Múcio vê provocação de Maduro em Essequibo e diz que pelo Brasil não passa

O ministro da Defesa, José Múcio, disse ver como “manobra política” as ameaças de invasão do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, à Guiana e não se mostrou preocupado com a possibilidade de confronto entre os vizinhos. Em almoço com jornalistas, ele foi incisivo: pelo Brasil, as Forças Armadas da Venezuela não passam.

Desde que venceu um plebiscito que reconheceu a região guianesa de Essequibo como pertencente à Venezuela, Maduro tem ameaçado o país vizinho de invasão para tomar uma área de 160 mil km², rica em petróleo e gás natural. O problema é que, dada as condições geográficas, o Exército venezuelano teria de atravessar por território brasileiro, em Roraima. Múcio descarta essa opção.

“Eles chegarão à Guiana passando — se passasse — por território brasileiro, o que nós não vamos permitir em hipótese nenhuma. […] Ele tem a chance de entrar pelo mar, lá pela frente, colocar uma bandeira falando que chegou ao território de Essequibo. Ele tem 127 mil homens, a Guiana tem 3.700. O embate não acontecerá –e o Brasil não vai se envolver em hipótese nenhuma, o presidente está com consciência disso.” disse José Múcio, ministro da Defesa.

Em conversa com jornalistas no comando da Marinha, em Brasília, Múcio seguiu o tom adotado pela diplomacia brasileira: ponderou que as fronteiras estão sendo reforçadas e que acredita na saída pelo diálogo.

O Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra, Marcois Sampaio Olsen, também comentou a situação envolvendo Venezuela e Guiana e disse que a maior preocupação atualmente é a possível participação de potencias extrarregionais.

“Um eventual conflito, a crise entre Venezuela e Guiana, preocupa a marinha por conta da (possível) participação de potencias extrarregionais”, disse, em almoço com jornalistas.

Segundo o comandante da Marinha, é preciso acompanhar com trabalho de inteligência a situação. “Não é confortável para nenhum estado ter qualquer tipo de incidente no seu entorno”.

O almirante Olsen disse ainda que um eventual conflito entre os países vizinhos geraria “no mínimo” uma nova onda de refugiados para o Brasil.

O governo brasileiro tem procurado evitar qualquer tipo de conflito, mas admite que o presidente Lula (PT) está em uma sinuca de bico. O petista tem desestimulado as ofensivas do aliado, incluindo um telefonema no último sábado, mas também não sabe o que fazer se Maduro seguir com a ideia e decidir, por fim, invadir o vizinho.

Múcio argumentou ainda que, além do Brasil, uma possível invasão envolveria outros agentes internacionais, o que, segundo ele, diminui as chances de Maduro seguir com o plano. “Isso não é só com o Brasil, não é? Isso é mexer com todo mundo”, lembrou, apontando para a cessão de extração de petróleo na região guianesa por empresas norte-americanas.

“Acho que há uma provocação internacional aí. Então, [estou] na esperança de que ele não vá comprar uma briga desse tamanho, porque seria uma insensatez”, completou Múcio.

Há a previsão de que Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, se reúnam em São Vicente e Granadinas, arquipélago do Caribe próximo aos dois países, na próxima quinta (14). Lula foi convidado, mas ainda não confirmou presença e deve mandar um representante do Itamaraty.

O território em litígio, de Essequibo, foi declarado guianês em um tratado de 1899. No início do mês, a Corte Internacional de Haia concordou com o argumento guianês e concedeu liminar contra o referendo de Maduro —o problema é que uma das cinco perguntas rejeitadas do plebiscito era se a Venezuela deve reconhecer a jurisdição do tribunal internacional.

 

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