Autoridades ucranianas zombaram de uma declaração do comandante da ofensiva russa em Bakhmut sugerindo que suas tropas teriam conquistado a cidade, que vem sendo palco de intensos combates nas últimas semanas, e que seus soldados teriam erguido uma bandeira russa em um edifício da administração local.
A batalha pela cidade, considerada um importante centro de logística e de mineração, é uma das mais sangrentas desde o início da guerra na Ucrânia. Grande parte dos edifícios e casas ficaram destruídos, e os dois lados do conflito sofreram um grande número de baixas.
Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo Wagner, uma milícia russa formada por soldados mercenários que lidera o cerco a Bakhmut, afirmou neste domingo que suas tropas teriam hasteado a bandeira da Rússia em um edifício da administração pública, apesar de os soldados ucranianos controlarem posições dentro da cidade.
“Do ponto de vista legal, Bakhmut foi tomada”, afirmou Prigozhin, que já acumula declarações prematuras sobre disputas territoriais na Ucrânia. Não há, porém, indicações de que a cidade, que tinha 70 mil habitantes antes do início do conflito, tenha caído para as tropas russas.
O Exército ucraniano relatou que ainda ocorrem combates ferozes em torno do edifício da administração pública em Bakhmut mencionado por Prigozhin, assim como nas cidades vizinhas.
“Bakhmut é ucraniana, eles não capturaram nada e ainda estão longe de fazê-lo”, afirmou nesta segunda-feira (03/04) o porta-voz do Comando Militar do Leste, Serhiy Cherevatyi.
“Eles ergueram uma bandeira em cima de um banheiro qualquer. Amarraram ao lado de sabe-se lá o quê, penduraram seu trapo e disseram ter capturado a cidade. Muito bem, deixemos que pensem dessa forma”, acrescentou Cherevatyi.
O Exército ucraniano afirmou em comunicado ter repelido 25 ataques inimigos em 24 horas, e definiu Bakhmut como o “epicentro das hostilidades”, juntamente com as localidades de Avdiivka e Maryinka, mais ao sul.
Presa suspeita de atentado a bomba
Uma jovem russa foi presa nesta segunda-feira, suspeita de estar por trás da explosão que matou o blogueiro militar Vladlen Tatarsky e feriu mais de 30 pessoas em um café de São Petersburgo, na Rússia.
Moscou alega que o ataque a bomba teria sido planejado por Kiev com a ajuda de apoiadores do líder da oposição Alexey Navalny, preso desde 2021 por acusações de fraude e corrupção. O opositor, alvo de uma tentativa de envenenamento cujas suspeitas recaem sobre o Kremlin, foi condenado em processos considerados fraudulentos por várias entidades internacionais.
A Ucrânia atribuiu o incidente a grupos de oposição ao regime do presidente Vladimir Putin dentro do próprio país. Entretanto, o Comitê Investigativo da Rússia e o Comitê Nacional Antiterrorismo acusaram ativistas pró-Navalny de serem os responsáveis pelo ataque.
O Comitê Investigativo divulgou um vídeo no qual a suspeita, a jovem Darya Trepova, de 26 anos, afirma ter “opiniões de oposição” e que seria uma apoiadora da Fundação Anticorrupção, uma entidade fundada por Navalny que acabou sendo banida na Rússia.
Mas, relatos não confirmados divulgados pela imprensa russa dizem que ela teria contado aos investigadores ter sido alvo de uma armação, narrativa também compartilhada por seu marido.
A detonação ocorreu no café Street Food Bar Nº 1, que, segundo a imprensa russa, pertence justamente a Yevgeny Prigozhin, o fundador do Grupo Wagner.
Tatarsky, cujo nome verdadeiro é Maxim Fomin, estaria participando de uma “noite patriótica”, organizada pela Cyber Front Z, um grupo que se autointitula uma “tropa de informação da Rússia”.
Ele foi correspondente na linha de frente da Ucrânia e chegou a participar da cerimônia do Kremlin, em setembro do ano passado, onde foi proclamada a anexação ilegal pela Rússia de quatro regiões parcialmente ocupadas da Ucrânia.
2º ataque a bomba desde a invasão da Ucrânia
Originalmente da região do Donbass, no leste da Ucrânia, Tatarsky era um dos mais proeminentes blogueiros militares da Rússia e tinha mais de 560 mil seguidores no Telegram. Em 2014, ele lutou como insurgente pela independência do Donbass, antes de começar a escrever o blog.
Embora fosse um defensor da guerra na Ucrânia, ele criticou alguns aspectos da campanha russa. Em seu blog, distribuía vídeos sobre o que estava acontecendo no front na Ucrânia e, mais recentemente, dava dicas a jovens soldados russos sobre como se comportar nas batalhas.
O ataque em São Petersburgo ocorre meses depois do assassinato da filha de um intelectual ultranacionalista russo em Moscou. Darya Dugina, uma filósofa e publicitária que apoiava a invasão da Ucrânia pela Rússia, morreu em agosto do ano passado quando seu carro explodiu nos arredores de Moscou. O Kremlin também culpa a Ucrânia pelo ocorrido.
O pai de Darya, Alexander Dugin, um dos gurus de Putin, elogiou Tatarsky como um “herói imortal”, que “morreu para salvar a vida do povo russo”.
Fonte: DW Brasil