Mais da metade dos maiores lagos e reservatórios do mundo está secando, devido principalmente à mudança climática e ao consumo humano de água, colocando em risco a futura segurança hídrica da humanidade, apontou um estudo nesta quinta-feira (18/05).
Uma equipe internacional de pesquisadores, que inclui cientistas dos Estados Unidos, França e Arábia Saudita, revelou que algumas das fontes de água doce mais importantes do mundo perderam água a uma taxa cumulativa de cerca de 22 gigatoneladas por ano por quase três décadas.
“Os lagos estão com problemas em todo o mundo, e isso tem implicações em toda a parte”, afirmou Balaji Rajagopalan, professor da Universidade do Colorado em Boulder e coautor do estudo publicado na revista científica Science.
“Realmente chamou nossa atenção que 25% da população mundial vive em uma bacia de lagos que está em tendência de declínio”, acrescentou, o que significa que cerca de 2 bilhões de pessoas são afetadas pelo problema apontado no estudo.
Segundo Rajagopalan, ao contrário dos rios, que tendem a monopolizar a atenção científica, os lagos não são muito bem monitorados, apesar de sua importância crítica para a segurança hídrica.
Desastres ambientais de grande importância em volumosos corpos d’água – como o Mar Cáspio, entre a Europa e a Ásia, o Mar de Aral, na Ásia Central, e o lago Titicaca, na América do Sul – sinalizaram aos pesquisadores a existência de uma crise mais ampla.
Quase 2 mil lagos analisados
Para estudar a questão sistematicamente, a equipe analisou os 1.972 maiores lagos e reservatórios da Terra, usando observações de satélites de 1992 a 2020.
Os cientistas se concentraram em corpos maiores de água doce devido à melhor precisão dos satélites em maior escala, bem como à sua importância para os humanos e a vida selvagem.
O conjunto de dados dos pesquisadores casou imagens do Landsat, o programa mais antigo de observação da Terra, com a altura da superfície da água medida por altímetros de satélite, para determinar como o volume dos lagos variou ao longo de quase 30 anos.
O resultado: 53% dos lagos e reservatórios analisados tiveram um declínio no armazenamento de água. Durante todo o período estudado, foram perdidos 603 quilômetros cúbicos de água, o que equivale a 17 vezes o volume do Lago Mead, o maior reservatório dos Estados Unidos.
Os pesquisadores também investigaram o que impulsionou as tendências de seca. No caso dos lagos naturais, grande parte da perda de água foi atribuída à mudança climática, bem como ao consumo insustentável de água pelo homem.
O aumento das temperaturas devido à mudança climática leva à evaporação da água dos lagos, mas também pode diminuir o volume de chuvas em alguns lugares. “O sinal climático permeia todos os fatores”, disse Rajagopalan.
Seca também em regiões úmidas
Um aspecto surpreendente do estudo foi relacionado ao argumento de muitos cientistas de que as regiões mais áridas do mundo tendem a ficar mais secas com a mudança climática, enquanto as áreas úmidas ficam mais úmidas. A pesquisa, contudo, constatou uma perda significativa de água mesmo em regiões úmidas do planeta.
“Isso não pode ser ignorado”, destacou Fangfang Yao, principal autor do estudo.
Perda de água foi encontrada inclusive em lagos tropicais úmidos na Amazônia, bem como em lagos do Ártico, demonstrando uma tendência ainda mais ampla do que se previa.
A cientista Hilary Dugan, que estuda sistemas de água doce na Universidade de Wisconsin-Madison e não esteve envolvida no estudo, disse à agência de notícias AFP que a pesquisa avançou a compreensão científica da variabilidade do volume dos lagos, que é de “enorme importância”.
É “único porque se concentra em lagos específicos e relata a quantidade de água como um volume”, disse ela, acrescentando: “Mas é importante ter em mente que muitos suprimentos de água vêm de pequenos lagos e reservatórios”, e pesquisas futuras também devem considerá-los.
Globalmente, os lagos e reservatórios de água doce armazenam 87% da água doce líquida do planeta, ressaltando a urgência de novas estratégias para consumo sustentável e mitigação climática.
“Se uma boa parte dos lagos de água doce está secando, você verá o impacto chegar até você de uma forma ou de outra. Se não agora, em um futuro não muito distante”, alertou Rajagopalan. “Portanto, cabe a todos nós sermos bons administradores [desse recurso].”
Fonte: DW Brasil