Falta de munição ameaça tropas russas em Bakhmut

O líder do grupo Wagner– organização paramilitar privada com fortes ligações com o Kremlin – voltou a criticar as autoridades de defesa da Rússia e alertou que as posições de suas tropas em torno da cidade ucraniana de Bakhmut estarão sob risco, caso não recebam novos carregamentos de munição.

Nas últimas semanas, Bakhmut se tornou palco de violentos confrontos, cpm as forças russas realizando uma forte ofensiva para tentar tomar a cidade considerada de grande importância estratégica. O exército ucraniano vem conseguindo resistir às investidas, apesar de estar em desvantagem.

O chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, lembrou que Moscou prometera em fevereiro enviar munição a suas tropas na região: “Por ora, tentamos compreender o motivo [do atraso no envio de munição]. Seria somente devido à burocracia comum ou a uma traição?”, escreveu neste domingo (05/03), no serviço de imprensa do Wagner no Telegram.

Prigozhin vem criticando com frequência as autoridades da Defesa russa e os generais do Alto Comando. Em fevereiro já acusara o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e outros comandantes militares de “traição” em razão da demora no envio de munição às frentes de batalha em Bakhmut.

No último sábado, num vídeo postado no Telegram, Prigozhin disse que seus soldados estariam preocupados com a possibilidade de se tornarem “bodes expiatórios”, caso a Rússia venha a perder a guerra na Ucrânia.

“Se o Wagner retroceder agora de Bakhmut, todo o front entrará em colapso”, advertiu. “A situação não será nada fácil para todas as formações militares que protegem os interesses russos.”

Ucranianos relatam situação “infernal”

O Exército ucraniano e analistas relataram que a 155ª brigada russa em Vuhledar, ao sul de Bakhmut, estaria resistindo a ordens de atacar, depois de sofrer numerosas perdas na tentativa de capturar a cidade.

“Os líderes da brigada e os oficiais se recusam a proceder com um ataque sem sentido, como vem sendo exigido por seus inábeis comandantes, para avançar com pouca ou nenhuma preparação ou proteção contra posições ucranianas bem defendidas”, afirmou em nota o comando militar ucraniano.

Segundo o instituto Study of War, com sede dos Estados Unidos, Kiev teria iniciado uma retirada estratégica da cidade sitiada. “As forças ucranianas estão provavelmente realizando uma retirada limitada e tática em Bakhmut, apesar de ainda ser cedo para avaliar as intenções ucranianas quanto a uma retirada total da cidade.”

Segundo a entidade, a defesa de Bakhmut ainda estaria sólida, com as forças ucranianas infligindo grande número de baixas às tropas russas: “É improvável que as forças russas assegurem ganhos territoriais rápidos com combates em áreas urbanas, o que normalmente favorece as forças de defesa e pode resultar num grande número de baixas, em meio aos avanços das unidades russas, mesmo que os ucranianos estejam ativamente em retirada.”

O comandante ucraniano em Bakhmut, Volodimir Nazarenko, no entanto, afirmou não ter ordens para recuar, e que as linhas de defesa estão sendo mantidas, ainda que em condições difíceis.

“A situação em Bakhmut e nos arredores é bastante infernal, assim como em toda a frente de batalha do leste”, afirmou em vídeo postado no Telegram. Nesta segunda-feira, o Exército ucraniano informou ter repelido 95 ataques na região desde a véspera.

“Importância simbólica”

Uma vitória russa em Bakhmut seria o primeiro êxito de maior relevância para as tropas russas desde o início de sua ofensiva de inverno em 2022, quando o governo convocou centenas de milhares de reservistas.

Moscou acredita que a cidade de 70 mil habitantes seria uma etapa inicial para completar a conquista da região industrial do Donbass, um dos principais objetivos de sua invasão do país vizinho. 

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, declarou nesta segunda-feira, em visita a Jordânia, que a importância da conquista de Bakhmut para os russos seria antes de caráter mais simbólico do que estratégico ou operacional, não significando necessariamente uma virada na guerra a favor da Rússia.

Ministro russo da Defesa em Mariupol

O ministro Sergei Shoigu, em visita ao território ucraniano sob domínio das tropas russas, esteve na cidade portuária de Mariupol, quase totalmente destruída pelos intensos bombardeios russos em 2022.

Shoigu, uma das principais autoridades russas a visitarem o leste da Ucrânia desde o início da guerra, esteve na região para “inspecionar o trabalho realizado pelo Ministério da Defesa para restaurar a infraestrutura no Donbass”, afirmou o órgão, em nota.

Mariupol foi alvo de uma campanha brutal no início da invasão russa, há pouco mais de um ano, que arrasou a cidade e destruiu o complexo siderúrgico de Azovstal, o último bastião de resistência das forças ucranianas na região.

Fonte: DW Brasil

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