Invasão americana ao Iraque completa 20 anos

Há duas décadas, em março de 2003, forças dos Estados Unidos, em ação conjunta com o Reino Unido e aliados, invadiam o Iraque. Nomeada de Operação Liberdade Iraquiana, a invasão tinha como principal motivação libertar o povo iraquiano do ditador Saddam Hussein e destruir supostas armas de destruição em massa mantidas pelo governo dele.

As tais armas nucleares nunca foram encontradas, o governo de Hussein foi derrubado em 9 de abril, apenas 26 dias após a invasão, e a guerra, que teve o fim declarado por Barack Obama em 2011, deixou centenas de milhares de civis mortos e um país, que até a invasão era influente no Oriente Médio, em meio a um conflito sectário e frágil frente à ascensão do grupo terrorista Estado Islâmico.

Ainda hoje, são mantidos no país cerca de 2.500 militares para treinamento.  

Além disso, a invasão comprovou-se desastrosa e bastante custosa ao longo dos anos, também agravou a instabilidade no Oriente Médio, minou a credibilidade dos Estados Unidos com países do Golfo e favoreceu o Irã, principal inimigo de Washington.  

Saddam Hussein: de aliado a alvo dos EUA

Antigo aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, Saddam Hussein tornou-se um alvo de Washington após invadir o Kuait, em 1990.

Condenado pelo Conselho de Segurança da ONU e por outros países da região, o Iraque foi retirado do território vizinho por uma coalizão liderada pelos EUA e passou a ser alvo de sanções, o que não impediu que o ditador Saddam Hussein permanecesse no poder.

O fato desagradou a Casa Branca, principalmente a ala mais conservadora do governo do George Bush pai. Em 2001, após os ataques de 11 de setembro, o governo norte-americano, liderado por George Bush filho, voltou a enxergar um perigo em potencial no Iraque, o que provocou a invasão de 2003, sob alegações de levar a democracia para o país e acabar com o arsenal de armas de destruição em massa que estariam escondidas na região. 

Consequências da guerra: democracia não foi levada ao Iraque

Os Estados Unidos e aliados não só não localizaram as armas de destruição em massa, como não levaram a democracia para o país.
O Iraque passou anos em guerra civil e hoje tem um governo central fraco e vive em estado de violência sectária entre as comunidades muçulmana xiita (maioria e atualmente no poder) e sunita (minoria que dominava o país no regime de Saddam Hussein).

Antes influente no Oriente Médio, o Iraque hoje é um país completamente dilacerado, com uma condição sócio-econômica crítica e com bastante dificuldade em constituir um consenso nacional.

Ainda que esse pudesse ser um dos objetivos dos Estados Unidos, a situação levou inexoravelmente ao fortalecimento do Irã na região, algo que não estava nos planos de Washington, e agravou a instilabilidade no Golfo, gerando novos conflitos.

 Além disso, a ocupação alimentou uma obstinada resistência guerrilheira e facilitou a ascensão do grupo Estado Islâmico.

Para o professor de Relações Internacionais da PUC-SP e autor do livro “A luta contra o terrorismo: os EUA e os amigos Talibãs”, Reginaldo Nasser, a ascensão do Estado Islâmico é a pura expressão do fracasso da intervenção no Iraque. 

“O Estado Islâmico é a pura expressão desse fracasso, porque é uma organização que conseguiu articular as duas guerras (da Síria e do Iraque). Claro, o Estado Islâmico é um grupo terrorista, é um grupo de começo bastante violento, mas que consegue ter um certo apoio da população, da população que se viu marginalizada. Por um período, o Estado Islâmico chegou a ocupar um território equivalente ao tamanho da Jordânia, com seis milhões de pessoas. Depois foi atacado e destruído tanto na Síria quanto no Iraque, mas é fato que durante esse período ele denotou esse fracasso (dos EUA).”

Guerra já custou R$ 9,4 trilhões

As guerras na Síria e no Iraque já custaram aos cofres dos Estados Unidos cerca de US$ 1,79 trilhão (R$ 9,4 trilhões na cotação atual), segundo dados divulgados pelo projeto Costs of War, da Brown University. Se incluir os custos dos futuros cuidados médicos e de invalidez dos veteranos, esses custos chegarão a cerca de US$ 2,9 trilhões até 2050, segundo o relatório.

Para o Iraque, a guerra foi e é devastadora.

“Hoje o Iraque é uma uma nação completamente desestruturada, desintegrada, e, acredito, que esse seja um dos objetivos por trás da decisão (dos EUA) de ocupar o Iraque”, comenta Nasser.

Estima-se que entre 280,771 e 315,190 civis tenham morrido no conflito de março de 2003 a março de 2023. O número de militares e civis dos Estados Unidos mortos passa de 8 mil.

Fonte: SBT News

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