O ataque sem precedentes do grupo armado palestino Hamas contra Israel e a resposta israelense com bombardeios à Faixa de Gaza já deixou mais de 2 mil pessoas mortas desde o último sábado (7.out).
Além de impactos econômicos em diversas regiões do mundo, o conflito tem gerado repercussão política. Aqui no Brasil, integrantes da direita iniciaram uma ofensiva contra a esquerda, acusando os integrantes de partidos do setor e do próprio governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de compactuarem com os extremistas do Hamas.
Após o Senado Federal aprovar uma moção de repúdio ao Hamas, o senador Magno Malta (PL-ES), autor do requerimento, afirmou em discurso na tribuna do plenário da Casa Alta que lamentava “o tipo de apoio que a esquerda do mundo, inclusive brasileira” deu ao grupo e disse que “líderes do Hamas, foram recebidos aqui no Brasil, dias antes desse ataque, por ministros do governo”.
Nomes como o do assessor especial internacional da presidência da República, Celso Amorim, são um dos principais alvos da oposição. Em março deste ano o chanceler dos dois primeiros governos de Lula escreveu um texto para a apresentação do livro “Engajando o mundo: a construção da política externa do Hamas”. No trecho, o embaixador afirmou que o grupo armado possui um papel “encorajador e central” na restauração dos direitos palestinos.
Outros nomes na mira dos opositores são os ministros dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Segundo os adversários do governo, eles não se posicionaram de forma veemente contra o Hamas. Também há críticas ao fato destes integrantes manifestarem iguais condolências para Israel e para a Palestina.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro posicionamento, manifestou condolências a Israel pelos ataques do Hamas. Nesta quarta-feira (11.out), ele publicou um apelo ao secretário-geral da ONU, António Guterres, por uma ação conjunta para cessar a escalada dos conflitos no Oriente Médio. No apelo do governo brasileiro, que preside o Conselho de Segurança da ONU, Lula cita que o Hamas e Israel devem parar com os ataques.
“É preciso que o Hamas liberte as crianças israelenses que foram sequestradas de suas famílias. É preciso que Israel cesse o bombardeio para que as crianças palestinas e suas mães deixem a Faixa de Gaza através da fronteira com o Egito. É preciso que haja um mínimo de humanidade na insanidade da guerra”, disse o presidente.
Outro fator explorado pela oposição se trata de uma moção apresentada pela bancada do PT na Câmara em repúdio a Israel pelos ataques à Palestina. O documento foi aprovado em bloco com outros 13 requerimentos que tratavam apenas do repúdio ao Hamas e passou despercebido ao receber o aval de 312 deputados sem votos contrários. Ao perceberem o conteúdo da moção petista, parlamentares contrários à responsabilização de Israel pediram a anulação da votação.
Cobrança legítima
O cientista político, professor de Relações Internacionais e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, Maurício Santoro, entende como legítima a cobrança da oposição a integrantes da esquerda sobre posicionamentos prévios favoráveis ao Hamas. No entanto, o especialista entende que há uma “extrapolação” ao atribuir algum tipo de apoio ou financiamento do governo ou do PT ao grupo armado.
“Tivemos posicionamentos anteriores de integrantes do PT e da esquerda a favor do Hamas. E a direita, a oposição, entende que as manifestações atuais do governo não foram contundentes o suficiente no repúdio aos ataques do Hamas aos atentados. Existe uma controvérsia política e a cobrança é legítima, isso é democracia”, disse Santoro.
No entanto, o professor ponder: “Eu diria que há uma extrapolação [sobre um apoio aos ataques]. O que está em questão agora é que havia uma expectativa por parte de muitas pessoas no Brasil, seja no mundo da política ou na comunidade judaica, que houvesse por parte do PT e do governo brasileiro uma condenação explícita do Hamas classificando o Hamas como grupo terrorista”.
Diferentemente de outras lideranças mundiais, como os Estados Unidos e a União Europeia, o Brasil não tem uma lista de associações consideradas terroristas e, por isso, ele condena apenas os atos de terrorismo. Além disso, a tradição brasileira na diplomacia é de neutralidade e de atuação na busca pela negociação com os dois lados dos embates.
“Na avaliação da diplomacia brasileira, isso tornaria muito mais difícil um diálogo político com esses grupos que muitas vezes pode ser necessário. Caso do Líbano, um parceiro no Oriente Médio, onde uma das principais fontes é o Hezbollah. Se o Brasil fechasse essa relação, isso acabaria com uma série de negociações com o Líbano, por exemplo”, explicou o professor.
Bloqueios em Gaza
Enquanto setores da esquerda dividem a responsabilidade entre Hamas e Israel — ou não citam o grupo armado nos pronuciamentos–, na direita há uma defesa completa aos israelenses.
Com a escalada da tensão do confronto, Israel fez um cerco total à Faixa de Gaza. A região está sem energia por conta dos ataques e o fornecimento de água e de comida também foram interrompidos. Com isso, a crise humanitária na região, que já existia antes do conflito, atinge níveis ainda mais graves. A medida do governo israelense foi condenada pela ONU, que afirma a existência de “violação de direito internacional humanitário”.
Fonte: SBT News