Entenda o escândalo de manipulação de jogos de futebol e seus desdobramentos

As fraudes em apostas esportivas, na boca do povo desde o início da Operação Penalidade Máxima II – deflagrada pelo Ministério Público de Goiás para investigar um grupo que aliciava jogadores para manipulação de resultados de jogos – levaram a um pedido de abertura de inquérito do caso pela Polícia Federal.

A ação, definida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, na quarta-feira (10),  é um desdobramento da Operação Penalidade Máxima, iniciada em fevereiro deste ano, e que resultou na denúncia contra 14 pessoas por prática de corrupção em âmbito esportivo em partidas da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022. Entre os envolvidos estavam jogadores do Vila Nova Futebol Clube, Sampaio Corrêa Futebol Clube e da Tombense Futebol Clube.

Relembre os principais pontos da denúncia do MPGO, que, nesta semana, tornou réus 16 pessoas envolvidas no esquema, incluindo sete jogadores de futebol. Nesta segunda fase da operação são investigadas, ao menos, 13 partidas: oito no Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, um da Série B de 2022 e quatro jogos de campeonatos estaduais realizados em 2023.

Como o esquema foi descoberto?

As investigações do Ministério Público de Goiás começaram no final de 2022, quando o jogador Romário, volante do Vila Nova (GO), aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti, em jogo da última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022, disputado contra o Sport. 

O jogador recebeu um pagamento inicial de R$ 10 mil, e levaria os outros R$ 140 mil após o fim da partida, com o pênalti cometido. 

Durante a semana, Romário não teve mais condições de jogo e tentou aliciar outros jogadores que pudessem realizar a penalidade. 

Os boatos de uma tentativa de manipulação da partida chegaram até o presidente do Vila Nova (GO), Hugo Jorge Bravo, que também é major da Polícia Militar. Ele investigou o caso e entregou as provas ao Ministério Público de Goiás.

Como as manipulações aconteciam?

Segundo a denúncia do MP, os criminosos aliciavam e cooptavam atletas para que cometessem lances específicos em jogos. Pênaltis, cartões — amarelos ou vermelhos — e até mesmo uma quantidade específica de escanteios. O aliciamento acontecia “mediante contraprestação financeira”, ou seja, com pagamentos. Jogadores chegaram a receber ofertas de R$ 500 mil para serem expulsos de uma partida.

As manipulações aconteciam para que apostas múltiplas — quando mais de uma situação é colocada em jogo e, portanto, acertar os resultados é mais difícil — dessem muito lucro. Elas eram feitas nos sites bet365 e Betano. 

Para evitar que a fraude fosse descoberta, o grupo criminoso fazia apostas menores, por meio de uma série de contas de terceiros. Em conversas por aplicativos de mensagens, os envolvidos chegam a citar a utilização de robôs no esquema.

Proposta do governo estabelece regras para apostas esportivas

O Ministério da Fazenda apresentou, nesta 5ª feira (11.mai), uma proposta de Medida Provisória para regulamentar apostas esportivas no Brasil. Com ela, o governo pretende frear a manipulação de jogos e estabelecer uma nova fonte de receitas para a União.

O texto estabelece que somente as empresas habilitadas poderão receber apostas relacionadas a eventos esportivos oficiais, organizados por federações, ligas e confederações. As empresas não habilitadas incorrerão em práticas ilegais e estarão proibidas de realizar qualquer tipo de publicidade, inclusive em meios digitais.

As empresas serão taxadas em 16% sobre o Gross Gaming Revenue (GGR), a receita obtida com todos os jogos feitos, subtraídos os prêmios pagos aos jogadores. Sobre o prêmio recebido pelo apostador será tributado 30% de Imposto de Renda, respeitada a isenção de R$ 2.112,00.

O texto foi encaminhado aos ministérios co-autores da medida – Planejamento, Gestão, Saúde, Turismo e Esportes – e, após avaliação e assinatura das pastas, a será entregue à Casa Civil.

CPI das Apostas

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi criada na Câmara dos Deputados, em 26 de abril, para investigar esquemas de manipulação de resultados em partidas de futebol profissional no Brasil.

O deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), autor do requerimento para instalação da CPI, acredita que ela seja instalada na próxima 4ª feira (17.mai). Segundo ele, se for necessário o colegiado convocará “operadores, árbitros, jogadores, dirigentes de organizações do futebol e de clubes” para esclarecer os fatos.

Fonte: SBT News

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