Candidato da legenda de ultradireita venceu pleito para governar a pequena cidade de Raguhn-Jeßnitz, no leste alemão. Essa é a segunda vez em uma semana que sigla fundada em 2013 conquista uma vitória num pleito local.
-dezembro 21, 2025
Candidato da legenda de ultradireita venceu pleito para governar a pequena cidade de Raguhn-Jeßnitz, no leste alemão. Essa é a segunda vez em uma semana que sigla fundada em 2013 conquista uma vitória num pleito local.
O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistou sua primeira prefeitura no país europeu neste domingo (02/07). O deputado estadual Hannes Loth será o novo prefeito da pequena cidade de Raguhn-Jeßnitz, no estado da Saxônia-Anhalt, no leste do país, região que é o principal reduto eleitoral da sigla.
Loth, de 42 anos, recebeu 51,13% dos votos no segundo turno do pleito na cidade, que tem pouco menos de 9.000 habitantes. Seu rival, o independente Nils Naumann, de 31 anos, conquistou 48,87%, segundo resultados preliminares. A participação eleitoral na cidade foi de 61,51%, segundo dados oficiais.
Membro da AfD desde 2013 – ano de fundação da legenda -, o agrônomo Loth é deputado estadual na Saxônia-Anhalt desde 2016. Membros da AfD já ocuparam posições de prefeitos voluntários ou em tempo parcial em cidades menores, mas esta é a primeira vez que um membro é eleito para assumir um posto em tempo integral.
Em 2019, a AfD parecia caminhar para conquistar a prefeitura de Görlitz, na Saxônia, mas uma “frente ampla” que uniu conservadores e partidos de esquerda acabou freando o candidato da sigla no segundo turno, num episódio que ganhou amplo destaque na imprensa.
Neste domingo, Loth agradeceu a seus apoiadores pelo “maravilhoso resultado”. “Serei prefeito de todos em Raguhn-Jeßnitz”, escreveu ele em suas redes sociais.
Essa é a segunda vitória eleitoral da AfD em uma semana. No último domingo, Robert Sesselmann, se tornou o primeiro membro da legenda a conquistar um posto de administrador distrital, em Sonneberg, no estado da Turíngia, também no leste alemão, derrotando um candidato conservador da tradicional União Democrata Cristã (CDU).
Embora o distrito Sonneberg tenha apenas 56 mil habitantes, a vitória no último domingo foi encarada na Alemanha como um termômetro para o avanço da AfD entre parte do eleitorado alemão. Um levantamento divulgado na sexta-feira, apontou que a legenda tem até 19% da preferência do eleitorado nacional, aparecendo à frente da sigla do chanceler federal Olaf Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD) que apareceu com 18%. No levantamento, a AfD ficou apenas atrás da CDU, que somou 28%. No ano que vem, a Alemanha será palco de três eleições estaduais – todas no leste do país – e a AfD já registra um avanço entre o eleitorado desses lugares.
Na Turíngia, o partido aparece desbancando A Esquerda – sigla em parte formada por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental – na preferência do eleitorado. Em um levantamento divulgado em abril, a AfD registrou 28% da preferência local, contra 22% do A Esquerda, que havia ficado à frente na última eleição, em 2019.
Na Saxônia, uma pesquisa divulgada no final de maio também mostrou a AfD no topo, com 32%, à frente dos conservadores da CDU, que registraram 31%. Já em Brandemburgo, o partido apareceu tecnicamente empatado com a CDU num levantamento em abril, com 23%, e à frente do SPD, que registrou 22%. No pleito de 2019, o SPD havia ficado na primeira posição, com 26,2%.
Eventuais triunfos eleitorais da AfD nesses três estados orientais podem levar a dificuldades de governabilidade, com outros partidos tradicionais sendo obrigados a costurar coalizões complexas para tentar barrar a influência da ultradireita nos parlamentos estaduais.
Neste domingo, o chanceler federal Olaf Scholz, em entrevista à rede ARD, comentou sobre os ganhos eleitorais da AfD. Ele defendeu que a receita para contrapor o avanço da ultradireita é oferecer “uma perspectiva de futuro” e pediu que os partidos tradicionais mantenham um cordão sanitário e evitem cooperar com a sigla AfD no legislativo.
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência mais liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam na imprensa por falas incendiárias ou racistas, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas e já teve uma de suas alas colocada sob vigilância policial por suspeita de extremismo.
A AfD é especialmente forte nos estados do leste, que compunham a antiga Alemanha Oriental comunista. No último ano, políticos da sigla que têm seus redutos nessa área adotaram posições pró-Rússia, anti-sanções e contra ajuda militar ocidental à Ucrânia. O partido também tem conexões com a extrema-direita mundial. Em 2021, uma de suas deputadas, Beatrix von Storch, foi recebida pelo então presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Fonte: DW Brasil