“Conseguimos, de verdade!”, exclamou o líder da oposição de centro-direita da Polônia, Donald Tusk, após o fechamento das urnas na noite de domingo (15/10): “O mau tempo passou, o governo do PiS acabou”, declarou.
Logo após a divulgação da boca de urna na Polônia, Tusk, que lidera o partido Plataforma Cívica (PO), estava confiante na vitória: “A democracia e a liberdade venceram. Nós expulsamos [o PiS] do poder.” Visivelmente emocionado, acrescentou: “Sou a pessoa mais feliz do mundo!”
A projeção foi confirmada na manhã desta segunda-feira, de acordo com números do instituto de pesquisas Ipsos. Conforme os dados, o Partido Lei e Justiça (PiS), de Jaroslaw Kaczynski, no governo há oito anos, obteve 36,6% dos votos. Com isso, segue sendo a maior força política da Polônia, mas sem maioria absoluta. Quatro anos atrás, o PiS havia conquistado 43,6% dos votos e 235 mandatos.
A coalizão centrista KO, liderada por Tusk, que, além do PO, inclui os verdes e outro partido menor, obteve 31%. Seus potenciais parceiros – a democrata-cristã Terceira Via e a Nova Esquerda – obtiveram 13,5% e 8,6%, respectivamente.
Isso daria aos três partidos, que já haviam feito campanha por um governo conjunto, uma maioria de 248 assentos na câmara baixa do parlamento (Sejm), que tem 460 assentos, tirando o PiS do poder. O resultado oficial deve ser confirmado nos próximos dias.
De acordo com esse cálculo, o PiS teria apenas 198 lugares. Seu único parceiro possível de coalizão, a Confederação da Liberdade e Independência, de ultradireita, obteve 6,4% dos votos e terá 14 assentos. Com um programa econômico liberal e slogans anti-Ucrânia, ele buscava votos mais à direita do espectro: “Sofremos uma derrota. Queríamos virar o jogo, mas não conseguimos”, admitiu um de seus principais políticos, Slawomir Mentzen, após fechadas as urnas.
Kaczynski quer seguir governando
Apesar dos números desfavoráveis, Kaczynski não parece pronto para jogar a toalha. Na noite da eleição em Varsóvia, o político de 74 anos se mostrava combativo, descrevendo o resultado da eleição como um “grande sucesso” para seu partido. Foi “a quarta vitória do PiS numa eleição parlamentar”, enfatizou o nacionalista de direita.
“Não permitiremos que a Polônia seja traída, que perca o que há de mais precioso na história da nação: o direito de decidir seu próprio destino”, disse a seus partidários, acrescentando uma observação que a oposição interpretou como ameaça: “Temos dias de luta e tensão pela frente.”
Líder do PO e candidato natural à chefia de governo, Tusk não se intimidou com tais comentários e anunciou para breve as negociações para formar um governo de coalizão “assim que os resultados das eleições forem confirmados”.
Aos 66 anos, ele já foi primeiro-ministro de 2007 a 2014, e tem bons motivos para se orgulhar de seus mandatos. O bom resultado eleitoral do PO é, acima de tudo, um sucesso pessoal. Em 2022, tendo retornado de Bruxelas, onde liderou o Partido Popular Europeu (EPP), ele reorganizou o PO, que estava em profunda crise, e começou uma campanha eleitoral intensa, em que teve que enfrentar a brutal agitação do PiS, que o difamou como “colaborador alemão” e “teleguiado por Berlim e Bruxelas”.
Bola está com o presidente
Todos os olhos estão agora voltados para o presidente polonês, Andrzej Duda, que deve convocar a primeira sessão do novo parlamento dentro de 30 dias e depois terá duas semanas para designar o político que formará o governo. Este precisa, então, obter a aprovação parlamentar para seu gabinete, dentro de mais 14 dias.
Se ele não obtiver o voto de confiança, a iniciativa passa para o parlamento, que pode eleger um candidato a primeiro-ministro com maioria, num processo que pode se arrastar até o final do ano. Em sua primeira aparição após a eleição, Duda manteve a discrição: “Estamos aguardando calmamente os resultados.”
Vários políticos da oposição pediram ao presidente que conceda o mandato para os três partidos oposicionistas governarem juntos. Mas Duda se sente ligado ao PiS, partido que o indicou para a eleição presidencial em 2015, e nos últimos anos tem apoiado abertamente as políticas de Kaczynski. Seu veto pode dificultar a vida do novo governo. A próxima eleição presidencial só se realiza em 2025.
Um futuro governo de coalizão liderado pelo PO deverá enfrentar uma oposição forte. Tusk anunciou durante a campanha que a primeira coisa que pretende fazer é retomar a imprensa de direito público, que o PiS degradou a ferramenta de propaganda governamental. Ele também quer que quem violou o Estado de direito responda pelos próprios atos. Esperam-se intensos conflitos com os populistas conservadores.
Reaproximação com União Europeia
Para a oposição, a reorientação no relacionamento com a União Europeia (UE) como uma tarefa importante: “O objetivo do governo será restaurar o Estado de direito para que o dinheiro congelado do fundo de reconstrução da UE possa finalmente chegar à Polônia”, frisa Piotr Buras, do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).
“Sob o comando de Tusk, o governo polonês vai se tornar um protagonista construtivo na UE, melhorando as relações com os principais parceiros e restaurando a confiança na postura pró-europeia da Polônia”, declarou o cientista político.
“A Polônia está retornando ao caminho europeu”, reforçou Rafał Trzaskowski, prefeito de Varsóvia e confidente próximo de Tusk. A eleição despertou grande interesse na Polônia, com um comparecimento de 72,9%, um recorde histórico desde a mudança democrática, há 34 anos. Em junho de 1989, quando os poloneses decidiram abolir o regime comunista, 62,7% dos eleitores aptos a votar foram às urnas.
Do lado de fora de várias seções eleitorais nas grandes cidades, muitos ainda estavam esperando para votar depois da meia-noite. Os moradores locais ofereciam sanduíches, pizza e café. A comissão eleitoral estadual garantiu que qualquer um que estivesse na fila até as 21 horas teria permissão para votar. Algumas seções eleitorais em Cracóvia e Wrocław permaneceram ativas até o início da manhã.
“Foi uma celebração da democracia. O PiS teve que se dar conta de que nem tudo pode ser comprado com dinheiro”, comentou o sociólogo Jerzy Flis. Ele destacou a enorme mobilização de jovens eleitores, entre 18 e 29 anos, que contribuíram significativamente para a vitória da oposição.
Fonte: DW Brasil
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