Terreiro de Mina é alvo de ataque em Paço do Lumiar

Maria do Carmo, de 63 anos, é uma das integrantes do Terreiro de Mina “Boa Fé”, que foi palco de um ato racista religioso na sexta-feira (26). Ela contou ao Difusora News que todos se sentiram acuados e indignados com a atitude tomada por um pastor de uma igreja evangélica. O caso ganhou repercussão nesta segunda (29), e provocou reações nas redes sociais.

Segundo Maria, além de casa de axé, o terreiro serve como sede do “Cacuriá Rosa Cigana”, onde vários brincantes estavam ensaiando na sexta-feira (26). Ao saírem do ensaio, o grupo foi abordado por um pastor evangélico e alguns seguidores.

“Eles depreciaram a imagem do terreiro, usaram falas ofensivas. A postura do pastor só mudou quando começamos a filmar, e ele parou de ofender para pregar o evangelho”, explicou Maria, que auxilia nas funções do terreiro há mais de 35 anos como cambone.

Maria relata que não é a primeira vez que algo semelhante acontece, já que em 2022 um pastor teria interrompido uma das reuniões, pedindo que parasse o toque do tambor para que ele pregasse aos filhos de santo. Na ocasião, mesmo com os pedidos para que se acalmasse, o homem insistia em interromper o trabalho realizado pelos membros do terreiro, sendo retirado do lugar de forma não-violenta.

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Para a servidora da divisão de igualdade Étnico e Racial de Paço do Lumiar, Ethinalia Soares, o caso deve ser interpretado para além da intolerância, sendo visto como racismo religioso.

“Embora não haja diferença prática entre racismo religioso e intolerância religiosa, ver como racismo nos lembra da natureza do problema. Não queremos ser tolerados, queremos ser respeitados”, desabafou a servidora, que também atua como Mãe de Santo.

O presidente da Federação De Umbanda no Maranhão, Pai Biné Gomes, informou que o primeiro boletim de ocorrência (B.O) declarando o crime de racismo religioso contra o terreiro Boa Fé já foi registrado. Pai Biné declarou, ainda, que na próxima terça-feira (30), os membros do terreiro, em conjunto com representantes de religiões de matriz africana, irão registrar um segundo boletim na delegacia de Direitos Raciais.

“Rezamos todos os dias para sermos livrados da intolerância religiosa, cientes de que muitos casos acabam com vários dos nossos morrendo”, desabafou Pai Biné.

Em nota, a prefeitura de Paço do Lumiar declarou repúdio aos crimes de intolerância e racismo religioso, postam que violam a liberdade de crença prevista pela legislação, e pede que os setores responsáveis resolvam o caso.

Sobre o crime

É considerado crime contra o sentimento religioso, escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa, impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso e prejudicar publicamente ato ou objeto de culto religioso. A pena é de um a três anos de reclusão e multa.

Veja o vídeo do caso abaixo:

Tags: Intolerância religiosa, Maranhão, Paço do Lumiar, pastor, racismo religioso, terreiro