O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistou sua primeira prefeitura no país europeu neste domingo (02/07). O deputado estadual Hannes Loth será o novo prefeito da pequena cidade de Raguhn-Jeßnitz, no estado da Saxônia-Anhalt, no leste do país, região que é o principal reduto eleitoral da sigla.
Loth, de 42 anos, recebeu 51,13% dos votos no segundo turno do pleito na cidade, que tem pouco menos de 9.000 habitantes. Seu rival, o independente Nils Naumann, de 31 anos, conquistou 48,87%, segundo resultados preliminares. A participação eleitoral na cidade foi de 61,51%, segundo dados oficiais.
Membro da AfD desde 2013 – ano de fundação da legenda -, o agrônomo Loth é deputado estadual na Saxônia-Anhalt desde 2016. Membros da AfD já ocuparam posições de prefeitos voluntários ou em tempo parcial em cidades menores, mas esta é a primeira vez que um membro é eleito para assumir um posto em tempo integral.
Em 2019, a AfD parecia caminhar para conquistar a prefeitura de Görlitz, na Saxônia, mas uma “frente ampla” que uniu conservadores e partidos de esquerda acabou freando o candidato da sigla no segundo turno, num episódio que ganhou amplo destaque na imprensa.
Neste domingo, Loth agradeceu a seus apoiadores pelo “maravilhoso resultado”. “Serei prefeito de todos em Raguhn-Jeßnitz”, escreveu ele em suas redes sociais.
Essa é a segunda vitória eleitoral da AfD em uma semana. No último domingo, Robert Sesselmann, se tornou o primeiro membro da legenda a conquistar um posto de administrador distrital, em Sonneberg, no estado da Turíngia, também no leste alemão, derrotando um candidato conservador da tradicional União Democrata Cristã (CDU).
Avanço da AfD no leste
Embora o distrito Sonneberg tenha apenas 56 mil habitantes, a vitória no último domingo foi encarada na Alemanha como um termômetro para o avanço da AfD entre parte do eleitorado alemão. Um levantamento divulgado na sexta-feira, apontou que a legenda tem até 19% da preferência do eleitorado nacional, aparecendo à frente da sigla do chanceler federal Olaf Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD) que apareceu com 18%. No levantamento, a AfD ficou apenas atrás da CDU, que somou 28%. No ano que vem, a Alemanha será palco de três eleições estaduais – todas no leste do país – e a AfD já registra um avanço entre o eleitorado desses lugares.
Na Turíngia, o partido aparece desbancando A Esquerda – sigla em parte formada por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental – na preferência do eleitorado. Em um levantamento divulgado em abril, a AfD registrou 28% da preferência local, contra 22% do A Esquerda, que havia ficado à frente na última eleição, em 2019.
Na Saxônia, uma pesquisa divulgada no final de maio também mostrou a AfD no topo, com 32%, à frente dos conservadores da CDU, que registraram 31%. Já em Brandemburgo, o partido apareceu tecnicamente empatado com a CDU num levantamento em abril, com 23%, e à frente do SPD, que registrou 22%. No pleito de 2019, o SPD havia ficado na primeira posição, com 26,2%.
Eventuais triunfos eleitorais da AfD nesses três estados orientais podem levar a dificuldades de governabilidade, com outros partidos tradicionais sendo obrigados a costurar coalizões complexas para tentar barrar a influência da ultradireita nos parlamentos estaduais.
Neste domingo, o chanceler federal Olaf Scholz, em entrevista à rede ARD, comentou sobre os ganhos eleitorais da AfD. Ele defendeu que a receita para contrapor o avanço da ultradireita é oferecer “uma perspectiva de futuro” e pediu que os partidos tradicionais mantenham um cordão sanitário e evitem cooperar com a sigla AfD no legislativo.
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência mais liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam na imprensa por falas incendiárias ou racistas, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas e já teve uma de suas alas colocada sob vigilância policial por suspeita de extremismo.
A AfD é especialmente forte nos estados do leste, que compunham a antiga Alemanha Oriental comunista. No último ano, políticos da sigla que têm seus redutos nessa área adotaram posições pró-Rússia, anti-sanções e contra ajuda militar ocidental à Ucrânia. O partido também tem conexões com a extrema-direita mundial. Em 2021, uma de suas deputadas, Beatrix von Storch, foi recebida pelo então presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Fonte: DW Brasil
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