Em uma votação histórica, o republicano Kevin McCarthy foi destituído do posto de presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos nesta terça-feira (03), após um pedido apresentado por integrantes do seu próprio partido.

É a primeira vez na história dos EUA que a Câmara decide pela remoção do seu líder. Também foi a primeira vez desde 1910 que um pedido do tipo foi votado. 

O placar final foi de 216 votos “sim” pela destituição, sendo oito de deputados republicanos, contra 210 votos “não”. McCarthy ocupava o cargo desde 7 de janeiro deste ano. A Casa agora está sem presidente. Um interino, o deputado republicano Patrick McHenry, vai assumir o posto até uma nova eleição – até lá, todos os trabalhos da Casa devem ser paralisados. O processo não deve ser simples. Em janeiro, a eleição de McCarthy já havia se estendido por inéditas 15 sessões – marcando a votação mais longa para o cargo em mais de 160 anos.

Para obter o cargo de presidente da Câmara em janeiro, McCarthy já havia sido obrigado a fazer concessões ao bloco extremista do partido, incluindo uma mudança que acabou permitindo que membros pudessem apresentar uma “moção de vacância”.

No final, foi justamente a insatisfação dessa ala republicana extremista que se provou fatal para McCarthy. Seu período na liderança da Casa já vinha sendo tumultuado, mas no último sábado ele desencadeou nova insatisfação entre os membros ultraconservadores do Partido Republicano ao aprovar uma medida bipartidária provisória de financiamento apoiada pela Casa Branca para evitar uma paralisia do governo.

Essa medida frustrou especialmente o deputado Matt Gaetz, um antigo antagonista de McCarthy que, em retaliação, apresentou na segunda-feira uma “moção para deixar vacante a presidência”, forçando a votação decisiva desta terça.

McCarthy ainda contou com o apoio da maioria dos deputados republicanos, mas as dissidências de oito radicais acabaram sendo decisivas. Além de ter despertado a fúria dos ultraconservadores, ele também não encontrou simpatia entre os democratas, que votaram em peso pela sua destituição. Na liderança da Casa, McCarthy pediu recentemente a abertura de uma investigação de impeachment contra o presidente democrata Joe Biden. 

Com potencialmente todos os 212 deputados democratas dispostos a votar contra McCarthy, a única chance do presidente da Câmara para se manter no cargo era assegurar quase todos os 221 votos republicanos. No entanto, os oito votos “sim” pela destituição dentro das fileiras republicanas acabaram selando seu destino. O movimento foi articulado por Matt Gaetz, representante do Estado da Flórida e uma figura proeminente dentro do pequeno grupo de legisladores republicanos de extrema direita que levou o governo dos EUA à beira da paralisação com sua recusa em aprovar um novo financiamento federal sem cortes profundos nos gastos.

Esse bloco também se opõe ao envio de ajuda adicional à Ucrânia na sua defesa contra a agressão da Rússia, alegando que o dinheiro seria melhor utilizado nos EUA na luta contra a imigração ilegal.

Os legisladores republicanos mais conservadores têm um poder de veto de fato sobre a aprovação de leis na Câmara, dada a magra vitória do partido nas eleições de meio de mandato em novembro passado.

Fonte: DW Brasil