restaurações que acabaram por descaracterizar alguns de seus elementos.
No entanto, o teatro resistiu e ao longo de pouco mais de dois séculos segue fazendo parte do dia a dia da população maranhense, notadamente a de São Luís, destacando-se como um dos principais equipamentos culturais do estado. “Essa casa é importante não só para entendermos a cultura do nosso Estado e nossa memória, mas também para entender o que queremos construir a partir daqui. Quais outras possibilidades este teatro nos proporciona”, destaca o diretor do TAA, Victor Silper.
Hoje, além de receber os mais diversos artistas do cenário nacional e mundial, o TAA usa seu espaço para a formação cultural de jovens, através do Projeto Núcleo Arte-Educação, que é desenvolvido no Teatro Arthur Azevedo, através de uma parceria entre as secretarias de Estado da Cultura e da Educação, disponibilizando seus espaços para alunos de escolas públicas estaduais.
O teatro também possui em suas dependências vários objetos históricos. Móveis, bustos, manuscritos e obras de arte abrilhantam um pouco mais o teatro.
Por causa de sua importância histórica e cultural, o Teatro Arthur Azevedo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1974 e pelo Governo do Estado do Maranhão desde 1986, sendo, ainda, parte integrante da área reconhecida como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), desde 1997, em São Luís.
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