Após uma campanha marcada por violência e assassinato de um presidente, o eleitorado do Equador levou neste domingo (20) o pleito presidencial ao segundo turno, reeditando pela terceira vez consecutiva uma disputa entre esquerda e direita.
A nova rodada será disputada por dois ex-deputados: Luisa González, de esquerda e apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, e o empresário liberal Daniel Noboa, filho de um bilionário do setor bananeiro que disputou sem sucesso cinco eleições presidenciais.
Com mais de 90% das urnas apuradas, González obteve 33% de apoio. Já Noboa surpreendeu no segundo lugar, com 24% dos votos – uma porcentagem que não havia sido detectada em pesquisas na última semana.
Já a chapa de Fernando Villavicencio, candidato assassinado durante um comício eleitoral em 9 de agosto, ficou com cerca de 16,5% dos votos. Villavicencio havia sido substituído pelo jornalista Christian Zurita, mas seu nome ainda constava nas cédulas, impressas antes do crime.
Em quarto lugar ficou o empresário do setor de segurança Jan Topić, que havia tentado se projetar como um “Nayib Bukele equatoriano”, em referência ao presidente El Salvador, que prendeu dezenas de milhares em seu país. Topić recebeu 14,6% dos votos.
O ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner, o político e empresário Xavier Hervas, o independente Bolívar Armijos, o ambientalista Yaku Pérez ficaram abaixo da marca de 7%.
Apesar do clima de tensão que se abateu sobre o Equador, o primeiro giro transcorreu sem incidentes persistentes .
Nas últimas semanas, o país sul-americano de 18 milhões de habitantes, que enfrenta uma tripla crise – política, econômica e de segurança pública – ficou em choque com o assassinato do presidente Fernando Villavicencio em 9 de agosto, após um comício na capital, Quito. Pouco menos de duas semanas antes, o prefeito da cidade de Manta, Agustín Intriago, já havia sido assassinado. Finalmente, em 14 de agosto, foi a vez de Pedro Briones, um dirigente do partido do ex-presidente Rafael Correa, ser vítima de assassinato.
No momento, o país está sob estado de exceção decretado pelo governo, mas as eleições foram mantidas. O segundo turno está marcado para 15 de outubro.
O vencedor do segundo turno deve governar até 2025, para completar o restante do mandato do atual presidente Guillermo Lasso, que convocou a eleição antecipada em maio para evitar um possível impeachment.
Luísa González
Durante a campanha, a advogada e ex-deputada Luisa Gonzalez, de 45 anos, prometeu restaurar os programas sociais implementados pelo seu padrinho político Rafael Correa, que governou o Equador entre 2007 e 2017. Ela diz que um eventual governo seu vai “recuperar a pátria”.
Em sua campanha, González prometeu liberar 2,5 bilhões de dólares das reservas internacionais para fortalecer a economia do Equador e trazer de volta iniciativas sociais implementadas por Correa.
Por outro lado, ela diz que não pretende conceder um perdão judicial para Correa, condenado por corrupção e atualmente em exílio na Bélgica.
Daniel Noboa
Do outro lado está o ex-deputado Daniel Noboa, de 35 anos. Formado em universidades dos Estados Unidos, ele surpreendeu ao conseguir se projetar como principal nome do crítico eleitorado a Rafael Correa. Ele concentrou as promessas de sua campanha na criação de empregos, incentivos fiscais para novos negócios e combate à corrupção.
Noboa é filho de Álvaro Noboa, um dos empresários mais ricos do país, que controla mais de cem empresas e é membro de uma dinastia do setor bananeiro. Álvaro Noboa disputou cinco vezes sem sucesso a presidência do Equador entre 1998 e 2013. Em 2006, ele perdeu no segundo turno para Rafael Correa. Agora, mais de 15 anos depois, é seu filho que vai disputar o segundo turno com uma herdeira do “correísmo”.
Fonte: DW Brasil