A tragédia da boate Kiss, que completa dez anos nesta sexta-feira (27), expôs fragilidade e negligência nos critérios de segurança das casas noturnas brasileiras e exigiu resposta rápida da legislação.
Indicação de lotação máxima, alvará de funcionamento e inserção de noções de segurança contra incêndios nos cursos de engenharia foram algumas das normas estipuladas pela Lei Kiss, que entrou em vigor em 2017.
Porém, a criminalização do descumprimento de ações de prevenção e combate a incêndio foi um dos pontos vetados pelo então presidente Michel Temer.
À sua época, casos como o da Kiss já não eram inéditos: ao menos nove desastres parecidos aconteceram em casas de festa de outros países, também causadas por uso indevido de efeitos pirotécnicos em local fechado. Confira três:
INCÊNDIO DO COCOANUT GROVE
Na noite de 28 de novembro de 1942, um incêndio de proporções devastadoras interrompeu a festa desta proeminente casa noturna de Boston, Massachusetts.
Similar à Kiss, uma sequência de erros estruturais acabaria contribuindo para que 492 pessoas perdessem a vida, em sua maioria presas dentro do Grove. Superlotado, o espaço era decorado com palmeiras artificiais de material inflamável.
Enquanto saídas de emergência eram mantidas trancadas para barrar entradas não autorizadas, a porta principal da casa só abria para dentro. Como para muitas vítimas de intoxicação da Kiss, escapar do fogo não significou estar a salvo para muitos: pessoas caíram duras ao passar do calor do incêndio para o frio da época em Boston.
Como na Kiss, o proprietário virou réu: Barney Welansky foi responsabilizado pelas falhas na segurança e condenado por homicídio culposo.
A tragédia completou 80 anos em 2022, com a inauguração de um novo memorial em lembrança às vítimas. O incêndio é tido como o mais mortal da história dos Estados Unidos.
INCÊNDIO DO THE STATION
Dez anos antes da Kiss, 100 pessoas morreram no incêndio da casa de shows The Station, localizada em West Warwick, Rhode Island. Na noite de 20 de fevereiro de 2003, a banda Great White se apresentava no local.
Em um momento que ficou eternizado em vídeo, faíscas de um show pirotécnico – orquestrado pelo empresário da banda – atingiram a espuma acústica que revestia a Station e logo tomaram conta do estabelecimento.
Cinegrafista presente no show, Brian Butler registrou o que seriam os últimos instantes de vida dos ocupantes da casa, enquanto saía sem dificuldades do local. Infelizmente, não foi seguido por nenhum dos ocupantes. Na época da Kiss, sobreviventes expressaram seus sentimentos a familiares e vítimas da tragédia gaúcha.
O caso da The Station, que estimulou mudanças nas normas de segurança das casas de shows norte-americanas, completa 20 anos em fevereiro de 2023.
INCÊNDIO DA LAME HORSE
Faíscas e material inadequado também foram fatores para a tragédia da casa de shows Lame Horse, em Kiev, na Ucrânia, na noite de 5 de dezembro de 2009. Imagens feitas da ocasião – aniversário do estabelecimento – mostram fagulhas atingindo o revestimento do clube, feito de palha de salgueiro. As chamas encobriram os presentes, desencadeando pânico.
Testemunhas relataram que um lado da porta da entrada principal da Lame Horse estava trancado, enquanto as saídas de emergência nos fundos (por onde bailarinos puderam escapar) passaram despercebidas.
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