O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de ultradireita, está há semanas mais inflamado que o usual. Para a legenda de oposição, as políticas do governo alemão não são apenas um fracasso, mas uma ameaça à paz e à prosperidade. Em praticamente todas os temas, o partido baseia-se no confronto: na guerra na Ucrânia, exige negociações de paz em vez de fornecimento de armas. Na política de migração, exige “fechar as fronteiras” em vez de recrutar trabalhadores qualificados.
Acima de tudo, o partido de ultradireita vem se apresentando como um oponente agressivo na política energética e climática. As medidas do governo federal, cuja coligação inclui o Partido Verde, são chamadas de “programa de empobrecimento” por Alice Weidel, líder da bancada da AfD no Bundestag (Parlamento alemão).
Para ela, os planos para converter os sistemas de aquecimento residencial para o uso de energias renováveis são nada menos que um “massacre do aquecimento”: “As pessoas que não puderem mais pagar [por isso] terão que vender suas casas”, declarou ela em uma coletiva de imprensa.
Emoções mais importantes que fatos
Em sua rejeição às medidas de proteção climática, a legenda supera até mesmo muitos outros partidos europeus de ultradireita, observa Christoph Richter, do Instituto para Democracia e Sociedade Civil (IDZ), na cidade de Jena: “Ela coloca em dúvida as conclusões científicas fundamentais sobre as mudanças climáticas provocadas pelo homem e, portanto, considera as medidas de proteção climática sem sentido”. O IDZ está atualmente pesquisando como os populistas e extremistas de direita na Europa e nos EUA lidam com a crise ambiental.
O próprio programa da AfD sobre proteção climática é simples: Sim à energia fóssil e à energia nuclear, não à energia eólica. Os especialistas observam que a AfD se baseia mais em emoções do que em princípios programáticos. “Vemos que a AfD ‘penetra’ onde estão a maioria das reservas e medos da população”, analisa Christoph Richter. “Por exemplo, ela se envolve em campanhas regionais contra a energia eólica.”
Os verdes tornaram-se o oponente favorito da AfD. O conceito deles de uma Alemanha amigável ao clima, cosmopolita e diversificada serve ao partido de ultradireita como um plano para um cenário apocalíptico: “Os cidadãos estão sendo expropriados!”, “Eles estão destruindo nossa prosperidade!”, “Baerbock está agindo de forma criminosa e insana!”
Com esses slogans sensacionalistas, a legenda vem lutando especialmente nas mídias sociais contra o Partido Verde, da ministra do Exterior, Annalena Baerbock, e do ministro da Economia, Robert Habeck. Aparentemente com sucesso: as pesquisas de opinião veem o AfD como o partido mais forte em três estados do leste da Alemanha, onde importantes eleições estaduais serão realizadas no próximo ano. No âmbito federal, a legenda tem hoje a preferência de até 18% dos eleitores nas pesquisas mais recentes. Já os verdes, que chegaram a registrar a preferência de até 20% dos eleitores em 2022, hoje amargam não mais que 16% nos levantamentos mais recentes.
Antípoda dos verdes
O eleitorado dos verdes e da AfD parece ser oposto em muitos campos políticos. Por exemplo, no mês de abril, o instituto de pesquisas de opinião Infratest Dimap identificou que 76% dos apoiadores dos Verdes acham que as medidas de proteção climática estão indo muito devagar, enquanto 50% dos apoiadores da AfD acham que estão indo muito rápido.
Christoph Richter, do IDZ, vê a direita europeia unida em sua rejeição às medidas de proteção climática: “Eles estão unidos pelo interesse em manter a desigualdade existente entre as nações industrializadas e outros países, principalmente os do Sul Global, porque as nações industrializadas europeias lucram com essa disparidade.”
Desde a sua fundação em 2013, a AfD vem alterando o foco de quem são seus inimigos. Seu adversário favorito no início era o Partido Liberal Democrático (FDP) e sua política sobre a dívida europeia. Quando o FDP ficou de fora do Bundestag na eleição de 2013, a alegria da AfD não teve limites.
Em seguida, o partido mirou nos conservadores e na sua líder e então chanceler federal Angela Merkel. A política de refugiados de Merkel fez a AfD entrar em ebulição e obteve grande sucesso, especialmente nos estados do leste.
Merkel deixou o cargo, e agora o AfD se concentra em um novo inimigo: os verdes. A forma dos ataques não é novidade para Christoph Richter: “Conhecemos os ataques muito agressivos contra o clima e os ambientalistas dos EUA da década de 1980. Naquela época, um forte movimento contrário se formou lá.”
No entanto, o fato o partido de ultradireita parecer ter sucesso com sua estratégia se deve principalmente à insegurança dos outros partidos, observa Richter: “O fator de sucesso relevante das campanhas da AfD é que suas narrativas também são aceitas pelos centristas. Isso é uma estratégia muito perigosa que acaba prejudicando os partidos estabelecidos e a proteção climática.”
Fonte: DW Brasil
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