O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, fez nessa quinta-feira (5) em Lisboa duras críticas aos países europeus sobre o acolhimento de refugiados.
Ao receber o Prêmio Universidade de Lisboa, atribuído em 2020 mas entregue apenas agora, Guterres elogiou Portugal como país exemplar na política de acolhimento aos refugiados.
“É verdade que a nossa localização periférica na Europa fez com que tivéssemos uma pressão menor de pedidos de asilo do que outros países europeus. Mas é também é verdade que outros países ainda mais periféricos do que nós, até recentemente em crises de refugiados, não tiveram a mesma generosidade e a mesma abertura”, criticou
Esses países, especialmente no Leste da Europa, considerou, redimiram-se na recente crise de refugiados decorrente da invasão russa da Ucrânia. O líder da ONU lembrou que o mesmo não ocorreu em passado recente, “em que refugiados da Síria se movimentaram pelos Balcãs de forma caótica, vendo portas atrás de portas fechadas”.
Guterres saudou a abertura, ao longo dos últimos meses, demonstrada em relação à crise na Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, deixou um aviso: “Não pode deixar de nos fazer refletir por que a Europa recebe os refugiados ucranianos e tantos países europeus foram tão reticentes em receber sírios e africanos”.
Segundo o ex-primeiro-ministro português, essa situação “causou e causa em muitos que vivem no chamado sul global certa frustração, Segundo ele, isso leva à dificuldade de exprimir a solidariedade que os europeus esperam quando a Europa enfrenta uma crise devastadora, com a invasão russa da Ucrânia e todas as consequências que teve na vida cotidiana, nos países europeus e de forma ainda mais dramática nos países do terceiro mundo”.
Luta climática
António Guterres disse que, além dos conflitos, há algo que não pode deixar de ser lembrado: “Estamos perdendo a luta contra as alterações climáticas. A possibilidade de mantermos um crescimento da temperatura global limitado a 1,5 (graus celsius) está à beira de se perder e irreversivelmente. Continua a haver, sobretudo em relação aos países grandes emissores, uma falta de consciência política indispensável para inverter a situação”, lamentou.
Ele defendeu a necessidade de uma justiça climática. Afirmou que “a verdade é que os países que mais sofrem os impactos dramáticos das alterações climáticas não são os que mais contribuem para essas alterações e nem os que têm mais recursos para responder às necessidades de reconstrução, reabilitação e apoio às populações”.
Por isso, aponta “enorme egoísmo dos países do Norte em recusar a aceitar as responsabilidades, inclusive as que assumiram no Acordo Paris, de solidariedade com os países do Sul”.
O prêmio Universidade de Lisboa, no valor de 25 mil euros, será doado por Guterres ao Conselho Português para os refugiados.
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