A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) concedeu neste domingo (17/09) o título de Patrimônio Mundial Cultural a três construções judaicas medievais localizadas no centro de Erfurt, na Alemanha. A decisão foi tomada durante o encontro da entidade em Riad, na Arábia Saudita.

Foram incluídos na lista de Patrimônio Mundial Cultural a Antiga Sinagoga, um local de rituais de banho chamado Mikveh, descoberto somente há 16 anos, e a Casa de Pedra, um histórico prédio residencial.

O edifício da Antiga Sinagoga, cuja construção remete a 1094, abriga atualmente um museu que exibe as evidências da vida judaica na Erfurt medieval, incluindo milhares de moedas e barras de prata, além de trabalhos de ourives em ouro e prata dos séculos 13 e 14.

A perseguição aos judeus durante um pogrom em 1349 fez com que a comunidade judaica em Erfurt fosse praticamente dizimada. A sinagoga foi, então, transformada em depósito e, mais tarde, usada como restaurante e salão de baile, motivo pelo qual teria sido poupada pelos nazistas da destruição, segundo pesquisadores.

Esse é a segunda vez que bens culturais judaicos na Alemanha recebem o título de Patrimônio Mundial da Unesco. O país europeu possui no total 52 sítios nesta lista da Unesco.

Em 2021, construções medievais judaicas em Mainz, Worms e Speyer, conhecidas SchUM – termo se refere a associação de comunidades judaicas na região do alto Reno na Idade Média – foram incluídos na lista da Unesco. Centros comunitários, monumentos e cemitérios fazem parte deste sítio e, bem preservados, são testemunhos das antigas tradições judaicas nessa região.

Na Turíngia, o castelo deWartburg, os edifícios Bauhaus em Weimar e o Parque Nacional Hainich também são Patrimônio Mundial da Unesco.

Legado contra o ódio e o preconceito

A embaixadora alemã na Unesco, Kerstin Püschel, disse que a proteção da entidade a esses locais é um passo importante para a valorização das raízes comuns do judaísmo e do cristianismo na Alemanha e em toda a Europa.

“É a coroação de anos de preparações meticulosas”, comemorou o prefeito de Erfurt, o social-democrata Andreas Bausewein. “Agora que Erfurt foi honrada com o título de Patrimônio Mundial, temos que cuidar e proteger esse tesouro como o que possuímos de mais precioso.” 

O governador da Turíngia, Bodo Ramelow, disse que o status dá novo impulso aos “esforços conjuntos da cidade e do estado para preservar esses locais históricos e compartilhar sua diversificada história com o público”. A premiação, segundo ele, serve como lembrança de “como é necessário rejeitarmos de maneira decisiva o ódio e a violência contra os judeus em qualquer época”. 

O bispo católico de Erfurt, Ulrich Neymeyr, disse que o novo status dos locais históricos na cidade implica na obrigação de combater o ódio aos judeus, lembrando que os monumentos servem com lembrança do auge da vida judaica na região, mas também da violência e rejeição que essa comunidades enfrentam ainda nos dias atuais.

“Os judeus ainda não conseguem viver em segurança na Alemanha, o que parece algo cada vez menos possível de se atingir. Isso é escandaloso. Agir contra isso e descobrir as raízes comuns que conectam judeus e não-judeus é uma obrigação que vem junto com o título de patrimônio mundial”, disse o clérigo.

Fonte: DW Brasil