O compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) aparentemente tinha uma predisposição genética para cirrose hepática. Isso é o que constatou uma equipe de pesquisadores internacionais que analisou fios de cabelo do mestre da música preservados como lembrança em coleções públicas e privadas na Europa e nos Estados Unidos.
Desde sua morte, há quase 200 anos, cientistas tentam juntar as peças do histórico médico de um dos maiores expoentes da música clássica ocidental, oferecendo uma variedade de explicações possíveis para seus muitos problemas de saúde. Agora, com os avanços na tecnologia de DNA, eles conseguiram lançar luz sobre o que estaria por trás de sua morte prematura aos 56 anos, em Viena.
“Não podemos dizer com certeza do que Beethoven morreu, mas pelo menos agora podemos comprovar a existência de um risco hereditário significativo de cirrose hepática e de uma infecção pelo vírus da hepatite B“, disse Johannes Krause, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva.
Contraída nos últimos meses de vida de Beethoven, a infecção por hepatite B, aliada à predisposição genética e a um consumo crônico de álcool, pode ter levado à doença hepática grave tida como a mais provável causa do óbito, afirma o estudo publicado nesta quarta-feira (22/03) pela revista Current Biology.
Genoma decodificado com base em cinco mechas de cabelo
Em busca de pistas sobre os problemas de saúde que atormentavam Beethoven, cientistas se prontificaram a realizar um sequenciamento genético do compositor. Para isso, foram usadas madeixas correspondentes aos últimos sete anos de sua vida.
Das oito amostras disponíveis, apenas cinco foram tidas como “autênticas com uma certeza quase absoluta”, vindas de um mesmo homem europeu. A autenticidade de outras três mechas não pôde ser comprovada. Testes anteriores em uma delas sugeriam um envenenamento por chumbo, mas o novo estudo concluiu que a amostra pertencia a uma mulher.
Depois de limpar o cabelo de Beethoven, mecha por mecha, os cientistas dissolveram os fios em uma solução e retiraram fragmentos de DNA, conta Tristan James Alexander Begg, antropólogo biológico da Universidade de Cambridge e um dos autores do estudo.
Teste de DNA sugere relação extraconjugal na família de Beethoven
A pesquisa também levou a uma descoberta surpreendente: ao testarem o DNA de parentes distantes de Beethoven que vivem atualmente na Bélgica, os cientistas descobriram uma discrepância nos cromossomos Y que são transmitidos pelo lado paterno. Os cromossomos Y de cinco homens testados combinavam entre si, mas não combinavam com os do compositor.
“Ao combinar dados de DNA e documentos de arquivo, fomos capazes de identificar uma discrepância entre as genealogias legais e biológicas de Ludwig van Beethoven”, disse o genealogista Maarten Larmuseau, da Universidade Católica de Leuven.
Isso sugere que houve pelo menos um filho ilegítimo na linha paterna direta de Beethoven nas gerações anteriores ao nascimento dele. Ou, em outras palavras, uma criança nascida de uma relação extraconjugal na árvore genealógica do compositor.
Begg, da Universidade de Cambridge, disse não ser possível descartar que o próprio Beethoven fosse ilegítimo. “Não estou defendendo esta tese”, enfatizou. “Estou simplesmente dizendo que é uma possibilidade e que devemos considerá-la.”
Incertezas sobre causas da surdez permanecem
Segundo a Universidade de Bonn, que também participou das pesquisas, ainda há muitas incertezas sobre o estado de saúde do músico. É sabido que Beethoven foi acometido por uma perda auditiva progressiva entre os 25 e 29 anos, ficando surdo de fato em 1818. Ele também sofria de problemas gastrointestinais crônicos. O novo estudo, porém, não conseguiu determinar as causas de tais problemas de saúde.
Também participaram do estudo a Beethoven-Haus, de Bonn, e outras instituições dos EUA (Beethoven Center de San Jose, American Beethoven Society e FamilyTreeDNA).
Fonte: DW Brasil