Juros altos: a polêmica e a importância da política monetária

Você já reparou como tá todo mundo falando em taxa de juros? Não é à toa. Ela tem a ver com a vida de todo mundo mesmo. Principalmente de quem está pensando em comprar um carro financiado, comprar uma casa. Em pedir um empréstimo pra comprar material de construção ou de reforma pra cuidar da casa, coisas assim. Então, vamos entender porque a taxa de juros é tão importante. 

A taxa de juros é o “preço” que o banco ou a instituição financeira cobram para te emprestar dinheiro; ou pra conceder crédito. No caso, por exemplo, da administradora do cartão de crédito, quando você faz uma compra e paga parceladamente, ou não quita a fatura total e entra no rotativo. Quando você toma este crédito, a instituição presume que você vá pagar, dali a algum tempo ou em parcelas mensais. Mas se você pedir R$ 100 e pagar os mesmos R$ 100, o que é que o banco ganha com isso? Nada, né. É por isso que ele cobra uma taxa de juros, porque é isso que o banco ganha quando empresta pra você.

Pensa bem. Quando você pega o empréstimo de R$ 100,00 e devolve, ao final do contrato de empréstimo, aqueles R$100 mais alguma coisa, aquela diferença a mais, aquela “alguma coisa”, que podem ser R$ 20,00 ou R$ 30,00, são o acréscimo que o banco está cobrando por ter realizado a operação. É isso que é a taxa de juros.

Parece um pouco com um aluguel que você está pagando por ter ficado um tempo com aquele dinheiro – que no fundo não é seu – e pra poder devolver dentro do prazo que o banco estabelecer no contrato, com algum ganho a mais para a instituição. 

“A taxa é a remuneração que o banco te propõe para realizar a operação e lhe oferecer o empréstimo. É o ganho do banco, é o algo a mais que o banco lucra quando concede crédito. Vale até para o consumidor individualmente, quando ele mesmo empresta dinheiro para alguém conhecido – e quer receber com algum adicional – ou até para o governo. Quando as pessoas compram um título do governo, por exemplo, ele é quem cobra do emissor do papel uma taxa de juros”, explica Piter Carvalho, economista chefe da Valor Investimentos. 

O que faz a taxa subir ou descer?

A principal preocupação do Banco Central (BC), que cumpre o papel de ser o guardião da moeda ou, mais precisamente, do valor da moeda, é com a inflação. É aquela alta de preços das coisas que a gente compra ou dos serviços que a gente contrata e que, no fundo, acaba “comendo” uma parte do valor do dinheiro da gente.

Quando o Banco Central, via Comitê de Política Monetária (COPOM) decide subir os juros, é para evitar que a inflação suba: com o dinheiro “mais caro”, com o crédito mais caro, as pessoas tendem a comprar menos, a tomar menos empréstimos. Com isso o “giro econômico” dá uma desacelerada e a tendência é que, com menos gente comprando, os preços dos produtos fique mais acomodado ou até caia, segurando a inflação. 

Quem toma a decisão sobre os juros são os diretores do Banco Central, nas reuniões do Copom. Por decidir diretamente quanto será a taxa básica de juros, a Selic, o comitê também é conhecido como Autoridade Monetária. 

“Subindo os juros a ideia do Banco Central é segurar a alta dos preços. Quando as pessoas estão com menos dinheiro – ou crédito – disponível, elas consomem menos. E menos gente indo ao mercado buscando comprar as mesmas coisas, pode gerar diminuição dos aumentos, ou até queda do preço pra valer”, conta Carvalho. 

Como a taxa de juros influencia a vida das pessoas ?

Além de ser o preço do crédito, do dinheiro que vc pega emprestado, ela também pesa sobre a tomada de crédito das empresas como indústrias que precisam comprar uma máquina ou um equipamento e tem que fazer um “investimento” pra conseguir isso. Mas nem precisa ir tão longe. A padaria, perto da casa da gente, também precisa de crédito e pega dinheiro pagando os juros que o banco estipula. Só que é aí que mora o perigo. Quando ela pega emprestado, ela tem um “custo” adicional ao negócio dela, que são os juros. E, normalmente, o empresário da indústria ou o dono da padaria, repassam para o preço de seus produtos esse adicional que pesa sobre a rotina de caixa da empresa. Em outras palavras, o pãozinho nosso de cada dia, acaba ficando mais caro. 

“Os juros mais altos funcionam como inibidores da inflação pelo simples motivo de que tudo fica mais caro. E produtos e serviços mais caros, as pessoas ou deixam de comprar ou compram em menor quantidade. Assim, há um controle da alta de preços. Mas também das margens de consumo e da atividade econômica como um todo.”, acrescenta Carvalho. 

Quanto estão os juros?

A taxa de juros no Brasil, a Selic, estava comportada em 2% aproximadamente até março de 2021. Aí vieram as decisões que fizeram a taxa subir até os atuais 13,75% ao ano, patamar onde ela está desde agosto do ano passado. É um patamar considerado muito alto até por boa prte dos economistas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também acha, e andou falando mal desse nível dos juros.

Agora, alguma coisa nessa visão crítica deve estar certa, porque o Brasil já ostenta a maior taxa do mundo em juros reais – quando é descontada a inflação – e já faz bastante tempo. De qualquer forma, não é a primeira vez que a taxa atinge um nível elevado. No início do primeiro governo Lula, lá em 2003, a taxa estava em cerca de 25%. Pois o presidente do Banco Central que assumiu, Henrique Meirelles, entrou e subiu a taxa, para 26%. 

“O ideal é que haja uma conciliação, por exemplo entre os críticos à política monetária e o Banco Central. Porque quando não há um entendimento, começa a haver também um ruído no mercado financeiro, que gera desconfiança, que inibre a entrada de dinheiro do investidor estrangeiro no país, por exemplo. Aí há o risco de o dólar ficar mais alto em relação ao real, o que traz inflação aqui pra dentro.Aí o BC tem que subir os juros, pra segurar a alta de preços. E aí pode gerar um círculo vicioso. O ideal é buscar o equilíbrio”, finaliza Carvalho.

Por Guto Abranches | SBT News

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