Os ministros do Exterior dos países-membros da União Europeia (UE) viajaram juntos a Kiev nesta segunda-feira (02) em uma visita não anunciada.

O gesto dos diplomatas europeus visa eliminar preocupações em torno de uma suposta falta de consenso entre Estados-membros no que diz respeito ao apoio de longo prazo à Ucrânia em sua luta contra a invasão russa.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que, apesar de simbólico, o encontro informal entre os diplomatas europeus e ucranianos demonstra o “claro cometimento” do bloco europeu para com a Ucrânia, na guerra que já dura 19 meses.

“A UE permanece unida em seu apoio à Ucrânia. Não vejo nenhum Estado-membro se desfazendo de seu envolvimento”, disse Borrell em conferência de imprensa na capital ucraniana. A visita dos ministros, segundo afirmou, “envia um forte sinal para a Rússia: não tememos seus mísseis ou drones”.

Borrell destacou que esta foi a primeira reunião dos ministros do Exterior da UE fora do território do bloco, além de ser a primeira em uma zona de guerra.

Eslováquia gera novo desafio à UE

O encontro ocorreu após a vitória do ex-premiê Robert Fico nas eleições na Eslováquia no último fim de semana. A postura pró-Rússia do líder eslovaco gerou questionamentos sobre a solidez do apoio de Bruxelas a Kiev.

O pequeno país do Leste Europeu – que também é Estado-membro da UE – tem potencial para criar novas tensões nos debates sobre o apoio à Ucrânia dentro da Europa, como já vem ocorrendo com a Hungria. Budapeste mantém relações próximas com Moscou e já se manifestou contra o envio de armas e de ajuda financeira a Kiev.

A Eslováquia administra uma ferrovia utilizada para o transporte de equipamentos militares para a Ucrânia, o que gera novas preocupações aos aliados ocidentais.

Borrell, porém, garantiu que a UE está comprometida com um apoio longevo à Ucrânia. Ele relacionou uma série de compromissos já assumidos pelo bloco e disse que espera concretizar o envio de 5 bilhoes de euros em ajuda militar em 2024.

O chefe da diplomacia da UE disse ainda que cerca de 40 mil soldados ucranianos devem receber treinamento em países europeus e destacou a possibilidade de um consórcio entre as indústrias de defesa europeias e ucranianas.

Outros compromissos assumidos pela UE dizem respeito à defensa cibernética, retirada de minas terrestres visando a recuperação da Ucrânia no pós-guerra e uma reforma da lei de combate à corrupção.

Adesão ucraniana à UE

Borrell, no entanto, disse que o compromisso de segurança mais forte junto à Ucrânia é viabilizar a entrada do país no bloco europeu. Apesar dos interesses de Kiev e Bruxelas na conclusão desse processo, isso ainda poderá levar anos, tendo em vista que não há perspectivas quanto ao fim da guerra.

“Cada vilarejo, cada metro que a Ucrânia liberte, cada metro nos quais pessoas sejam resgatadas pavimentam o caminho para a União Europeia”, disse a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, em Kiev.

“As partes ucraniana e europeia estão determinadas a avançarem com velocidade máxima, levando em conta todas as reformas que a Ucrânia realizou, as que cumpre atualmente as que continuará a implementar”, concordou o ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba.

O diplomata ucraniano disse também que seu país está em contato com os congressistas dos Estados Unidos para assegurar a continuidade da ajuda americana.

O apoio dos EUA à Ucrânia esteve ameaçado por uma possível paralisação do governo, mas a Casa Branca e o Congresso aprovaram de última hora um acordo que prorrogou provisoriamente o financiamento do governo americano, que inclui as verbas destinadas a Kiev.

Zelenski pede reforço das sanções

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pediu no encontro com os ministros sanções ainda mais rígidas da UE contra Moscou. Ele disse que os pesados bombardeios russos ao país são prova de que as medidas adotadas pela Europa não têm sido suficientes.

Quaisquer negócios que permitam que a Rússia aumente sua produção de armamentos deve ser encerrado, exigiu Zelenski. “Isso é claramente não apenas no interesse da Ucrânia, mas também de todos ao redor do mundo que querem o fim da guerra tão logo quanto possível”, disse o ucraniano aos europeus.

Fonte: DW Brasil

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