Vinícola Aurora pede desculpas a trabalhadores explorados

Em uma carta aberta à sociedade brasileira divulgada nesta quinta-feira (02/03), a direção da vinícola Aurora pediu desculpas e afirmou que está “profundamente envergonhada” pelos acontecimentos envolvendo sua relação com a empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA, investigada por manter trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

“Os recentes acontecimentos envolvendo nossa relação com a empresa Fênix nos envergonham profundamente. Envergonham e enfurecem. Aprendemos com aqueles que vieram antes que, sem trabalho, nada seríamos. O trabalho é sagrado. Trair esse princípio seria trair a nossa história e trair a nós mesmos”, diz a carta publicada no site da empresa.

Um total de 207 homens contratados para trabalhar na colheita de uva foi resgatado no final de fevereiro de um alojamento em Bento Gonçalves, onde eram submetidos a “condições degradantes” e trabalho análogo à escravidão. Os trabalhadores foram recrutados pela empresa Fênix, que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton – algumas das mais importantes produtoras da região.

Em sua grande maioria, os trabalhadores haviam sido recrutados na Bahia e teriam sido enganados após receberem promessa de emprego temporário e de salário de R$ 4 mil, além de alojamento e refeições pagas.

Eles relataram episódios de violência às autoridades, tais como surras com cabo de vassoura, mordidas, choques elétricos e ataques com spray de pimenta, além de más condições de trabalho e alojamento.

“Repudiamos com todas as nossas forças”

Na carta, a Aurora apresenta as “mais sinceras desculpas aos trabalhadores vitimados pela situação”. “A testa daqueles que fazem o Brasil acontecer, todos os dias, às custas do seu suor honesto, deveria estar sempre erguida, orgulhosa, e nunca subjugada pela ganância de uns poucos. Repudiamos isso com todas as nossas forças”, escreveu.

A empresa pediu ainda desculpas ao povo brasileiro como um todo e afirmou que reverá práticas e adotará medidas para que “um episódio indesculpável” como o investigado não volte a acontecer. A Aurora frisou que trabalha em um programa para qualificar a relação com todos os parceiros e ter o controle sobre os processos de produção.

As vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton já haviam divulgado notas afirmando que repudiavam as violações de direitos humanos e que não tinham conhecimento da situação.

Numa carta publicada anteriormente em seu site, a Aurora havia afirmado que não compactuava com “qualquer espécie de atividade considerada, legalmente, como análoga à escravidão” e que se solidarizava com os trabalhadores. Além disso, a empresa havia se colocado à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos e afirmou que estava prestando apoio às vítimas.

“A vinícola está tomando as medidas cabíveis e reitera seu compromisso com todos os direitos humanos e trabalhistas, assim como sempre fez em seus 92 anos”, escreveu. “A Aurora se compromete em reforçar sua política de contratações e revisar os procedimentos quanto à terceiros para que casos isolados como este nunca mais voltem a acontecer.”

Fonte: DW Brasil

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