
Na terra dos babaçuais nasce o poder que vem da força de mulheres quebradeiras de coco. Com inovação e criatividade, elas são as personagens principais de uma revolução silenciosa no campo e no prato dos maranhenses. Um alimento de origem ancestral ganha uma gama enorme de utilidades a partir das mãos de mulheres do interior do Maranhão que aproveitam a polpa do babaçu para desenvolver uma farinha nutritiva e funcional, com grandes propriedades alimentícias e versatilidade na cozinha.
A farinha do mesocarpo do babaçu, ou simplesmente farinha do babaçu, ganha cada vez mais espaço justamente por sua diversidade nutricional: pães, bolos, biscoitos, mingau e muitas outras delícias que podem ser criadas por meio dessa farinha rica em amido, fibra e sais minerais.
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Para a nutricionista, professora doutora e pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Yuko Ono, é preciso mostrar na prática os benefícios desse alimento tão rico e ancestral.
Por isso, desde 2021, participa de projetos e parcerias com entidades agrícolas e as próprias comunidades produtoras no desenvolvimento de alimentos à base de derivados do babaçu, saudáveis e nutritivos, que aproveitem bem as propriedades do fruto. “O Maranhão é riquíssimo e a população pouco conhece sobre as propriedades nutritivas e funcionais do babaçu”, analisa a docente.
A professora doutora, engenheira de alimentos e também pesquisadora da UFMA, Maria da Glória Almeida Bandeira lembra também de outro importante nutriente: “O maior benefício nutricional da farinha de babaçu é o seu teor de proteína, um valor aproximado de 1,4g por 100g de farinha. Sendo, portanto, maior que o da farinha de mandioca, que é de 1,08g”.

Esse dado demonstra o quão vantajosa ela pode ser em substituição a outras farinhas e em dietas veganas, por exemplo. Assim, oferece uma grande e potente quantidade de nutrientes que podem ser bem aproveitados pela culinária de diversos modos.
Os maiores beneficiados pelo uso da farinha do babaçu podem ser justamente as crianças, principais afetadas pelo alto consumo de alimentos ultraprocessados, que podem passar a comer uma comida barata, nutritiva e saborosa. Elas provam que, antes de qualquer coisa, a comida tem que ser gostosa e afetiva, o que não é muito difícil de conseguir num pedaço de pão quentinho ou num biscoitinho feitos com mãos de fibra.
Inserir o alimento na merenda escolar pode ser uma alternativa interessante para que o produto entre de vez no cardápio infantil – além de ser um produto sustentável e nutritivo, possui um grande apelo econômico-social. Por ser um produto feito por mulheres de comunidades rurais que possuem controle de todo o processo de produção, o salto no desenvolvimento social dessas comunidades pode ser enorme, empoderando as mulheres e melhorando a qualidade de vida e de trabalho no campo.
A professora Yuko lembra que além das vantagens nutricionais, a farinha do mesocarpo do babaçu possui outras propriedades que podem ser de grande valia em vários segmentos da população. Além das fibras e amido, é rica em taninos que possuem potenciais antioxidantes e antiinflamatórios.
Sendo assim, um produto alimentício funcional que pode ser consumido por pessoas com problemas de saúde ou alergias, como intolerantes a glúten, por exemplo. “Se usado com moderação e combinado com outros alimentos funcionais, pode ser uma alternativa interessante para diabéticos por sua ação antimicrobiana, antiinflamatória e de auxílio na cicatrização”, complementa.
É uma riqueza que, se bem explorada, pode significar uma grande revolução na alimentação. É o aproveitamento de conhecimentos milenares combinado com ciência e tecnologia dos alimentos, mostrando que as palmeiras de babaçu oferecem muito mais do que beleza: são uma alternativa de sustentabilidade e mudanças sociais intensas através das possibilidades de oferecer comida de verdade, natural e funcional.
A Farinha do Mesocarpo do Babaçu, da cooperativa Mulheres Mãos de Fibra, está no centro dessa revolução. Apoiadas pela Rede Mulheres do Maranhão, conseguem não só produzir a farinha como também derivados que são criados e feitos em uma pequena padaria. O poder dessa cooperativa de Tufilândia, no interior do Maranhão, consegue nos mostrar a força do babaçu de alimentar mais do que corpos, mas também sonhos, fruto de muito trabalho e empoderamento.
Rede Mulheres do Maranhão
A Rede Mulheres do Maranhão tem como objetivo contribuir na inclusão e transformação socioeconômica das mulheres do Maranhão. Dentro da rede, são 16 negócios sociais, com impacto em mais de 200 empreendedoras, empreendedores e quebradeiras de coco babaçu, que encontraram no trabalho coletivo sua fonte de renda.
Tags: Farinha de Babaçu, Gastronomia, Mesocarpo, nutrição