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No coração do Gurupi: jovem pesquisador maranhense revela os riscos e as esperanças de um rio em transformação

Pesquisa do estudante de Geografia da UFMA, Pedro Lucas Costa Nascimento, revelou contaminação por mercúrio no rio Gurupi, em Centro Novo do Maranhão.

No interior do Maranhão, entre florestas densas e comunidades que vivem às margens das águas, corre o Rio Gurupi, um dos símbolos da conexão entre o homem e a natureza na Amazônia maranhense. Foi ali que Pedro Lucas Costa Nascimento, estudante do curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), decidiu mergulhar — não apenas nas águas, mas também nos desafios ambientais e sociais que cercam o rio.

O jovem pesquisador transformou curiosidade em ciência. Seu estudo, orientado pelo professor Marcelino Silva Farias Filho e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), uniu trabalho de campo, análises laboratoriais e diálogo com comunidades tradicionais. O resultado revelou um quadro preocupante: a presença de metais pesados associados às atividades de garimpos na região..

🔬Origem da pesquisa

Segundo o pesquisador, a ideia do projeto nasceu em uma viagem de campo da disciplina Geografia Física do Maranhão, no quarto período da graduação. Durante a atividade, o grupo, formado por ele e os colegas Sharon de Paula Gomes, Marcos Paulo Menezes Melo e Edson Lopes, observou a forte influência do garimpo na dinâmica socioambiental do município de Centro Novo do Maranhão e dos povoados vizinhos.

Pedro Lucas e os colegas durante a expedição ao Rio Gurupi, em Centro Novo do Maranhão (Arquivo Pessoal)

“Quando conhecemos a área e vimos como o garimpo interfere no meio ambiente e na vida das comunidades, percebemos a necessidade de investigar os impactos da contaminação por metais pesados, principalmente o mercúrio, que é amplamente utilizado no processo de separação do ouro”, explica Pedro Lucas.

A pesquisa contou com duas expedições de campo. A primeira, em janeiro de 2025, coincidiu com o fim do período de estiagem e teve caráter exploratório, voltado à compreensão da dinâmica local e da importância do rio para as comunidades ribeirinhas. A segunda, em julho do mesmo ano, ocorreu no final do período chuvoso e foi dedicada às coletas de água, sedimentos e espécimes de surubim, peixe escolhido como bioindicador de contaminação.

O jovem pesquisador conta que as amostras foram obtidas em pontos estratégicos do rio Gurupi e do riacho Cachoeira, com a equipe respeitando rigorosamente as normas ambientais e o período de reprodução dos peixes.

De volta à universidade, o material foi submetido a análises laboratoriais. Embora o plano inicial incluísse a verificação de mercúrio e cianeto, apenas o primeiro pôde ser testado por falta de laboratórios especializados na detecção do segundo.

Os resultados, no entanto, foram alarmantes:

“Os níveis de mercúrio detectados nas amostras estavam cerca de 27 vezes acima do limite máximo permitido pela resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)”, revelou Pedro.

⚠️ Garimpo ilegal: o impacto silencioso

A confirmação da contaminação trouxe à tona uma preocupação urgente. O mercúrio é um metal pesado altamente tóxico e, quando entra em contato com o ambiente aquático, se transforma em metilmercúrio, sua forma mais letal.

A substância pode se acumular na cadeia alimentar e afetar a saúde humana, principalmente de quem consome peixes contaminados. Os sintomas da intoxicação por mercúrio incluem problemas neurológicos, motores e respiratórios — e podem ser irreversíveis.

Pedro destaca ainda que o estudo evidencia o impacto negativo da garimpagem ilegal sobre o meio ambiente e as comunidades locais. “O que caracteriza a ilegalidade é justamente a ausência de controle e regulamentação. Quando essas atividades ocorrem sem fiscalização, os danos ambientais se ampliam, e os recursos naturais, que não são infinitos, acabam sendo exauridos”, afirma.

A contaminação por mercúrio é apenas um dos sintomas de uma ferida mais profunda: a ausência de políticas públicas eficazes para conter o avanço da exploração predatória nos rios amazônicos maranhenses.

🚤⚗️Da sala de aula ao campo

Para o jovem pesquisador, a experiência foi determinante em sua formação acadêmica e profissional. Ele destaca a importância da iniciação científica e do apoio institucional para o desenvolvimento de pesquisas voltadas à realidade maranhense.

“Essa pesquisa foi fundamental para o meu crescimento profissional. A iniciação científica nos permite viver a geografia na prática, ir a campo, coletar dados e compreender de perto os problemas ambientais do nosso estado. O apoio da FAPEMA foi essencial para que esse trabalho se tornasse realidade”, afirma.

🌱Esperança nas águas do Gurupi

Os resultados do estudo, além de apontarem os riscos à biodiversidade e à saúde das populações ribeirinhas, também levantam possibilidades para uma nova economia amazônica, centrada na sustentabilidade e na valorização das identidades locais.

Pedro acredita que a ciência pode ser uma aliada poderosa da bioeconomia com identidade maranhense — aquela que reconhece o valor dos recursos naturais sem explorá-los até o esgotamento.

“Falar em bioeconomia é falar sobre futuro. Mas é também falar sobre pertencimento. O Maranhão tem um papel essencial nesse debate, porque aqui a natureza e a cultura estão profundamente entrelaçadas”, conclui.

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