Andei mais demorado pelas ruas, conversei mais tempo com os patinhos do lago, apreciei as árvores pensativo. Lembrei da segunda-feira, terça, quarta, quinta…
só se fala sobre inteligência artificial, meu exercício matinal foi pensar em perguntas que a inteligência artificial (ou IA, ou ainda AI, na sigla em inglês) não pode responder pra mim. Ironicamente, constatei que são as mais importantes que eu poderia pensar.
Faço regularmente esse exercício mental das 3 perguntas sozinho e com meus times.
Hoje vou compartilhar aqui como eu faço, e te convido pra fazer comigo.
Aviso logo, nem adianta tentar usar o ChatGPT, dessa vez ele não vai te ajudar.
1 – “Qual foi a coisa que eu mais gostei de ter realizado nesta semana que passou?”
Se eu não tiver uma resposta, penso mais, se continuar sem resposta, significa que eu preciso ter mais foco em terminar minhas iniciativas.
A resposta vai me deixar consciente do que eu deveria continuar fazendo na semana que vem.
2 – “Qual foi a coisa que eu gostaria de ter feito essa semana e que eu não consegui fazer?”
Se eu não souber responder, penso mais, se continuar sem resposta, significa que estou sendo pouco ambicioso nos meus planos. Preciso diversificar o leque de desafios pra próxima semana.
A resposta, junto com a anterior, vai me ajudar a escolher no que vou focar na semana que vem.
3 – “Qual filme poderia dialogar com minha vida na semana que passou?”
Uma parte importante do meu trabalho na criação de experiências de aprendizagem envolve produção audiovisual. Por conta disso, ao longo dos últimos anos comecei a apreciar o cinema de forma inesperada.
Filmes, como toda arte, ajudam a interpretar a vida e entender sentimentos.
É por isso que eu gosto dessa pergunta. Já tive insights poderosos ouvindo sobre os filmes que representam as semanas das pessoas que trabalham comigo. Ajudou a entender o que elas estavam sentindo, e ser melhor líder por isso.
E se eu não souber dizer um filme que representa minha semana, significa que eu preciso assistir mais filmes.
No meu caso, o filme que me representou na última semana foi “The Straight Story” do David Lynch.
É a história de um agricultor que usa os poucos recursos que têm para visitar o irmão doente que morava longe. É um filme sobre ser lean.
Sem possibilidade de ir de carro, ele usa um trator. Sim, era o que ele tinha. O objetivo é cruzar os Estados Unidos num trator precário para ver o irmão.
Escolhi esse filme porque assim como o fazendeiro, essa semana eu tive um desafio grande, olhei a minha volta e não tinha os recursos que precisava. Então eu comecei a ir de trator mesmo.
“Quem sabe no caminho encontre uma forma melhor de chegar até lá?”, eu pensei.
Lembrar desse filme me fez atentar também para as iniciativas humanas que as inteligências artificiais não têm. Vontade de gerar impacto positivo na vida das pessoas, se virar, fazer muito com pouco. Agir inspirado pela conexão que temos uns com os outros.
Richard Farnsworth interpretando Alvin Straight
“Raiva, vaidade, você mistura isso com bebida, e você tem dois irmãos que não se falam há dez anos. Ah, seja lá o que tenha nos deixado tão irritados, não importa mais. Eu quero fazer as pazes, quero me sentar com ele, olhar para as estrelas… como costumávamos fazer, há tanto tempo atrás.” – Alvin Straight em trecho do filme
As inteligências artificiais que aprendi a usar me fizeram ganhar tempo, muito tempo.
Mas qual a melhor forma de aproveitar esse tempo?
Pra mim, é investindo naquilo que a inteligência não vai fazer no meu lugar tão cedo. Como por exemplo escrever um texto como esse. Ou então aprender, eu adoro aprender, e isso ninguém pode fazer por mim.
Já está claro que aprender sobre inteligência artificial entra como prioridade para qualquer profissional do conhecimento.
Assim como eu, você já deve estar cansado de tanta oferta de curso de AI pra te deixar rico no dia seguinte. Eu já vi várias vezes essa história: aconteceu com as criptos, NFTs, metaverso, só para citar casos recentes.
Antes de comprar qualquer curso, pesquise, antes de pesquisar, pratique.
Entra no site do OpenAI e brinca com o ChatGPT. Ele é o seu trator.
É tão simples quanto mandar uma mensagem de Whatsapp. Deixe-se surpreender.
Depois busque um programa de formação sério e mão na massa com pessoas experientes na aplicação da inteligência artificial. O assunto está na moda agora, mas tem gente vivendo disso desde o século passado.
Ninguém vai ficar rico com IA de um dia pro outro, mas quem não começar sua jornada de aprendizado corre sérios riscos de ficar mais pobre.
É curioso que um filme sobre uma viagem de trator tenha me trazido tantas reflexões sobre um assunto aparentemente tão distante. São essas conexões inesperadas que me fazem gostar de ser humano.
Recomendo o filme e esse exercício de três perguntas para você.
Não esqueça de me dizer qual filme representou a sua semana. Preciso assistir mais filmes e prefiro indicações humanas do que as do algoritmo do Netflix.
Fonte: Revista Exame