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Após apagão, maranhense que mora em Portugal relata dificuldades: “Ficamos totalmente ilhados”

Ana Paula Nogueira mora há 9 anos em Lisboa e teve de lidar com falta total de energia por cerca de 11 horas.

A rotina de Ana Paula Nogueira foi prejudicada de uma forma inédita nesta segunda-feira (28). Natural do Maranhão, ela é jornalista e mora há 9 anos em Portugal. O país ibérico enfrentou um súbito apagão, que também atingiu a Espanha e comprometeu parte do fornecimento em outros países europeus. O blecaute teve início por volta de 11h33 no horário local (7h33 no horário de Brasília) e se estendeu ao longo de toda a segunda-feira.

Na Grande Lisboa, onde reside Ana Paula, o caos se instaurou rapidamente. Ela relata que estava atuando em sua segunda profissão, como soldadora, quando as atividades foram interrompidas no estaleiro em que trabalha. “Achei que fosse um desligamento programado para manutenção ou uma queda do nosso quadro elétrico, pois trabalhamos com máquinas pesadas. Mas em alguns minutos demos conta que era geral”, contou a brasileira.

O que se seguiu foi uma série de incertezas. Os portais locais noticiavam que os impactos do apagão se deram ao longo de todo o território nacional e possivelmente em outros países da União Europeia. Ana Paula chegou a entrar em contato com uma amiga que mora na Espanha, que confirmou também estar sem energia.

“Começamos a ficar apreensivas devido à falta de informações concretas sobre a causa e começaram várias especulações como ataque cibernético, princípio de guerra, incêndio das estações de energia. Ainda andamos alarmados em função do ataque russo na Ucrânia.”

Posteriormente, na volta para casa, a maranhense notou melhor a dimensão do problema. Semáforos desligados, supermercados fechados pela falta de sistema, sistema de transporte público inoperante e postos de combustíveis com filas quilométricas foram alguns dos desafios enfrentados.

Pela queda dos sistemas eletrônicos, quem não tinha dinheiro em espécie ficou impossibilitado de fazer compras e as redes de telefonia fora do ar bloquearam as comunicações. “Ficamos totalmente ilhados sem contato”, descreveu Ana Paula.

Preocupação nos lares

Uma situação que aumentou a apreensão de Ana Paula foi a incerteza em relação à sua filha, Ana Clara, de 13 anos. Ela explica que teve sorte e conseguiu dar orientações à garota antes de perder totalmente o contato com ela: “eu pedi que arrumasse uma mochila e reunisse nossos passaportes além de encher todas as garrafas com água. A gente nunca sabe o que pode ser.”

As escolas liberaram os estudantes, mas muitos pais não conseguiram ser avisados por conta da falta de comunicação. Com o sistema de metrô inoperante e sem internet para pedir corridas por aplicativo, muitas pessoas tiveram de ir à pé para casa. Várias empresas que funcionam no turno da noite sequer abriram.

Quando conseguiu se reunir com a filha, Ana Paula aguardou no apartamento das duas pela volta da energia. Às 19h e sem explicações ou previsão da volta de energia, ela percebeu que não conseguiria cozinhar. Com isso, mãe e filha se deslocaram para a casa de uma amiga que tem gás encanado na casa. “Minha sorte é que abasteci o carro um dia antes do apagão, senão nem gasolina eu teria. Alguns postos sequer funcionavam e outros que estavam operantes a fila era quilométrica”, detalhou.

O caos gerou receios na população. Rapidamente, as pessoas correram para os mercados em busca de conseguir recursos para montar estoques de emergência. Em Lisboa, a energia elétrica foi restabelecida por volta das 23h e Ana Paula e a filha voltaram para casa. Contudo, a casa delas e outras regiões seguiram sem fornecimento de água. A maranhense flagrou as prateleiras de um mercado completamente vazias na seção de galões d’água.

Após o apagão

Até o momento, as causas do apagão não foram totalmente determinadas. Ainda na segunda-feira (28), o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, afirmou que a causa do apagão, embora ainda não confirmada oficialmente, parece estar relacionada à rede elétrica da Espanha.

Já nesta terça-feira (29), o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, afirmou em entrevista coletiva que a falha ocorreu por uma “desconexão de geração” entre dois sistemas, o que acabou interrompendo todo o fornecimento de energia para a Península Ibérica.

Ainda segundo o premiê, a situação ocorreu no sudoeste da Espanha e é “muito possível” que a geração afetada seja a solar. As investigações seguem em andamento, mas tanto o governo espanhol quanto o português descartaram a possibilidade de ataques cibernéticos.

Ana Paula já tinha passado por emergências de outras naturezas em solo europeu, mas nada semelhante ao apagão. “Já passei por alguns tremores de terra. O último no mês de fevereiro. Tremeu alguns segundos e o receio era de um possível tsunami. Mas logo essa possibilidade foi descartada. São sensações diferentes. Mas esse apagão mostrou o quanto é difícil não ter energia elétrica”, explicou.

O susto também gerou reflexões. Para Ana Paula, a união com a filha foi fundamental para enfrentar a angústia do momento. Em meio às dificuldades, ambas se depararam com cenas valiosas, mas que na correria do cotidiano acabam deixadas em segundo plano.

“Foi um alívio chegar em casa e ter aquela sensação de que juntas estamos seguras. Quando saímos pra tentar comprar água ou comida e estava tudo inoperante, demos conta de inúmeras famílias reunidas nas praças públicas. Crianças brincando nos parques, vários pais com seus filhos. Parece que precisa de um caos para as pessoas entenderem que a vida pode ser aproveitada de outras maneiras.”

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