Empreendedora inova em conceito de brechó na Região Metropolitana de São Luís

Realização, esse é o sentimento que preenche o coração de Jacirene França, de 48 anos, ao ver o próprio negócio, um brechó voltado exclusivamente para o público feminino, crescendo e auxiliando centenas de mulheres na região metropolitana de São Luís.

Nascida no interior maranhense e criada em uma família de dez irmãos, Jacirene só aprendeu a ler com dez anos, após ser abandonada pelo pai. A mãe, que começou a trabalhar na roça para sustentar a família, foi para Jacirene a maior fonte de inspiração.

“Meu pai foi para o garimpo e nunca mais voltou, o que fez com que minha mãe assumisse o comando da família. Ela, uma mulher humilde e cheia de força, foi quem me inspirou a ser a empresária que sou hoje”, lembrou Jacirene.

A dona do “Brechó Mulheres Estupidamente Inteligentes”, ou apenas “Brechó Mulheres”, para os íntimos, saiu do interior para a capital maranhense com 14 anos. Na época, Jacirene tinha como objetivo focar nos estudos e realizar os próprios sonhos.

Em São Luís, Jacirene não só terminou o ensino médio, como fez duas graduações, duas especializações, um mestrado e iniciou um doutorado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, localizada em Portugal. Já adulta e com dois filhos, Jacirene viu a vida mudar quando se separou do companheiro após 8 anos de relacionamento.

“Eu nunca pensei em desistir. Casei, tive dois filhos, a Giovanna de 22 e o Nícolas de 15. Me separei quando Nicolas tinha apenas três meses. Desde então, sou mãe solo e dediquei dez anos da vida exclusivamente aos meus filhos, deixando meus sonhos guardados”, conta.

A ideia

Para sustentar os filhos e conseguir alguma estabilidade, Jacirene trabalhou por anos no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), local onde a primeira ideia do Brechó Mulheres surgiu. Como neta de costureira e como alguém que sempre gostou de moda, Jacirene servia de inspiração para as colegas, que lhe procuravam para pedir conselhos, desabafando sobre as próprias inseguranças.

Empresária realiza lives em rede social para intensificar as vendas. Fonte: Jacirene França.

“Eu trabalhava com muitas mulheres e percebi que elas me viam como referência, me pedindo dicas, falando sobre suas próprias necessidades e dificuldades. Foi então que percebi haver ali a chance de começar um negócio próprio”, narrou a dona do brechó.

No Senai, Jacirene começou a entender como funcionava o mercado, investiu ainda mais na própria imagem e passou a estudar economia circular. Em 2015, participou de um projeto nacional intitulado “Inova Moda”, por meio do qual compreendeu os mecanismos da cadeia produtiva de moda.

“A vontade de empreender só cresceu depois do projeto. Nesse período, eu fazia um doutorado e pensava em fazer concurso. Então, mudei de ideia e fiquei três anos me organizando”, contou Jacirene.

De 2015 a 2018, Jacirene pesquisou e estudou como dar início ao brechó, como torná-lo um negócio sustentável e único, capaz de provocar o consumidor a uma experiência transformadora. Em 2018, ela abriu o Brechó Mulheres Estupidamente Inteligentes online, oferecendo um serviço diferenciado.

“O trabalho envolvia toda uma investigação. Era necessário considerar o biotipo, o estilo de vida e a necessidade de cada cliente. Então, eu oferecia um serviço personalizado, enviando ‘Malas Fashion Delivery’, com as roupas sugeridas para aquela cliente ”, contou.

Segundo a expansão do negócio, Jacirene deixou o emprego que tinha e começou a viver exclusivamente do brechó. Atualmente, o “Brechó Mulheres Estupidamente Inteligentes” é uma loja física, localizada na Rua das Gardênias, em São José de Ribamar.

Brechó Mulheres Estupidamente Inteligentes sendo construído. Fonte: Jacirene França.

A reviravolta

Com a pandemia de 2020, a empresária se viu em uma situação complicada, tendo que sustentar a família com um negócio próprio. Era, então, o momento de reinventar o que havia sido criado em 2018, em uma tentativa de que o brechó perdurasse.

“Vender brechó em tempos de pandemia é quase impossível. Porém, eu venho de uma família de costureiras, avó, tias, irmãs… Mesmo a minha mãe, quando saiu da roça, começou a costurar sem nunca ter feito um curso na vida. E o que fiz quando a pandemia chegou? Comecei a costurar”, narrou a empresária.

