Em sua primeira conferência de imprensa pouco depois de assumir o cargo, o novo ministro do Exterior da China, Qin Gang, lançou um alerta para os Estados Unidos, sugerindo que Washington reavalie sua atitude em relação a Pequim, ao mesmo tempo que defendeu a aproximação de seu país com Moscou.
Qin, que até a pouco atuava como embaixador de seu país em Washington, advertiu nesta terça-feira (07/04) que os EUA vêm tentando suprimir China, ao invés de promover uma competição justa e regrada entre os dois países.
“A percepção e as visões dos EUA sobre a China são gravemente distorcidas”, disse o ministro, que também é um dos assessores mais próximos ao presidente Xi Jinping. “Eles consideram a China seu principal rival e seu desafio geopolítico mais pertinente. É como se o primeiro botão da camisa estivesse abotoado na casa errada”, comentou.
As relações entre as duas superpotências vêm se tornando cada vez mais tensas nos últimos anos numa série de temas, como os desentendimentos em torno da província semiautônoma de Taiwan, questões de comércio internacional envolvendo também a competição na indústria de semicondutores e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia.
Em fevereiro, a situação se agravou após os EUA acusarem a China de enviar supostos balões de espionagem a seu espaço aéreo, e abaterem um desses objetos.
Washington argumenta que estaria tentando estabelecer “barreiras de proteção” para as relações bilaterais, e que não têm a intenção de entrar em conflito. Segundo Qin, na prática isso significa que, da perspectiva americana, a China não deve reagir com palavras ou ações quando for ofendida ou atacada.
“Isso é simplesmente impossível. Se os EUA não pisarem no freio e continuarem a acelerar no caminho errado, não haverá barreiras de proteção que possam evitar um descarrilhamento, o que trará conflitos e confrontações, Quem vai arcar com as consequências catastróficas?”, indagou o ministro.
Suas declarações mantiveram o tom utilizado por seu antecessor, Wang Yi, que assumiu a diretoria da Comissão para Assuntos Estrangeiros, o cargo mais alto da diplomacia chinesa.
Xi Jinping fez uma rara crítica direta aos EUA e ao Ocidente durante uma recente sessão do Congresso Nacional do Povo chinês: “Os países ocidentais, liderados pelos EUA, tentam conter, enquadrar e suprimir a China, o que gera desafios graves e sem precedentes ao desenvolvimento chinês”, afirmou o presidente, citado pela imprensa estatal.
Aproximação com a Rússia
Qin reiterou a proposta chinesa para negociações visando o fim da guerra na Ucrânia, ressaltando que a “mão invisível” que leva ao agravamento do conflito é usada para “servir a determinados interesses geopolíticos”, mas evitou entrar em maiores detalhes.
Ele defendeu um aprofundamento das relações de seu pais com a Rússia e a maior aproximação entre Xi Jinping e o presidente russo, Vladimir Putin, mas não confirmou especulações sobre uma possível visita do líder chinês a Moscou.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, Xi manteve diversas conversas com Putin, ao mesmo tempo em que ignorou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Para Kiev, essa postura compromete a posição alegada por Pequim, de neutralidade no conflito.
A China evita condenar a invasão ao território ucraniano, apesar das críticas do Ocidente ao fato de ela não apontar Moscou como o lado agressor no conflito. Em 2022, semanas antes da invasão russa da Ucrânia, Pequim e Moscou evocaram uma “parceria sem limites”. O governo chinês atribuiu a guerra à expansão da Otan no Leste Europeu, ecoando as declarações do Kremlin.
O governo chinês nega com veemência as acusações americanas de que estaria avaliando um possível envio de armamentos para Moscou.
Fonte: DW Brasil