Um tribunal em Belarus condenou à revelia nesta segunda-feira (06/03) a ex-candidata à presidência e líder da oposição Svetlana Tikhanovskaya a 15 anos de prisão. Ela é acusada de alta traição e de conspirar para derrubar o governo, em mais uma ação do regime do presidente Alexander Lukashenko para reprimir dissidentes.
Tikhanovskaya concorreu às eleições presidências de agosto de 2020 contra o próprio Lukashenko, que venceu o pleito de maneira amplamente contestada. O resultado, que concedeu o sexto mandato ao líder que governa o país com mão de ferro, não foi reconhecido pelos países do Ocidente, em meio a suspeitas de fraude eleitoral.
A derrota da oposição gerou a maior onda de protestos em massa na história do país, reprimida com brutalidade pelo regime de Lukashenko.
Sob forte pressão, Tikhanovskaya deixou o país e passou a viver como exilada na Lituânia, onde manteve suas atividades como uma das principais líderes da oposição belarussa. Várias outras lideranças contrárias a Lukashenko foram presas ou também tiveram de deixar o país.
Tikhanovskaya concorreu contra Lukashenko em 2020 no lugar do marido dela, Serguei Tikhanovsky, um ativista e youtuber que planejava concorrer contra Lukashenko nas eleições, mas foi preso dois dias depois de lançar sua candidatura. Ele foi considerado culpado de organizar motins e incitar o ódio social, entre outras acusações, e condenado a 18 anos de prisão.
No mês passado, Tikhanovsky teve sua pena ampliada em 18 meses por supostas violações das regras da prisão. No julgamento a portas fechadas, ele manteve sua alegação de inocência, segundo informações do Centro de Direitos Humanos Viasna, de Belarus. A entidade afirma que ele foi mantido durante dois meses em condições desumanas em uma cela isolada.
O julgamento de Tikhanovskaya e de outros quatro oposicionistas – que também estão no exílio e foram julgados à revelia – foi realizado em um tribunal de Minsk. As acusações contra os cinco ativistas também incluem criar e liderar um grupo extremista, incitação ao ódio e danos à segurança nacional.
O oposicionista e ex-ministro da Cultura de Belarus Pavel Latushka foi condenado a 18 anos de prisão. Ele já foi embaixador do país em diversas nações europeias.
Maryya Maroz, Volha Kavalkova e Siarhei Dylevski receberam penas de 12 anos. Tikhanovskaya também foi condenada a pagar uma multa de 11 mil dólares (R$ 57,3 mil).
Veredito “não vai me deter”
Após a divulgação do veredito, Tikhanovskaya disse que continuará a agir em prol dos prisioneiros políticos em Belarus. “No dia de hoje, não penso em minha condenação. Penso nos milhares de inocentes, detidos e condenados a penas reais de prisão”, afirmou, em postagem nas redes sociais.
Em entrevista à agência de notícias Associated Press, Tikhanovskaya disse que o advogado indicado pelo tribunal para representá-la não manteve contato durante o julgamento e não respondeu a seus pedidos para revisar os autos do processo.
Ela disse que o sistema legal em Belarus deixou de funcionar, e que o Estado “se transformou em uma grande KGB”, em referência à antiga agência de espionagem da União Soviética.
“O regime pratica vingança contra mim e todos os belarussos […] pelo fato de que, em 2020, nós optamos pela liberdade, por não renunciamos, não desistirmos, mas continuamos a lutar”, disse Tikhanovskaya. “Se Lukashenko pudesse prenderia a todos.”
“Se Lukashenko pensa que esse regime prisional irá me deter, irá deter os belarrussos, está enganado. Continuaremos a lutar ainda mais ativamente pela liberdade”, sublinhou.
Tikhanovskaya diz que o regime de Lukashenko vem intensificando a repressão. Ela afirma que, a cada dia, entre 15 e 20 pessoas são presas, o que, segundo sua avaliação, “demonstra a pouca confiança que o regime tem em si mesmo”.
Vencedor do Nobel da Paz condenado
Lukashenko, aliado de longa data do presidente russo, Vladimir Putin, e um dos maiores apoiadores da invasão russa na Ucrânia, governa a ex-república soviética desde 1994. Mais de 35 mil pessoas foram presas em associação aos protestos de 2020, sendo que milhares sofreram agressões da polícia.
Ales Bialiatski, um dos principais ativistas em prol dos direitos humanos em Belarus, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz de 2022, foi condenado na semana passada a dez anos de prisão.
O ativista de 60 anos e quatro de seus colegas do Centro de Direitos Humanos Viasna (“primavera”, no idioma belarusso) foram condenados por supostamente financiarem ações que violariam a ordem pública e por contrabando, informou a instituição.
O Centro Viasna contabiliza um total de 1.456 prisioneiros políticos em Belarus.
Fonte: DW Brasil
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