Jacirene contou, ao Difusora News, que 2020 foi o ano em que mais vendeu. Isso porque a empresária usou a habilidade de costura herdada pela família para criar estratégias que gerassem vendas. Entre as medidas tomadas por Jacirene, estavam a customização de roupas e o upcycling, processo que consiste na ressignificação de itens. Com os retalhos das peças costuradas, Jacirene fazia máscaras criativas para a pandemia.

Por meio do brechó e da economia circular, Jacirene inspira e ajuda milhares de mulheres. Fonte: Jacirene França.

Toda a produção era publicada nas redes sociais do brechó, com fotos bem editadas e seguindo as tendências do período. Como resultado, as pessoas ficavam encantadas e encomendaram as peças, de modo online, com a empresária.

Os clientes

A professora Ruth Costa Teixeira, de 60 anos, é uma cliente assídua do “Brechó Mulheres”. Procurada pelo Difusora News, ela classificou a própria experiência de compra como acolhedora e inspiradora.

“Eu, que sempre fui uma mulher empoderada, estava com a autoestima baixa quando conheci o brechó, e lá eu consegui não só economizar, mas ganhei colo”, informou a professora.

Ruth, que conheceu o brechó por meio de uma amiga, estava tomando remédio controlado para ansiedade, e afirma que se sentiu acolhida e cuidada tanto por Jacirene, quanto por tudo que o brechó representa.

“Não é só roupa. É o cuidado, o carinho, o abraço. Todo o lugar, junto do tratamento que recebemos, passa uma mensagem de ‘estamos juntas, conte comigo, pois não irei soltar a sua mão’”, desabafou a professora.

Segundo Ruth, o serviço oferecido por Jacirene não apenas lhe renovou a esperança e autoestima, como lhe ajudou a economizar para então investir nos próprios sonhos, e lhe ensinou a quebrar paradigmas ligados ao preconceito com itens seminovos.

“Atualmente, todo o meu guarda-roupa é do Brechó Mulheres. O lugar me ensinou a ver com outros olhos as roupas seminovas, me permitiu mudar de estilo para algo com o qual me sinto bonita e elegante, e ainda posso economizar para investir em mim de outras formas”, contou.

Para Ruth, descobrir o brechó criado por Jacirene é um caminho sem volta, já que alivia o próprio bolso e lhe faz sentir melhor consigo mesma, inclusive recebendo conselhos personalizados de moda.

Clientes avaliam o Brechó Mulheres nas redes sociais. Fonte: Jacirene França.

Sobre quem deseja empreender

Para quem deseja empreender ou mudar de profissão, Jacirene França, que dedica 10 a 15 horas por dia ao próprio negócio, aconselha que seja preciso entender a motivação por trás do investimento.

“A maioria das pessoas quando decidem empreender, são motivadas pelo “o quê vender”, quando deveriam se questionar “por que desejo empreender?”. É o motivo pelo qual você empreende que vai manter a sua fé quando as dificuldades surgirem, e elas surgirão”, aconselhou.

Atualmente, Jacirene ministra palestras sobre empreendedorismo e empoderamento feminino, narrando sobre como conseguir equilibrar a rotina e investir no próprio negócio. A empresária coleciona diversos prêmios no ramo empresarial, sendo inclusive indicada ao Prêmio Mulher Empreendedora pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) na edição realizada em abril deste ano.

Jacirene é a principal modelo das roupas que recria e vende. Fonte: Jacirene França.

Currículo

Durante sua busca por conhecimento, Jacirene França conquistou duas graduações: a primeira em Artes Visuais, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e a segunda em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

Não satisfeita, ela se especializou em Cultura de Moda pela Universidade Anhembi Morumbi e em Moda e Cultura Regional, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC).

Após as especializações, Jacirene realizou ainda um MBA, do inglês Master of Business Administration, em processos industriais por meio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) no Paraná (PR). A empresária conta ainda com um Mestrado em Engenharia Ambiental e é doutoranda na mesma linha de pesquisa, sendo ambos os graus acadêmicos pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Portugal.

“Eu nunca pensei em desistir dos meus sonhos por conta das dificuldades, e é por isso que me tornei quem sou hoje, alguém que movimenta a economia e motiva outras pessoas a fazerem o mesmo”, declarou a empresária.

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