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Eternizada no corpo: tatuadores desenham a arte, raízes e a cultura popular, em negócio que cresce com a reafirmação da identidade maranhense

Os desenhos antes de serem transferidos à pele, surgem da inspiração e da conexão que os tatuadores também possuem pela cultura local. A criação também pode envolver a pesquisa, busca por referências tanto artísticas quanto em vivências e experiências de vida.

Empreendedores e artistas natos – tatuadores em São Luís tem criado uma nova forma de explorar o dom artístico e conquistar cada vez mais clientes que estão em busca de desenhos mais representativos.

Podemos falar, que atualmente, um novo público busca eternizar em seu corpo o seu amor pela cultura e a arte maranhense, que são representados em imagens, desenhos, artes ou ilustrações.

Esse novo mercado da ‘regionalização das tatuagens’ começou a surgir de forma tímida, apenas no ambiente dos estúdios ou ateliês, entre os clientes aos tatuadores, que são os responsáveis pela criação e transferência do desenho artístico na pele.

Mas, não demorou muito para que esse trabalho crescesse, ganhasse notoriedade e se propagasse na cidade, redes sociais e furasse a bolha regional e local, vencendo diversas barreiras.

Tatuagens com identidade regional

Os tatuadores são desenhistas, designers, ilustradores, criadores dos desenhos, ou apenas possuem ‘talento nato’, que é expressado através desta arte secular.

Os pedidos de tatuagens com características regionais e que apresentassem a cultura maranhense começaram pelos clientes ou pela apresentação das criações dos tatuadores. Eles são autorais e possuem direitos legais dos criadores, pois são desenvolvidos por eles em um processo criativo de pesquisa, conhecimento da cultura regional e local, além de toda a experiência profissional e dedicação.

No mês de junho as festas juninas ditam o ritmo da cidade. Mas, diferente de muitas, São Luís é distinta das demais capitais nordestinas. Durante todo ano a Atenas Maranhense, a capital do reggae vivência cultura o ano inteiro. Todo esse arcabouço cultural, que envolve danças regionais, costumes, linguagem, tradições culturais, legados geracionais, pontos turísticos, e paisagens da Ilha do Amor são cuidadosamente representados nos desenhos.

A ilha de São Luís, por si só já é um palco multicultural e de inúmeras belezas que atraem dezenas de turistas pelas suas ruas e casarões seculares, encantarias, becos e azulejos portugueses, espanhóis, ou franceses.

Os desenhos antes de serem transferidos à pele, surgem da inspiração e da conexão que os tatuadores também possuem pela cultura local. A criação também pode envolver a pesquisa, busca por referências tanto artísticas quanto em vivências e experiências de vida.

Juliana Dias Cardoso, de 28 anos, tatua há 9 anos, e é proprietária do ‘Athena Tattoo Ateliê’. Ela conta que as mudanças, a saída da terra natal, são alguns dos motivos que levam os clientes a representarem na pele o afeto com o lugar e as lembranças de onde nasceram.

“Muitos dos clientes que atendo querem marcar a cidade como forma de homenagem. Alguns estão indo embora, outros retornando. Alguns nem são daqui, mas se apaixonaram pelo nosso cantinho de forma tão profunda, que só marcando na pele pra transbordar esse amor de vez”, conta Juliana.

Jader Soares, de 36 anos, já trabalha na área há 8 anos, disse que os pedidos de seus clientes por tatuagens regionais surgiu, em 2017, quando ainda era aprendiz de tatuador. De forma espontânea, ele começou a criar os desenhos e, ao serem vistos pelos clientes, surgiram os primeiros pedidos.

Sempre utilizei temas regionais e locais em meus trabalhos de ilustração e desenho. Quando me tornei aprendiz de tatuagem, em 2017, algumas pessoas que já acompanhavam e admiravam meu trabalho passaram a querer tatuar justamente essas ilustrações com a temática regional”, explicou como surgiram esses pedidos mais específicos de seus clientes.

Tatuagem regional e o impulso no mercado

Graças à expertise e ao trabalho dos tatuadores, as ‘tatuagens regionais’ passaram a ser reconhecidas como um novo tipo de produto comercializável, com potencial para gerar novas formas de renda. Esse mercado, aliás, começou a se consolidar há menos de uma década.

Os tatuadores explicaram que, pela pluralidade de elementos regionais e culturais de São Luís, conseguem transformar e enriquecer tanto o próprio trabalho quanto a geração de renda — ao mesmo tempo em que valorizam e enaltecem a cultura popular local.

