O neonazista Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD) decidiu mudar de nome, quase 60 anos depois de ter sido fundado. A sigla de extrema direita passará a se chamar “Die Heimat”, um termo em alemão com diferentes conotações, que poderia ser traduzido como “A Pátria”.
A decisão foi tomada durante uma conferência nacional do partido na cidade de Riesa, na Saxônia, no último sábado (03/06), quando 77% dos partidários votaram a favor de renomear a legenda.
Após anos perdendo relevância política, o partido anunciou que, com a mudança de nome, busca abrir um “novo capítulo” em sua história.
Segundo um comunicado, A Pátria se vê como “um movimento antipartido e prestador de serviços patrióticos”, que busca se apresentar como um “contramodelo” à posição dos partidos “estabelecidos”. A nota diz ainda que a sigla mantém sua visão de que os “alemães” não devem “viver como uma minoria étnica na pátria de seus pais”.
Partido em declínio
O NPD foi fundado em 1964 como um ponto de encontro para movimentos de extrema direita, incluindo membros do antigo Partido do Reich Alemão, uma legenda neonazista dos anos 1950. Com suas posições racistas, antissemitas e antidemocráticas, o partido obteve sucessos temporários em eleições estaduais, mas tem estado em declínio nos últimos anos.
A legenda – que chegou a integrar seis dos onze parlamentos estaduais nos anos 1960 – perdeu seus últimos assentos no parlamento estadual de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental em 2016.
Em 2019, deixou de estar representada no Parlamento Europeu, quando o ex-presidente da sigla Udo Voigt perdeu seu mandato de eurodeputado. No último domingo, o recém-nomeado A Pátria voltou a indicar Voigt como seu principal candidato para as eleições europeias do próximo ano.
A renomeação do partido ocorre cerca de um mês antes de uma audiência em que o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha deverá decidir se exclui o NPD da lista de partidos que recebem financiamento do Estado. Segundo os defensores da medida, os objetivos inconstitucionais do NPD são suficientes para excluí-lo do fundo partidário.
Em 2017, o Tribunal Constitucional rejeitou um pedido de proibição do NPD, alegando que o partido era irrelevante demais para colocar em risco a democracia na Alemanha.
O NPD tinha cerca de 3.150 membros em 2021, segundo dados do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV) alemão. Em 2014, o número de filiados era de 5.200.
Em um relatório em 2022, o BfV confirmou que o NPD apresenta um “declínio claro e contínuo de membros”, uma “baixa capacidade de mobilização” e uma “situação difícil” em geral. No entanto, declarou que o partido “ainda tem relevância para a estrutura interna do cenário extremista de direita”.
“Heimat”
Novo nome escolhido pelo NPD, a palavra Heimat em alemão possui diferentes conotações, gera associações bem diversas, e seu conceito tem uma história antiga e atribulada. O termo não tem uma tradução exata para o português e significa sobretudo o local onde uma pessoa se criou e se sente em casa. O significado é semelhante ao de termos como “pátria”, “terra natal” e “lar”, mas vai além deles.
Além das conotações positivas, a palavra tem também sentidos controversos. Os nazistas, por exemplo, consideravam que apenas os membros da “raça alemã” faziam parte da “pátria (Heimat) alemã”. Os outros, como os judeus, foram aniquilados dentro de seu próprio país.
Sob o manto da Heimat iniciou-se uma guerra com a qual territórios estrangeiros e as minorias alemãs que os habitavam seriam conduzidos de volta ao “Reich”.
Essa guerra fez milhões de vítimas. Isso inclui aqueles que, depois da guerra, passaram a viver como Heimatvertriebene (banidos da Heimat) em um dos dois Estados alemães. Suas associações focavam na perda da Heimat e se dedicavam a um culto regressivo da memória.
Anos depois, o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), fundado em 2013, devolveu o significado político ao conceito de Heimat. Mas, mais uma vez, o termo servia como palavra de ordem para a Heimatschutz (proteção da Heimat), ou seja, como defesa contra o multiculturalismo e os refugiados.
Fonte: DW Brasil
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