Mais de 400 mil pessoas atravessaram neste ano a selva de Darién, no Panamá, rumo à fronteira entre o México e os Estados Unidos, informou nesta quinta-feira (28) o Ministério panamenho da Segurança Pública.

“Até setembro deste ano a cifra de migrantes irregulares chegou a 402.030 pessoas”, informou a pasta em nota, acrescentando que mais da metade dessas pessoas eram menores de idade e bebês de colo.

O número recorde é 62% superior a todo o ano de 2022, quando 248 mil pessoas fizeram a perigosa travessia. Uma estimativa da ONU divulgada em abril calculava um total de 400 mil migrantes em todo o ano de 2023.

Segundo o ministério, as chegadas diárias ao país através da fronteira com a Colômbia chegaram a ser de 4 mil pessoas. Os migrantes são, na maioria, cidadãos de Venezuela, Haiti, Equador e Colômbia, além de chineses e afegãos.

A fronteira natural de Darién, de 266 quilômetros de extensão e 575 mil hectares de superfície, se converteu em um corredor migratório para as pessoas que tentam chegar aos Estados Unidos desde a América do Sul, através da América Central e do México.

“Esforço sobre-humano”

A crise migratória levou o governo panamenho a instalar centros de cuidados aos migrantes em parceria com organizações internacionais em diferentes pontos do país de 4,2 milhões de habitantes.

O ministro da Segurança Pública do Panamá, Juan Pino, alertou nesta quinta-feira que a capacidade do Panamá de atender os migrantes já está superada. “Estamos fazendo um esforço sobre-humano”, disse.

Para tentar conter a onda migratória, as autoridades panamenhas anunciaram no dia 9 de setembro uma série de medidas, como o aumento das deportações das pessoas que entrarem ilegalmente no país.

Os governos dos EUA, Panamá e Colômbia lançaram em maio uma estratégia de dois meses de duração para tentar conter o fluxo de migrantes ilegais. Em maio, Washington anunciou novas políticas que incluíam a deportação das pessoas em situação irregular e a proibição da reentrada no país por um período de cinco anos.

Como resultado, as travessias de fronteira diminuiram inicialmente em até 70%, mas o aumento recente na chegada de migrantes à fronteira americana sugere que essa estratégia deixou de surtir efeito.

Perigos da selva de Darién

A crise migratória levou o governo da Costa Rica, outro país de trânsito na América Central, a declarar estado de emergência nesta semana. O presidente panamenho, Laurentino Cortizo, se reunirá com seu homólogo costa-riquenho, Rodrigo Chaves, nos dias 5 e 6 de outubro para discutir a situação.

Margarida Loureiro, do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Panamá, alertou recentemente para o fato de que nas redes sociais, a selva de Darién é muitas vezes mostrada como uma rota simples, o que certamente não é o caso. Até hoje, não existem rodovias na região, por exemplo.

“Darién é uma selva, é perigosa, há também grupos criminosos lá dentro, que estupram, matam e roubam”, explicou. Um terço das pessoas que atravessaram o local em agosto de 2023 relataram ter sido vítimas de abuso, maus-tratos, roubo ou fraude.

“Estamos falando de 31% de 82 mil pessoas. Elas perderam tudo, documentos, telefones celulares, todos os recursos econômicos. Há muitas mulheres que foram estupradas, há pessoas que morreram”, disse Loureiro.

Ela afirmou que muitas pessoas também são afetadas psicologicamente pela experiência traumática de ver corpos pela estrada, Não há, no entanto, estimativas concretas de quantas pessoas perderam a vida durante a viagem.

Alguns migrantes cubanos e africanos disseram ter realizado viagens aéreas para a Nicarágua no intuito de evitar os perigos da selva de Darién em suas trajetórias rumo à fronteira dos EUA.

Fonte: DW Brasil