O Willamy Barros da Silva, 41 anos, o tatuador “Will Barros”, que tem a prática de tatuar há seis anos, tem essa experiência já vivida, onde foi possível acrescentar em seu portfólio de trabalho as tatuagens regionais, a partir do momento que ele começou a perceber que seu público já era desperto sobre o tema e tinha interesse, não só de ver, mas ir além, tatuar e marcar na pele essa história.

“Percebi que havia uma demanda latente: o desejo do público pela representação da cultura maranhense já existia, e eu já tinha o produto — os desenhos. Assim, acabei fazendo essa ponte, permitindo que o admirador da cultura local pudesse experimentá-la por meio da tatuagem, e que o público do estilo blackwork (tatuagens feitas apenas com tinta preta) tivesse a oportunidade de homenagear sua terra utilizando uma linguagem mais tradicional da tatuagem.”

Esse mercado que só cresce, também abre outras portas como é o caso do tatuador Joberth, que além dos desenhos, os utiliza para também serem consumidos e comercializados em outros objetos como canecas, camisas, quadros.

Por não ser um simples projeto, a qualidade do produto agrega valor a sua aquisição. Entre os critérios avaliados envolve uma série de aspectos: como tamanho, estilo, local da tattoo, complexidade, cores, que podem iniciar a partir de R$ 300 reais por sessão.

A perfeita união da arte e cultura

Cada um dos tatuadores entrevistados também relembraram uma tatuagem que ficou marcada, por simbolizar um pouco dessa história maranhense.

Um dos santos celebrados no dia 29 de junho, São Pedro, padroeiro dos pescadores, tem uma festa já tradicional, que resgata, não só a cultura, mas a fé e devoção do povo maranhense.

Anualmente, na Capela, localizada no Anel Viário, há mais de 80 anos, passam milhares de pessoas e diversos grupos de Bumba-Meu-Boi ao som das matracas, pandeirões, tambores-onças, como ritual de proteção, pagação de promessas e agradecimento pelas graças alcançadas. Inspirado na Capela de São Pedro, que Joubert fez um desenho, que virou tatuagem e o marcou profundamente.

“Quando criei o desenho, ele foi bem especial por retratar a cultura e ainda simbolizar o respeito e a fé do meu cliente. A arte traz um retrato da capela de São Pedro. Um momento que mostra um pouco do que é a tradição desse lugar, onde as pessoas chegam durante a noite e ficam até o amanhecer ao som dos grupos de bumba boi”, relembra como surgiu a ideia do desenho.

As matracas também são os instrumentos que já conquistaram os clientes. Elas são feitas de madeira, que quando são batidas produzem um som estridente. Ela dita a marcação, a cadência e ritmo do bumba-meu-boi do sotaque de matraca.

E o instrumento – ‘as matracas’ – foram tatuadas por Jader Soares, o trabalho aconteceu em 2018, em um trabalho que, para ele, carrega uma simbologia especial.

“Criei um desenho que representava duas mãos tocando matracas, foi um momento especial por estar representando um sotaque de bumba-meu-boi que admiro e também por ser o meu início no mundo da tatuagem”, contou sobre a criação.

Mas e se fosse possível juntar os azulejos seculares de São Luís com anime? Seria possível essa conexão entre história e cultura pop? Não só é possível, como a tatuadora Juliana Dias Cardoso, fez um desenho que uniu duas paixões: São Luís e os desenhos japoneses. Ela conta que “ tem uma tatuagem que fiz há pouco mais de um ano. Criei uma janelinha de casarão, com a Avenida Beira Mar ao fundo, e uma personagem de anime, a Kiki, pois ela é uma viajante”, explicou.

Ela se encantou pelo desenho porque conseguiu explorar e conectar o simbolismo entre lar (natural) e encontrar o seu pertencer no novo horizonte”, conta ao falar de sua cliente, que saiu de São Luís para cursa mestrado em outro estado, essa mudança de vida ela tatuou na pele.

O gosto do maranhense pelo Bumba-Meu-Boi é bastante peculiar e é transmitido de geração a geração. De acordo com estimativas do governo do estado do Maranhão, existem mais de 300 grupos de bumba-boi no Maranhão, que são divididos em cinco tipos de sotaque de matraca, orquestra, zabumba, costa de mão, e alternativo, com formas únicas de tocar, dançar e se apresentar.

Um desenho de Bumba-Meu-Boi também foi tatuado por Will Barros. “Foi um desenho que me marcou, e ele é bem específico, que é um busto em homenagem ao Bumba-Meu-Boi”, relembra.

