Em um mundo onde as informações e estímulos competem constantemente pelo foco das pessoas, a falta dele pode ser algo normal.
Mas existe um transtorno que afeta a capacidade de se concentrar em um nível crônico: o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou simplesmente TDAH.
Embora frequentemente associado à infância, pode persistir na vida adulta, impactando significativamente a qualidade de vida daqueles que o enfrentam, como é o caso de Lily Allen.
O que é TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, conhecido como TDAH, é um transtorno neurobiológico genético que se destaca pela presença de sintomas que envolvem a dificuldade em manter a atenção em tarefas específicas, inquietação constante e impulsividade.
“O TDAH é um transtorno mental que começa na infância e pode ou não persistir na idade adulta, que traz uma série de sintomas”, explica o psiquiatra Mario Louza.
“Há distraibilidade muito grande, a pessoa se vê como avoada ou distraída, perde objetos, é desorganizada e se atrapalha com coisas cotidianas”. complementa.
Segundo os dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), a prevalência global do transtorno varia entre 5% e 8%. Já 3% a 5% das crianças de todo o mundo possuem o transtorno.
Além disso, aproximadamente 70% das crianças afetadas pelo transtorno apresentam pelo menos uma outra condição médica simultaneamente, enquanto pelo menos 10% delas enfrentam três ou mais condições concomitantes.
A ABDA também destaca que, no Brasil, cerca de 2 milhões de adultos vivenciam os sintomas associados ao transtorno, especialmente aqueles que não recebem um diagnóstico apropriado.
Quais são as características do TDAH?
As principais características do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade são desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Desatenção
A desatenção é uma característica central e se manifesta através de dificuldades em manter o foco e a concentração em tarefas ou atividades.
Pessoas com TDAH tendem a se distrair facilmente por estímulos externos, o que pode resultar em erros frequentes em suas tarefas.
Elas podem ter dificuldade em organizar suas atividades e frequentemente parecem esquecer compromissos, tarefas ou responsabilidades importantes.
Hiperatividade
A hiperatividade é outra característica-chave, especialmente em crianças. Ela se manifesta como uma atividade excessiva, inquietação e dificuldade em permanecer sentado por longos períodos de tempo.
Pessoas com esse transtorno podem sentir uma constante necessidade de se mover, tocar em objetos ao seu redor ou falar excessivamente.
Embora a hiperatividade tende a ser mais evidente em crianças, adultos podem sentir uma inquietação interna.
Impulsividade
A impulsividade refere-se à tendência de agir sem pensar nas consequências. Pessoas com esse transtorno podem tomar decisões impulsivas e agir de forma precipitada.
Isso pode levar a comportamentos impulsivos e até mesmo arriscados, como gastar dinheiro impulsivamente, interromper os outros durante conversas ou se envolver em atividades perigosas sem considerar as implicações.
Quais são as causas do TDAH?
As causas exatas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ainda não são completamente compreendidas, mas uma combinação de fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais parece desempenhar um papel no desenvolvimento do transtorno.
Aqui estão alguns dos fatores, segundo a ABDA:
Hereditariedade
“O TDAH tem um forte componente genético, então não é incomum que o pai leve o filho para a consulta e comece a se identificar com os questionamentos levantados pelo médico” afirma Luiz Augusto Rode, professor titular de psiquiatria da UFRGS.
Estudos mostram que o transtorno tende a ocorrer em famílias, sugerindo uma predisposição genética.
Se um membro da família tem, há uma maior probabilidade de outros membros da família também apresentarem a condição — o que sugere que há uma influência genética na susceptibilidade ao transtorno.
“Em torno de 30% das crianças diagnosticadas vão ter um ou ambos os pais com o transtorno”, complementa.
Substâncias ingeridas na gravidez
A exposição a substâncias durante a gravidez pode estar associada ao desenvolvimento do transtorno em algumas crianças.
O consumo de tabaco, álcool, drogas ilícitas ou medicamentos não prescritos durante a gravidez pode aumentar o risco.
Sofrimento fetal
Complicações durante o parto e problemas relacionados ao nascimento, como prematuridade, baixo peso ao nascer e falta de oxigênio no cérebro (hipóxia), também foram estudados como possíveis fatores de risco.
No entanto, apesar de ter a possibilidade de estar associado, nem todas as crianças que enfrentam essas condições desenvolvem o transtorno.
Exposição a chumbo
A exposição a altos níveis de chumbo na infância tem sido associada a uma série de problemas de saúde, incluindo esse transtorno. O chumbo é uma substância tóxica que pode afetar o desenvolvimento do cérebro.
No entanto, a exposição ao chumbo tem sido significativamente reduzida nas últimas décadas devido a regulamentações mais rigorosas.
Fatores familiares
Questões familiares, como dinâmicas familiares disfuncionais, estresse familiar crônico, falta de apoio e comunicação, também podem influenciar o desenvolvimento ou agravamento dos sintomas em crianças.
