Afastado de suas funções pela Fifa e enfrentando uma denúncia do Ministério Público espanhol por agressão sexual e coerção por ter beijado a jogadora Jenni Hermoso após a final do Mundial Feminino de Futebol, o presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, anunciou neste domingo (10/09) sua saída do cargo.
“Vou fazer [me demitir], sim, porque não quero continuar meu trabalho”, disse Rubiales em entrevista ao programa de televisão britânico Piers Morgan Uncensored. “Minha família e amigos me dizem que tenho que focar na minha dignidade e seguir minha vida, que se não fizer isso vou prejudicar as pessoas que me são queridas e o esporte que eu amo.”
A renúncia, segundo a imprensa espanhola, foi comunicada oficialmente por carta ao presidente interino da federação. No texto, o dirigente também abdica do cargo de vice-presidente da União das Federações Europeias de Futebol (UEFA), e se diz vítima de uma campanha “desproporcional”.
“Após a rápida suspensão pela Fifa, mais o resto dos procedimentos abertos contra minha pessoa, é evidente que não poderei voltar ao meu cargo. Insistir em permanecer à espera e me aferrar a ele [o cargo] não vai contribuir em nada positivo, nem à Federação, nem ao futebol espanhol”, consta da carta.
O cartola, um dos escalados para liderar a candidatura conjunta de Espanha, Portugal e Marrocos para sediar o Mundial masculino em 2030, afirma que a renúncia deve “permitir que tanto a Europa quanto a África sigam unidas no sonho de 2030”.
O escândalo do beijo forçado
O caso aconteceu em 20 de agosto, após a Espanha vencer a Inglaterra e conquistar o título de campeã. Durante a cerimônia de entrega das medalhas em Sidney, na Austrália, Rubiales segurou Hermoso pela cabeça com as duas mãos e tascou-lhe um beijo. Rubiales insiste que o ato foi consensual – Hermoso nega.
Após a jogadora abrir uma queixa formal contra o dirigente, o MP espanhol formalizou a denúncia perante a Justiça, que ainda decidirá sobre a abertura de um processo perante o Supremo Tribunal do país.
Pela conduta, o cartola pode ser condenado a uma pena que varia do pagamento de uma multa até quatro anos de reclusão – uma nova lei sobre consentimento sexual aprovada no ano passado na Espanha extinguiu a distinção que havia entre “assédio sexual” e “agressão sexual”, punindo quaisquer atos sexuais não consensuais.
Os promotores também acusam Rubiales de, posteriormente, pressionar a atacante a defendê-lo em público após a repercussão do episódio.
Antes de ser afastado do cargo, o que acabou acontecendo por decisão da Fifa uma semana depois do episódio, Rubiales se recusou a deixar o cargo e fez um discurso à RFEF onde se dizia vítima de uma “caça às bruxas” perpetrada por “falsas feministas”. Já Hermoso descreveu o gesto como “um ato impulsivo, machista, fora de lugar e sem nenhum consentimento de minha parte”.
No cargo desde 2018, Rubiales afirmou na carta entregue à federação neste domingo ter “fé na verdade” e que fará o possível “para que [a verdade] prevaleça”. “É certo que, nas ruas, cada dia mais, a verdade está se impondo.”
Fonte: DW Brasil