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Maternidade atípica: laços com os filhos superam preconceitos e invisibilidade

Mães atípicas lidam diariamente com desafios na maternidade que, muitas vezes, são deixados de lado pelas autoridades.

Desde cedo, o amor entre mães e filhos é parte quase inseparável da formação pessoal de qualquer um. Este laço garante que cada criança possa ter um processo de desenvolvimento social, físico e psicológico com maior suporte no enfrentamento às dificuldades que são naturais do crescer.

Ao longo da história, porém, a maior parte das sociedades se organizou de tal modo que muitos filhos e mães não fossem contemplados na plenitude de seus direitos. É o caso de pessoas com deficiências, transtornos, síndromes e outras condições físicas e psicológicas que diferem daquilo que é tido como o “normal”.

Estas pessoas, vistas como atípicas, muitas vezes encontram no amor materno uma forma de buscar a emancipação diante de um mundo onde o diferente é motivo de isolamento e preconceito. João Augusto, de 4 anos, é uma dessas pessoas.

Ocorre que João, ao nascer, foi diagnosticado com síndrome de Down, causada por uma alteração genética que afeta o desenvolvimento intelectual e as capacidades cognitivas, além de gerar comorbidades que exigem tratamentos e tornam a pessoa mais suscetível a desenvolver problemas de saúde. Felizmente, ele recebe o carinho e o suporte constantes da mamãe, a engenheira de produção Fernanda, de 31 anos. O caso do filho foi uma novidade para ela.

“Eu não tinha contato com nenhuma pessoa com Down. Inicialmente para mim foi normal, acredito que tive uma boa aceitação, mas com passar dos meses foi caindo a ficha de que não seria algo tão fácil como eu imaginava. O João com a síndrome de Down também veio com outros inúmeros diagnósticos”, explica.

Visões preconceituosas

As dificuldades não se limitam à saúde. Assim como boa parte das mães de pessoas atípicas, Fernanda passou a lidar com olhares negativos, inclusive dentro da própria família, ainda que morando longe dos parentes.

“No início as pessoas tratavam ele (João) como se fosse um peso, tratavam ele como um fardo. Meu ciclo de amizades diminuiu muito, acho que toda mãe passa por isso, atípica ou não”, relata a engenheira.

Apesar da diminuição dos círculos sociais, Fernanda não permitiu que isso a desmotivasse. Essa situação, na verdade, serviu de inspiração para que ela própria buscasse outras pessoas que pudessem a compreender e somar na trajetória de enfrentamento dos preconceitos:

“Com o nascimento do João também surgiram novas pessoas, a gente conhece novas famílias e mães com o mesmo propósito. Eu criei um grupo de apoio de mães de crianças com síndrome de Down e hoje tem muita gente ao nosso redor.”

Políticas de inclusão

O avanço de campos científicos, sobretudo da saúde e do comportamento, permitiu que certas barreiras começassem a ser superadas. A psicologia, por exemplo, desempenha um papel crucial para a melhor compreensão das pessoas com síndrome de Down, e outras neuroatipicidades.

É o que destaca o posicionamento de Nilma Ferreira, psicóloga e professora universitária. Ela ressalta que a inclusão deve ser alcançada com medidas que não se limitem a campanhas de conscientização, mas também com uma participação efetiva dos governantes.

“Existem essas pessoas que vêm com condições atípicas, diferenciadas, então nós não podemos ser vistos como numa perspectiva homogeneizadora. O Estado deve ser um promotor de políticas públicas que visam a inclusão de todas as pessoas. Então as políticas públicas de educação, saúde, segurança e lazer devem ser parte de um Estado inclusivo, que vise uma sociedade inclusiva”, afirma.

O relato da psicóloga contrasta com a realidade vivida por Fernanda. A mãe do João Augusto revela que a principal dificuldade vivida na criação do menino é justamente a falta do apoio estatal. Ela afirma que não são oferecidos recursos importantes na rede púbica de saúde. Por esse motivo, o filho precisa fazer tratamentos particulares em Brasília, ainda que morem em São Luís.

Nilma explica, ainda, como é necessário que neurodivergências não sejam vistas como questões vividas apenas por crianças. Cada faixa etária encontra desafios específicos que merecem atenção adequada no debate público.

“As crianças crescem, então não é porque a pessoa tem uma síndrome, um transtorno do neurodesenvolvimento, que vá se tratar todos como retidos dentro do mundo da infância. A psicologia é mais um serviço na área da saúde, da educação social, que deve estar voltado para a inclusão da pessoa com deficiência, da pessoa neurodivergente, de acordo com a sua faixa etária, assim como dando suporte emocional para as famílias”, diz a psicóloga.

Mamães guerreiras?

Muitas vezes, tentativas de apoio às mães atípicas acabam reforçando alguns estigmas. O rótulo de “guerreiras” é bastante frequente em tentativas de encorajar as mulheres, mas muitas rejeitam essa definição, como explica Fernanda.

“Não gosto do termo, acho que esse título me descreve como alguém cansada, que luta, que está em constante batalha, e não levo a minha vida dessa maneira. Eu hoje tenho clareza do que é a vida e como ela pode ser leve e gratificante”, afirma Fernanda.

Essa leveza e gratidão são sentimentos que levam Fernanda adiante na missão da maternidade e também nos objetivos vida pessoal, é claro. Ela não abre mão de sua autonomia. Por isso mesmo, inclusive, cursa atualmente uma segunda graduação em enfermagem.

O ambiente familiar acaba funcionando como um motivador a mais para a mamãe. E esse sentimento é passado para os garotos. Ela descreve como “um amor sem igual” a relação entre Kaique Augusto, de 8 anos, e o irmão caçula João. Certamente, dois grandes orgulhos para Fernanda.

“Vejo meus filhos crescendo e evoluindo cada um no seu tempo e isso para mim é o que realmente faz sentido. Deus me deu meus filhos e eles são minha maior inspiração para tudo que busco hoje.”

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