Um ambiente familiar saudável e apoio emocional podem desempenhar um papel importante na gestão do transtorno também.
Tipos de TDAH
Esse é um transtorno altamente heterogêneo, o que significa que os sintomas e a gravidade deles podem variar significativamente de uma pessoa para outra. E ele também pode ser classificado em tipos.
De acordo com o manual de classificação das doenças mentais (DSM), existem 3 classificações:
- Com predomínio de sintomas de desatenção;
- Com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade;
- Combinado.
Entenda um pouco mais sobre cada um deles.
Predominantemente desatento
É caracterizado principalmente pela desatenção. As pessoas com TDAH predominantemente desatento podem ter dificuldade em manter o foco, seguir instruções, organizar tarefas e atividades e tendem a ser frequentemente distraídas por estímulos externos.
A hiperatividade e a impulsividade, embora possam estar presentes, são menos proeminentes neste grupo.
Predominantemente hiperativo-impulsivo
Este tipo é caracterizado principalmente pela hiperatividade e impulsividade. As pessoas com comportamento predominantemente hiperativo-impulsivo podem ser inquietas, agitadas e têm dificuldade em ficar paradas ou esperar sua vez.
Elas tendem a agir impulsivamente, sem considerar as consequências, e podem ter problemas em controlar seus impulsos.
Combinado
É o caso mais comum. As pessoas desse tipo apresentam uma combinação de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Isso significa que elas podem ter dificuldade em manter o foco e agir impulsivamente em diferentes situações. A proporção pode não ser exatamente a mesma.
Diferenças entre o TDAH infantil e em adultos
A Associação Brasileira do Déficit de Atenção informa que esse transtorno em adultos é uma continuação do transtorno na infância.
O transtorno, no entanto, pode manifestar-se de maneira diferente em crianças e adultos devido às diferentes demandas e responsabilidades que cada grupo enfrenta em suas vidas.
Por exemplo, em crianças, os sintomas de hiperatividade, como inquietação excessiva, dificuldade em permanecer sentado e correr ou subir em lugares inadequados, são mais proeminentes.
Já em adultos, a hiperatividade pode ser menos visível e pode se manifestar como uma sensação interna de inquietação.
Os adultos com podem não ser fisicamente hiperativos, mas podem ter dificuldade em relaxar ou se sentir constantemente agitados.
De modo geral, a desatenção e a impulsividade são semelhantes, mas os contextos sociais são diferentes.
O transtorno em crianças geralmente afeta o desempenho escolar e o relacionamento com colegas e professores.
Em adultos, ele pode afetar a carreira, o relacionamento conjugal e familiar, as finanças e a gestão das tarefas diárias.
É comum que o transtorno seja frequentemente identificado na infância devido aos desafios escolares e comportamentais evidentes. Porém, ao persistir, os sintomas podem evoluir ao longo do tempo.
A intervenção precoce é particularmente importante em crianças, enquanto a compreensão e o manejo adequado do TDAH em adultos podem ajudar a minimizar o impacto nas áreas da vida afetadas.
Como é feito o diagnóstico?
Muitas pessoas se perguntam “como saber se tenho TDAH”.
O diagnóstico é feito de forma clínica, a partir de consulta e uma anamnese com um médico especializado — neurologista ou psiquiatra — e costuma contar com testes específicos.
Os profissionais procuram identificar a presença das características (desatenção, hiperatividade e impulsividade) e avaliar como esses sintomas afetam a vida cotidiana.
O médico Mario Louza enfatiza que embora todos possam experimentar episódios de tais sintomas em algum momento, aqueles que sofrem desse transtorno geralmente têm uma “história de vida caracterizada por esses padrões”.
É isso que torna o diagnóstico mais facilitado. No entanto, ele sempre deve ser baseado em critérios específicos estabelecidos nos manuais diagnósticos.
Os testes podem incluir testes padronizados e questionários que ajudam a quantificar os sintomas e a gravidade do TDAH.
Também é comum que os profissionais busquem informações de professores, familiares ou outros cuidadores, especialmente quando se trata de crianças.
Pode ser importante excluir outras condições médicas ou psiquiátricas que possam estar contribuindo para os sintomas;
Como é o tratamento de TDAH?
O tratamento geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar que combina apoio psicológico, medicação (psicoestimulantes) e, no caso de crianças, terapia comportamental.
A participação da família e da escola é fundamental para criar uma rotina, um ambiente adequado e um estímulo positivo para a criança com o transtorno também.
É importante lembrar que o tratamento pode variar de pessoa para pessoa, pois depende das necessidades individuais e da gravidade dos sintomas.
O TDAH tem cura?
O TDAH não tem uma cura definitiva no sentido tradicional, mas é um transtorno tratável.
O objetivo principal do tratamento é gerenciar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas.
Com o tratamento adequado, muitos indivíduos conseguem levar vidas produtivas e satisfatórias.
Fonte: CNN Brasil