A possibilidade de criação de textos, imagens, vídeos, áudios e muitos outros conteúdos através da Inteligência Artificial Generativa (IAG) tem impactado o jornalismo – positivamente e negativamente. Isso porque, os conteúdos produzidos pela IAG se assemelham aos conteúdos originais. Jornalistas e especialista comentaram ao Portal Difusora News sobre o crescente uso da IAG nas produções de conteúdo.
A IAG é uma área da Inteligência Artificial que permite a geração de novos dados a partir de exemplos já existentes. Coordenador do Núcleo de Inteligência de Dados da UFMA, o doutor Márcio Carneiro, explica sobre o uso crescente da IAG.
“Todo esse hype atual é muito focado na inteligência artificial generativa, que é uma sub-área realmente mais recente e que tem uma característica importante, ela foi feita para ser criativa e não precisa”, explicou.
“Tem algumas tarefas que a IAG pode fazer, por exemplo, passar textos para ela e pedir para ela gerar palavras-chave, fazer resumos, gerar tags, coisas que vão me ajudar”, completou Márcio Carneiro.
Ainda segundo o professor, outro exemplo de utilização da IAG é a criação de legendas para as mídias digitais a partir de um texto original direcionado para um site, apenas solicitando a reconfiguração do texto.
IA convencional x IAG
Estudos indicam que a inteligência artificial surgiu em 1943, quando Warren McCulloch e Walter Pitts criaram o primeiro modelo computacional para redes neurais. O campo da inteligência artificial não é um campo de estudos novo, na verdade é uma área de conhecimento com décadas de desenvolvimento.
A inteligência artificial convencional é programada para executar tarefas simples: “Importante lembrar que inteligência artificial não é novidade. A IA que está, por exemplo, no detector de spam, nos modelos de previsão da meteorologia, já existem há um certo tempo”, explicou Márcio Carneiro.
Já a IAG é uma criação mais recente e foi programada para criação de novos conteúdos, como textos e até mesmo vídeos dependendo da plataforma.
IAG nas redações jornalísticas
No dia-a-dia de uma redação jornalística, a apuração precisa ser cautelosa, para evitar erros e evitar espalhar fake news. Por isso nesse quesito, a IAG não é uma alternativa, no entanto, ela pode ser utilizada de outras formas.
O jornalista Hugo Borges conta que não usa a inteligência artificial para apurar notícias porque entende que essa tarefa deve ser feita de forma natural e não mecânica.
“A inteligência artificial chega com uma mão na roda, que facilita a vida de todo mundo, não só a mim, enquanto jornalista. Porém, acho que para verificar e fazer uma apuração, temos que fazer nos moldes mais tranquilos e menos mecânicos, mais humanizado”, opinou.
No âmbito das matérias jornalísticas e criação de pautas, ferramentas são utilizadas para agilizar o processo de produção, trazendo facilidade até mesmo na transcrição de áudio em texto, como comenta Hugo Borges.
“A utilização das ferramentas, como chat GPT, e Blip vira texto, elas facilitam muito o trabalho. A partir do momento que você tem o assunto, você tem uma apuração, a gente consegue utilizar essas inteligências artificiais para construir um texto, fazer correções e até mesmo transformar áudios em texto. Então, acho que elas contribuem muito. Não só para o jornalismo, mas também para outras profissões”, pontuou.
Ferramentas baseadas em IA, como algoritmos de rastreamento de notícias e verificação de fatos ajudam na identificação de padrões e fontes de desinformação, é o que afirma a repórter Rita Cardozo.
“Como repórter, eu tenho a ciência de que preciso entregar uma informação precisa e confiável a população, e para isso, sempre busco fazer uma verificação rigorosa das informações. Costumo sempre seguir o processo de apuração estruturado que inclui várias etapas de verificação, como: buscar fontes confiáveis, checagem de datas e contextos”, disse.
IAG e Fake News
Já existem alguns estudos em andamento para tentar identificar notícias falsas, as chamadas fake news, com o uso de inteligência artificial (IA), no entanto, para apuração e checagem de informações detalhadas, o olhar humano continua sendo indispensável, reforçou o professor Márcio Carneiro.
“Algumas iniciativas já existem, usando inteligência artificial, para gerar uma espécie de identificação positiva ou negativa, em cima de uma imagem, por exemplo, para ver se ela foi gerada por IA ou não. Mas como a IAG, a generativa, ela não foi feita para ser precisa, a gente tem que ter muito cuidado em misturar as coisas, eu acho que checagem é coisa para o humano, o humano continua dentro do jornalismo fazendo as coisas mais importantes”, destacou.
Apesar da inteligência artificial estar presente na sociedade há décadas, em algumas universidades, principalmente do Maranhão, há poucas cadeiras específicas do curso de jornalismo voltadas exclusivamente para o estudo de Inteligência Artificial Generativa, iniciativa que o jornalista Erick Sousa considera fundamental:
“A primeira coisa que deve ser feita é uma mudança de mentalidade, parar de vilanizar a inteligência artificial e reconhecer que é um avanço tecnológico. O ensino da inteligência artificial deveria ser incluído na grade curricular dos cursos de ensino superior da área de Comunicação. E não apenas a utilização em si, mas as formas éticas de se utilizar essa ferramenta”, comentou.