Um partido populista fundado há apenas quatro anos está posicionado para se tornar a maior legenda no Senado da Holanda após as eleições regionais desta quarta-feira (15/03), no embalo de uma onda de protestos de fazendeiros insatisfeitos com medidas do governo.
O Boer-Burger Beweging (BBB), ou Movimento dos Agricultores Cidadãos, deve ganhar 16 ou 17 vagas no Senado, que tem no total 75 assentos.
O partido ganhou popularidade com o crescimento dos protestos dos agricultores holandeses nos últimos anos, e recebeu também algum apoio global, inclusive do ex-presidente americano Donald Trump e de outras figuras de direita ou populistas.
Os fazendeiros têm se manifestado especialmente contra os planos do governo do primeiro-ministro Mark Rutte de reduzir as emissões de óxido nitroso, por meio da diminuição do número de animais em fazendas e do eventual fechamento de algumas delas.
Como os outros partidos se saíram?
Os quatro partidos da coalizão governista de centro-direita sofreram perdas significativas. Combinados, eles deverão ter menos de um terço das cadeiras do Senado.
“Esta não é a vitória que esperávamos”, disse Rutte, que comanda o governo holandês desde 2010.
O partido Democrata Cristão, que integra a coalizão governista, saiu como um dos maiores derrotados e perdeu quase metade de seus assentos no Senado. A legenda tradicionalmente representava muitos agricultores e eleitores rurais conservadores.
O Partido Trabalhista (PvdA) e os Verdes (GroenLinks) provavelmente terão 15 assentos combinados, de acordo com os resultados preliminares.
Esse cenário força a coalizão de Rutte a escolher entre trabalhar com um bloco à esquerda com ambições de proteção ambiental, ou com o BBB, que tem como objetivo suavizar as políticas de redução da poluição por nitrato.
“Há uma escolha no Senado – esquerda ou direita”, disse o líder dos Verdes, Jesse Klaver. Apesar de seu território pequeno, a Holanda é um dos produtores e exportadores agrícolas mais prolíficos da Europa.
Lição ‘histórica’ para a coalizão de Rutte?
Os jornais holandeses desta quinta-feira trouxeram manchetes sobre uma “lição histórica” e um “acerto de contas com o governo Rutte”.
O BBB tem explorado sentimentos populistas e o ressentimento em relação à política tradicional, apelando aos eleitores que se sentiram ignorados pelo governo de Rutte.
“Normalmente, se as pessoas não confiam mais no governo, elas ficam em casa”, disse a líder do BBB, Caroline van der Plas, em um discurso de vitória. “Hoje elas mostraram que não querem ficar em casa, elas querem que suas vozes sejam ouvidas.”
Mas o comparecimento às urnas parece ter crescido pouco. Quase 58% dos eleitores votaram na quarta-feira, em comparação com 56% em 2019, segundo a emissora holandesa NOS.
As eleições de meio de mandato são normalmente vistas como uma oportunidade para os eleitores expressarem sua insatisfação contra a coalizão governista na Holanda, e partidos menores já desfrutaram de sucessos de curta duração no passado.
Há quatro anos, o populista Fórum para a Democracia (FVD) ganhou a maior parte dos votos, mas sofreu grandes perdas na eleição desta quarta-feira e deve ter apenas duas cadeiras no Senado.
Toda a atenção voltada ao óxido nitroso
O governo holandês está procurando reduzir as emissões de poluentes do país, principalmente óxido nitroso e amônia, em 50% até 2030.
Os agricultores dizem que os planos do governo, incluindo a redução do número de animais em um terço e possivelmente a “expropriação” de fazendas, estão mirando o setor agropecuário de forma injusta, quando comparado a setores como a indústria e o transporte.
“Esperamos encontrar soluções que beneficiem nosso ambiente natural e que deem perspectiva aos agricultores, especialmente aos jovens agricultores, que estão procurando um futuro sustentável”, disse Frans Timmermans, comissário da União Europeia para o clima, ao felicitar o BBB por um “resultado incrível”.
Van der Plas disse que a votação de quarta-feira envolveu mais do que o tema da poluição provocada pelo setor agropecuário. “O nitrato é um símbolo de insatisfação no país”, disse ela à emissora NOS na quinta-feira, acrescentando que muitos eleitores do BBB “sentem-se que não são ouvidos nem vistos” pelos políticos em Haia.
Fonte: DW Brasil
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