Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que, por ano, 822 mil estupros acontecem no Brasil. O número equivale a 2 abusos por minuto.
Um dado impactante para a sociedade, como um todo, porém, acima de tudo, aterrorizante para as mulheres, que muitas vezes se deparam com a mesma pergunta: serei a próxima vítima?
Isso sem contar com aquelas que já foram violentadas, mas acabaram silenciadas, ou pior, nem sabem que sofreram violência sexual. “Muitas vezes, pela cultura patriarcal que vivemos, ela termina sendo estuprada pelo marido, porque acha que ele está no direito dele. Atenta contra a liberdade e dignidade do corpo, dignidade sexual da pessoa, isso é um crime”, explica o pesquisador do Ipea, Daniel Cerqueira.
O Ipea usou três bases de dados para chegar à estimativa de 822 mil estupros por ano: registro policiais; a Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE, em domicílio, apenas com maiores de idade; e o Sistema de Informação do Ministério da Saúde, que contabiliza as vítimas que passam pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O cruzamento das informações desenhou o perfil das vítimas, em sua maioria, com menos de 13 anos. E também identificou quem são os estupradores; em geral, que deveria amar e cuidar. No caso das mulheres adultas, o estuprador é quase sempre o marido ou o ex. No caso das crianças e adolescentes, o agressor é o pai, o padastro, ou uma pessoa da família.
Uma vítima de 26 anos, que prefere não ser identificada, sofreu abuso sexual durante toda a infância, praticado por uma prima, 8 anos mais velha. Ela só entendeu o que acontecia muito tempo depois.
“Que aquilo não eram brincadeiras, aquilo tinha acontecido. Vamos brincar de escolinha, vamos brincar de médico. Isso é uma brincadeira, não pode contar para sua mãe, se não, ela vai brigar com você”, relata a vítima.
Como acontece com a esmagadora maioria das vítimas, ela nunca denunciou o crime. “Há o dano da quebra de confiança, de ser ferida por alguém que era muito próxima. Quando ela me disse para guardar segredo, eu acreditei que eu tinha que fazer isso. Alterou a minha relação de conseguir realmente me sentir segura com outras pessoas, principalmente, em relações mais íntimas”.
O especialista defende a criação de políticas de conscientização. “Investir em educação par a cidadania, educação para o respeito, seja homem, mulher, preto, branco, seja qualquer orientação sexual. O que nós estamos falando é de uma barbárie invisível”, defende o pesquisador do Ipea.
Fonte: SBT News