O que a Ansiedade, de ‘Divertida Mente 2’, tem a nos ensinar?

As produções infantis de animação têm se esforçado para ensinar aos jovens espectadores como lidar com as suas emoções. “Divertida Mente” (2015), da Disney Pixar, tem como proposta demonstrar a necessidade de regulação emocional.

Alegria, tristeza, raiva, medo e nojo, as cinco emoções básicas da protagonista Riley, tornaram-se personagens em sua “sala de controle” interna. Juntas, elas guiaram suas ações à medida que ela se desenvolvia, passando de bebê a pré-adolescente.

Em “Divertida Mente 2”, Riley faz 13 anos. Isso significa o surgimento de emoções mais “sofisticadas”, incluindo ansiedade, vergonha, inveja e tédio.

No início do filme, a protagonista Ansiedade (Maya Hawke) explica às emoções mais velhas que “todos nós temos um trabalho a fazer”, acrescentando que o dela é “planejar o futuro”.

A psicóloga clínica e docente do curso de Psicologia da Estácio, Sátina Pimenta, alerta exatamente sobre os desafios enfrentados pelas novas gerações, a importância de investimentos nesta área específica e ainda desmistifica que ansiedade seja o grande vilão dos tempos modernos.

“A ansiedade é um sentimento primitivo, todos precisamos ter. Ela pode ser um sintoma, assim como ela pode ser uma doença, a ansiedade generalizada que a gente fala. Mas é um sentimento comum, não é um sentimento ruim. Só que no filme, no caso, a Riley, ela é tomada pela ansiedade, mas depois essa ansiedade é controlada, o que é o saudável a se fazer”, explica Sátina.

A ansiedade é um sentimento primitivo, todos precisamos ter. […] é um sentimento comum, não é um sentimento ruim.

Sátina Pimenta, psicóloga clínica e docente do curso de Psicologia da Estácio

Geração Z

O longa aborda um tópico cada vez mais frequente na saúde mental da sociedade, sobretudo na geração Z, a mais ansiosa, estressada e deprimida de todos os tempos, segundo pesquisa realizada em dezembro de 2023 pela Vittude, referência no desenvolvimento de programas de saúde mental para empresas.

Para a especialista, é essencial compreender como os mais jovens tratam suas frustrações em um mundo altamente competitivo e exposto. “Vivemos em um contexto em que a tecnologia não é o problema em si, mas sim como a utilizamos. A tecnologia pode ser uma aliada no cuidado da saúde mental, facilitando desde terapias online até aplicativos de suporte emocional”, esclarece.

Lidar com as frustrações

Ainda segundo a psicóloga, a dificuldade das novas gerações em lidar com frustrações pode vir na maioria das vezes de potenciais comparações em um mundo virtual. “É uma geração que, embora protegida, enfrenta pressões intensas para ser sempre o melhor. Isso pode levar a comparações excessivas nas redes sociais, aumentando a sensação de inadequação e frustração por não ser bom o bastante, não ser como um famoso de tantos milhões de seguidores”.

Sátina também aponta a necessidade de investimentos na qualidade do acesso à saúde mental. “É fundamental garantir que todos tenham acesso a serviços psicológicos adequados. Sem um mínimo de segurança econômica e emocional, não podemos esperar um bom estado de saúde mental na população”, afirma Sátina.

Um relatório feito pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP-MA) diz que existem apenas 5.739 profissionais. Deste quantitativo, só 54 atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado.

Resgate do pertencimento

A professora opina sobre como ajudar jovens a serem mais fortes e felizes emocionalmente. Ela pontua que o sentimento de pertencimento é que precisa ser resgatado para que eles se tornem mais confiantes e satisfeitos com suas ações.

Quando o mínimo de frustração acontece ou quando algo melhor lhes é oferecido, eles abandonam o caminho que estão seguindo e partem para outro.

“Pensar na felicidade desta geração é pensar no movimento constante de mudanças e recomeços. Eles estão sempre iniciando coisas novas para sentir coisas novas. Isso é bacana, pois, diferente de outras gerações, eles são desbravadores, mas também é preocupante, pois não sentem nada por completo. O sentimento de pertencimento não acontece e, no final, o ‘cidadão do mundo’ se torna cidadão de lugar nenhum, nem de si”, explica.

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