A volta da soprano russa Anna Netrebko aos palcos de Berlim é motivo de protestos. Críticos  a acusam de proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin.

Diversas entidades anunciaram uma manifestação nesta sexrta-feira (15/09) diante da ópera Staatsoper Unter den Linden, onde Netrebko protagoniza a estreia da nova montagem da ópera Lady Macbeth, de Giuseppe Verdi.

Na segunda-feira, a associação Vitsche, formada por ativistas ucranianos na Alemanha, e a iniciativa Infra, com o apoio de 38 organizações e mais de uma centena de especialistas de diversas áreas, publicaram uma carta aberta pedindo o cancelamento das atuações de Netrebko em Berlim.

Em sua carta, os ativistas instam o prefeito governante de Berlim, Kai Wegner, e seu secretário de Cultura, Joe Chialo “a não ceder o palco a uma apoiadora do regime russo”. Anunciaram também uma manifestação em frente à casa de ópera caso a participação da soprano russa não seja cancelada.

“Liberdade artística é bem precioso”

Wegner, por seu lado, se disse “muito crítico” em relação à presença de Netrebko no palco da Staatsoper Unter den Linden, mas ao mesmo tempo reconheceu que na Alemanha “a liberdade da arte e da cultura é um bem precioso”, o que também “se aplica a toda Berlim e às instituições e suas decisões artísticas”.

Já Chialo anunciou que boicotará todas as récitas da ópera com Netrebko, embora, tal como Wegner, tenha sublinhado que “a arte é livre” e as instituições berlinenses “têm o direito de tomar as suas próprias decisões na concepção dos seus programas”.

Por outro lado, e coincidindo com a apresentação desta sexta-feira da soprano, Chialo informou que planeja visitar a exposição fotográfica Crimes de guerra russos, na companhia do embaixador ucraniano em Berlim, Oleksí Makeiev.

Fotos com Putin

Críticos acusam a artista de não ter se distanciado o suficiente da guerra de agressão russa – entre outros aspectos, por ela ter evitado atribuir explicitamente a responsabilidade a Putin.

Netrebko tem sido repetidamente acusada de proximidade ao líder do Kremlin. No passado, foi por diversas vezes fotografada ao lado dele, e até apoiou sua candidatura presidencial numa petição, em 2012. Ela própria justificou essa postura elogiando Putin como um incentivador do cenário artístico e cultural da Rússia.

Em entrevista à rádio berlinense RBB-Inforadio, o diretor artístico da Staatsoper, Matthias Schulz, defendeu a apresentação da soprano de 51 anos: “Acho que também é um sinal muito importante Anna Netrebko cantar num palco como este, que se posicionou tão claramente a favor da Ucrânia.”

Ele enfatizou que, ao contrário de muitos outros artistas russos, a cantora fez uma declaração em que usou os termos “guerra” e “contra a Ucrânia”. No entanto, isso passou despercebido, lamentou Schulz .

“Diferenciar antes e depois da guerra”

O diretor da Staatsoper frisou a importância de diferenciar as ações de Netrebko antes e depois da guerra, lembrando que a soprano não se apresenta mais e não se apresentará no momento na Rússia, e pediu que os artistas tenham “uma chance”.

“Também temos que ter cuidado para não usar os artistas como bodes expiatórios, por não conseguirmos chegar ao verdadeiro fomentador da guerra”, acrescentou Matthias Schulz.

Netrebko está processando o Metropolitan Opera (Met) de Nova York e seu diretor artístico, Peter Gelb, por terem encerrado a colaboração com ela após a invasão russa da Ucrânia. Ela exige pelo menos 360 mil dólares de indenização pela perda de receitas provenientes de apresentações e ensaios.

Fonte: DW Brasil