Após um fim de semana de intensas negociações, o banco suíço UBS anunciou na noite deste domingo (19/03) a compra de seu maior rival, o enfraquecido Credit Suisse, por 3 bilhões de francos suíços, o equivalente a cerca de 3,23 bilhões de dólares.
O valor é metade do que o Credit Suisse valia no fechamento do mercado de ações na sexta-feira, mas bastante superior à proposta inicial do UBS, de 1 bilhão de francos suíços.
As negociações envolveram os dois bancos, o governo suíço, o banco central suíço e a entidade reguladora do país, com o objetivo de restaurar a confiança do Credit Suisse e manter a estabilidade do sistema financeiro mundial. Na última semana, o Credit Suisse registrou uma queda de de mais de 25% na bolsa de valores.
Cada ação do Credit Suisse será adquirida por 0,76 francos suíços – na sexta-feira, cada uma valia 1,86 no fechamento da bolsa. Os acionistas do Credit Suisse receberão uma ação do UBS para cada 22,48 ações do Credit Suisse.
De acordo com o presidente suíço, Alain Berset, a aquisição pelo UBS é a melhor solução para restaurar a confiança perdida do Credit Suisse e não é apenas “crucial” para o país, mas também para a estabilidade de todo o sistema financeiro global.
A ministra das Finanças suíça, Karin Keller-Sutter, declarou que a falência do Credit Suisse poderia provocar “danos econômicos irreparáveis”.
“Por essa razão, a Suíça deve assumir responsabilidades além de suas próprias fronteiras”, acrescentou a ministra.
O Swiss National Bank (SNB), o banco central suíço, vai garantir um suporte de liquidez de 100 bilhões de francos suíços para ambas as intituições. A fim de reduzir os riscos para o UBS, o governo suíço vai emitir uma garantia de 9 bilhões de francos suíços para cobrir possíveis perdas.
Possíveis demissões
Fundado em 1856, o Credit Suisse, sediado em Zurique, tem mais de 50 mil funcionários em todo o mundo, sendo 17 mil deles na Suíça.
“Serão semanas e um período difícil para os funcionários. Tentaremos tornar esse período de incerteza o mais curto possível”, disse o presidente do UBS, Colm Kellenher, em entrevista coletiva com membros do governo suíço.
Nenhum deles fez uma estimativa do número de trabalhadores que poderão perder seus empregos em decorrência dessa medida.
Kellenher assegurou que após esta operação seu banco continuará “sólido como uma rocha” e que a sua estratégia nesta nova etapa será aumentar o capital.
Fusão bancária mais significativa em 15 anos
A fusão entre os dois gigantes, que integram o clube dos 30 estabelecimentos bancários considerados demasiado grandes para falir, foi fechada e anunciada antes da abertura dos mercados asiáticos, tentando evitar o pânico.
Trata-se da fusão bancária mais significativa na Europa desde a crise financeira de 15 anos atrás e cria uma das maiores instituições financeiras da Europa.
“Com a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, foi encontrada uma solução para garantir a estabilidade financeira e proteger a economia suíça nesta situação extraordinária”, disse o SNB em comunicado.
A derrocada do Credit Suisse
Após uma série de escândalos, a pressão sobre o Credit Suisse aumentou recentemente depois do fechamento de dois bancos americanos, o Silicon Valley Bank e o Signature Bank, que causaram agitação no setor financeiro.
Além disso, declarações do maior acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank da Arábia Saudita, de que não desejava aumentar os investimentos no segundo maior banco suíço, fizeram o preço despencar.
O Credit Suisse teve uma queda de 25% na bolsa de valores na última semana. Há um mês, as ações do banco valiam 2,77 francos suíços e há seis meses eram negociadas a 4,64 francos suíços, embora a essa altura sua imagem já estivesse manchada pelos resultados de má gestão, escândalos que puseram em dúvida sua reputação e ações judiciais que o forçaram pagar multas milionárias, principalmente nos Estados Unidos.
Isso levou o banco a perder mais de 7,3 bilhões de francos suíços em 2022, ano em que começou a perder clientela de forma significativa e experimentou saídas de quantias colossais de dinheiro, principalmente no último trimestre.
O empréstimo de mais de 50 bilhões de francos suíços que o banco central da Suíça concordou em fazer-lhe na semana passada para acalmar os mercados – considerando que seu capital e liquidez eram suficientemente sólidos – não teve o resultado esperado.
O Credit Suisse foi o primeiro grande banco global a receber um resgate de emergência desde a crise financeira de 2008 e seus problemas levantaram sérias dúvidas sobre a capacidades de bancos centrais sustentarem suas lutas contra a inflação e os aumentos agressivos das taxas de juros.
Fonte: DW Brasil
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