O gasto militar mundial cresceu pelo oitavo ano consecutivo em 2022, atingindo um recorde histórico de US$ 2.24 trilhões (mais ou menos R$ 11 trilhões), um salto de 3,7% em relação ao ano anterior. Impulsionado pela invasão russa à Ucrânia, o aumento mais acentuado foi registrado na Europa, cerca de 13% (ajustada pela inflação). É o que aponta o novo relatório anual do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), divulgado nesta segunda-feira (24)
Os Estados Unidos (39%), contudo, continuam liderando a lista, seguidos por China (13%) e Rússia (3,9%). Índia (3,6%) e Arábia Saudita (3,3%) completam a lista dos cinco países que mais investiram em Defesa. Juntos, eles representam 63% dos gastos globais em 2022.
“O aumento contínuo dos gastos militares globais nos últimos anos é um sinal de que estamos vivendo em um mundo cada vez mais inseguro”, afirma Nan Tian, ??Pesquisador Sênior do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do SIPRI. “Os Estados estão reforçando a força militar em resposta a um ambiente de segurança em deterioração”
Europa
Os gastos militares da Europa Central e Ocidental totalizaram US$ 345 bilhões em 2022. Em termos reais, os gastos desses estados pela primeira vez superaram os de 1989, quando a Guerra Fria estava terminando, e foram 30% maiores do que em 2013. Vários países aumentaram significativamente seus gastos militares após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, enquanto outros anunciaram planos para aumentar os níveis de gastos em até uma década.
Alguns dos aumentos mais acentuados foram observados na Finlândia (36%), Lituânia (27%), Suécia (12%) e Polónia (11%).
“Embora a invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022 certamente tenha afetado as decisões de gastos militares em 2022, as preocupações com a agressão russa vêm crescendo há muito mais tempo”, disse Lorenzo Scarazzato, pesquisador do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do SIPRI. ‘Muitos estados do antigo bloco oriental mais que dobraram seus gastos militares desde 2014, ano em que a Rússia anexou a Crimeia.’
Ucrânia e Rússia
Os gastos militares russos cresceram cerca de 9,2% em 2022. O país gastou o equivalente a US$ 86,4 bilhões. A Ucrânia, por outro lado, registrou um aumento de 640% nos gastos militares, o maior aumento anual de um país já registrado pelo Sipri desde que começou os registros, em 1949.
Segundo o instituto, os gastos de Kiev, em 2021, foram menos de um décimo dos gastos da Rússia, mas, em 2022, essa diferença diminuiu e o país gastou cerca de US$ 44,0 bilhões, quase metade do valor gasto pela Rússia. Com isso o gasto militar (como parcela do PIB) na Ucrânia disparou para 34% do PIB em 2022, de 3,2% em 2021.
Estados Unidos e China
Os Estados Unidos continuam sendo o país com o maior orçamento em Defesa, cerca de US$ 877 bilhões. Isso representa 39% dos gastos militares globais. Estima-se que a ajuda militar enviada pelo país à Ucrânia represente 2,3% desse total (US$ 19,9 bilhões).
Contudo, embora os gastos dos EUA em ajuda militar para Ucrânia em 2022 tenha sido 34 vezes maior do que em 2021, ainda assim foi muito inferior ao valor gasto pelo país na modernização e melhoria de suas próprias capacidades militares (ou seja, aquisição de armas, pesquisa e desenvolvimento militar), que totalizaram US$ 264 bilhões em 2022, ou 30% dos gastos militares. O restante foi usado para custear operação e manutenção (34%) e pessoal (19%)
A China, por outro lado, registrou a segunda menor taxa de crescimento anual de gastos militares desde 1995, 4,2% a mais que em 2021. A menor ocorreu em 2021, com um crescimento de 2,6% nos gastos. Apesar disso, o país continua sendo o segundo país que mais aloca dinheiro para Defesa, foram cerca de US$ 292 bilhões em 2022.
Brasil
Outro dado interessante do relatório são os gastos militares totais da América do Sul. Segundo o Sipri, houve uma queda de 6,1% em 2022, que deve-se principalmente a diminuição dos gastos militares brasileiros.
O Brasil, que até então era o país que mais alocava dinheiro para Defesa na região, gastou US$ 20,2 bilhões para as Forças Armadas em 2022, 7,9% a menos do que em 2021 e 14% a menos que em 2013.
“O presidente Jair Bolsonaro forjou laços estreitos com as forças armadas durante seu mandato (2019/22), mas isso não levou a um aumento do financiamento para os militares; em vez disso, os gastos militares diminuíram todos os anos durante o governo Bolsonaro, caindo em 16% no geral entre 2019 e 2022.”, afirma o relatório.
No ranking mundial, o Brasil passou da 16ª posição em 2021 para 17º lugar em 2022.
Inflação
O aumento em termos reais dos gastos militares globais em 2022 foi contido pelo efeitos da inflação, que em muitos países disparou para níveis não vistos em décadas. Em termos nominais (isto é, a preços correntes sem ajuste pela inflação), o total mundial aumentou 6,5%.
Fonte: SBT News