O fauna maranhense também é representada e ganha pedidos de muitos clientes. Os Guarás são aves tipicamente maranhense. A cor vermelha-alaranjada é seu destaque em regiões do litoral ocidente maranhense.

“Tatuar guarás — essa ave tão marcante do nosso bioma — é sempre uma alegria pra mim! As cores vibrantes, o simbolismo e a forma como representam liberdade, sem perder a conexão com as raízes, tornam o tema ainda mais especial. Mais do que os desenhos em si, é um universo riquíssimo de possibilidades. Nossa cultura é tão diversa que cada elemento carrega uma essência. E o que mais me inspira não é só o tema da arte, mas as histórias por trás de cada tatuagem — são elas que despertam minha criatividade e me motivam a representar e contar cada uma de forma única”, conta Juliana Dias Cardoso, do Athena Tattoo Ateliê.

Se um dia você passou ou conheceu a Avenida Litorânea provavelmente visitou ou tirou alguma foto no monumento dos pescadores. A obra, que é um cartão-postal de São Luís.

E ela também já foi tatuada por Jader Soares. “No início da minha trajetória como ilustrador, em 2013, fiz uma releitura da escultura dos Três Pescadores — foi a partir daí que comecei a expor meu trabalho em eventos de arte e feiras criativas da cidade. Desde então, venho mantendo a temática regional como marca dos meus trabalhos, tanto na ilustração quanto na tatuagem”, contou.

Um mercado em crescimento

O mercado de tatuagem no Brasil movimentou cerca de R$ 2,5 bilhões em 2024, com um crescimento estimado de 15% em relação ao ano anterior. O país conta com mais de 150 mil estúdios em operação, e cerca de 30% da população possui pelo menos uma tatuagem, colocando o Brasil entre os dez países mais tatuados do mundo.

Segundo pesquisa do instituto alemão Dalia, aproximadamente 38% da população mundial têm alguma tatuagem. O Brasil aparece em 9º lugar no ranking global, com 32% da população tatuada — atrás de países como Itália, Suécia e Estados Unidos.

Dados da Receita Federal, divulgados pelo Sebrae, revelam que mais de 19 mil estúdios de tatuagem no Brasil são registrados como microempreendedores individuais (MEIs), enquanto cerca de 1,4 mil são microempresas.

Curiosidade

O registro mais antigo de uma tatuagem conhecido foi encontrado em 1991, no corpo mumificado de um homem da Idade do Cobre, apelidado de “Ötzi”. Com mais de 5 mil anos, seu corpo exibia marcas feitas por fricção de carvão em cortes verticais na pele — evidência de que a tatuagem já era praticada como forma de expressão ou ritual.

Ilustrações e tatuagens do artista Jader Soares

Tatuagem- Caboclo de pena e a carranca da Fonte do Ribeirão, o cliente quis unir os dois elementos.
Tatuagem – Cabloco de fita , o cliente quis adaptar uma arte de Jader de um personagem inspirado no Bumba-meu-boi, o “Bumba Dead” .
Tatuagem- Carcará, ave de rapina do nordeste e que está representada na música do grande compositor maranhense João do Vale.
Ilustração – homenagem ao boi de orquestra , com instrumentos característicos do sotaque .
Ilustração – comidas típicas, a juçara com farinha e camarão.
Ilustração – cultura local e tattoos , alusão ao bordado artesanal do bumba boi.

Ilustrações e tatuagens do artista Joubert Ribeiro- Concept Art Tattoo

Tatuagem – amor pela cultura e fé representadas pela capela de São Pedro. Símbolo de devoção e de representatividade da cultura.
Tatuagem- amor pela cultura e fé representadas pela capela de São Pedro. Símbolo de devoção e de representatividade da cultura.
Tatuagem- Piauí e Maranhão dois lugares e uma história registrada na pele pro resto da vida. O lugar onde nasceu e lugar onde construiu a sua jornada familiar e profissional.
Tatuagem – A herdeira do bumba boi Famosão de Humberto de Campos decidiu registrar na pele a história de sua família. O seu avô após uma promessa a São João decidiu criar um boi gigante com a ideia de que todos tivessem acesso à cultura do bumba meu boi. Um boi que todos pudessem ver.

Ilustrações e tatuagens da artista Juliana Dias Cardoso- Athena Tattoo Ateliê

Tatuagem – O desenho uniu São Luís e Salvador.

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