Mais de duas toneladas de urânio sumiram na Líbia, diz AIEA

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou na quarta-feira (15/03) que cerca de 2,5 toneladas de urânio natural desapareceram na Líbia, gerando preocupações de segurança e proliferação nuclear.

O diretor da AIEA, Rafael Mariano Grossi, com sede em Viena, informou os estados-membros sobre o desaparecimento do urânio natural que se encontrava em território líbio. “Os inspetores da agência descobriram que dez barris contendo aproximadamente 2,5 toneladas de urânio natural não se encontram no local onde a Líbia dizia estarem “, destaca a nota.

O órgão da ONU disse que vai realizar inspeções “adicionais” e tomar medidas para “esclarecer as circunstâncias que levaram ao desaparecimento desse material e sua localização atual”.

Radioatividade baixa

Com radioatividade baixa, o urânio natural não pode ser imediatamente usado para produzir energia ou como combustível para bombas, uma vez que o processo de enriquecimento requer a transformação do metal em gás que depois é centrifugado para atingir os níveis necessários de energia para esses fins.

Porém, segundo especialistas, cada tonelada de urânio natural pode ser refinada gradualmente gerando 5,6 quilos do material usado em bombas. Por essa razão, encontrar o urânio desaparecido na Líbia é importante.

Além disso, apesar da baixa radioatividade, o documento confidencial da agência da ONU ao qual a agência de notícias AFP teve acesso diz que “essa perda de informação pode representar um risco radiológico” e “preocupações em termos de segurança nuclear”.

Onde está o urânio da Líbia?

Embora não tenha dado mais detalhes, o fato de a agência ter identificado que o material sumiu de um “local anteriormente declarado” restringe o raio das buscas. Além disso, a agência diz que o local não especificado “não está sob o controle do governo líbio” reconhecido pela ONU.

Um desses locais anteriormente declarados, por exemplo, é Sabha, a cerca de 660 quilômetros a sudeste da capital líbia, Tripoli, nas proximidades do Deserto do Saara, onde a vigilância é reduzida. O governo do ex-ditador Muammar Kadafi costumava armazenar milhares de barris do chamado urânio natural para integrar uma fábrica de conversão do metal planejada, mas que nunca saiu do papel, e que fazia parte de um programa secreto de armas nucleares que durou décadas.

Apesar de inspetores terem retirado as últimas unidades de urânio enriquecido da Líbia em 2009, o urânio natural ficou. Em 2013, as Nações Unidas estimaram que cerca de 6400 barris estavam estocados em Sabha.

A Líbia abandonou o seu programa de desenvolvimento de armas nucleares, criado em 2033 sob Ghadafi. Desde a sua queda e morte em 2011, após 42 anos de ditadura, o país mergulhou numa grave crise política. Forças rivais dividiram o país em leste e oeste e uma série de milícias e mercenários espalhados por todo o território, num contexto de interferência estrangeira.

Dois governos lutam pelo poder, um baseado em Tripoli (oeste) e reconhecido pela ONU, o outro apoiado pelo marechal Khalifa Haftar, o braço-de-ferro do leste da Líbia.

Fonte: DW Brasil

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