Maranhenses sofrem com longa espera nos atendimentos psicológicos e psiquiátricos

Criada há dez anos para alertar a população sobre a preocupação com a saúde mental e a importância do autocuidado, a campanha Janeiro Branco também revela as dificuldades enfrentadas por quem busca o autocuidado. No Maranhão, a procura por atendimento em saúde mental é marcada por desafios diários.

Com apenas 54 psicólogos e 44 psiquiatras para atender uma demanda de mais de 13 mil pacientes em tratamento dos transtornos de ansiedade e depressão, a rede pública enfrenta um cenário de sobrecarga.

Pacientes e familiares dizem que por conta da falta de profissionais suficientes, precisam lutar para agendar um acompanhamento. É o caso de Francismary Bezerra da Cunha, 51 anos, que teve de fazer sacrifícios na rotina para conseguir um atendimento.

A moradora do bairro Anjo da Guarda faz acompanhamento com psicólogo e psiquiatra há 8 anos e disse que o processo antes de iniciar o tratamento não deveria ser difícil. Segundo disse ao Difusora ON, ainda existem gargalos que demandam bastante atenção dos gestores públicos.

“O que não me agrada é o fato da demora entre as consultas, antes eu estava fazendo acompanhamento uma vez ao mês, depois ficou de dois em dois meses. Eu acho que deveria ser mais constante.”, relatou.

O filho de Francismary, Kerlyson Menezes, 16 anos também desenvolveu transtorno de ansiedade em 2020 e a família contou com a ajuda de psicólogos da escola que ele estudava. “Eu ia na escola, pegava as atividades dele, trazia, ele fazia em casa e eu levava de volta para a escola. Então, a escola foi fundamental nesse tratamento dele”, disse Francismary.

Desassistidos

Na visão do motorista Felipe Rocha, 38 anos, o cenário se traduz em uma desassistência em relação à saúde mental na cidade. Segundo ele, é necessária uma reestruturação da rede a fim de atender à demanda de maneira adequada.

“Eu passei por momentos delicados na minha vida em 2023. Perdas de pessoas queridas, sobrecarga de trabalho, comecei a ter crises de ansiedade que me levaram para uma depressão perigosa. Na rede pública eu consegui agendamento para psicólogo de 4 em 4 meses e quando precisei de medicação iria ter que esperar seis meses para ver um psiquiatra”, contou.

O motorista conta que foi na rede particular que conseguiu o acompanhamento necessário para se reerguer. “Não é por má vontade que a consulta é marcada para daqui a quatro meses no público. Mas as doenças não esperam esse tempo. Os dias estão tão corridos que aumenta o nível de estresse da população. Isso deságua num sistema totalmente esgotado. Eu agradeço a Deus por ter tido condições de fazer meu acompanhamento, mas e quanto a quem não tem?”, avalia.

Agendamentos

A situação narrada por usuários e familiares em comum difere do que é descrito pela gestão. A Secretaria de Estado da Saúde garante que os pacientes podem chegar após serem encaminhados pela Atenção Primária, via postos de saúde, ou podem procurar diretamente os serviços via disque saúde e aplicativo do PROCON.

Atualmente, o estado conta com 96 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), nas modalidades I, II, III e Álcool e Drogas, em 81 dos 217 municípios. Segundo a SES, a rede de atendimento público no Maranhão, conta com atendimento em Unidades Básicas de Saúde (UBS), Hospitais de atendimento de Urgência e Emergência em Saúde Mental e ambulatorial. Outro local que oferece atendimento é o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e as Policlínicas.

Mesmo com várias unidades, a realidade está longe da ideal. Em 2023, o Maranhão ganhou destaque no número de casos de problemas de saúde mental com 417 casos de suicídio notificados.

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