Cintia Dicker, casada com Pedro Scooby, falou à revista Vogue, sobre o nascimento de Aurora, sua primeira filha com o surfista. A modelo contou que a bebê foi diagnosticada com gastrosquise, malformação gastrointestinal congênita, durante um exame morfológico, quando ela estava na 12ª semana de gestação. O casal fez uma sequência de testes para checar alterações cromossômicas e descobriu que estava à espera de uma menina. Na ocasião, eles souberam que, para a segurança da bebê, ela deveria nascer entre 37 e 38 semanas e através de uma cesárea. Logo após o nascimento, Aurora precisaria ser operada. E foi o que aconteceu. Ela nasceu no dia 26 de dezembro e foi operada pelo cirurgião Gilmar Stulzer e foi acompanhada pela equipe de Jofre Cabral, pediatra e diretor médico da UTI neonatal da Maternidade Perinatal, no Rio de Janeiro.
Segundo a cirurgiã pediátrica Dra. Bianca Dias Bastos, a gastrosquise é uma anomalia congênita que exige muita atenção e paciência dos pais – além de entrosamento e afinidade da família com toda a equipe médica. A doença consiste na malformação da parede abdominal do bebê ainda na barriga da mãe, com o surgimento de um orifício geralmente localizado à direita do cordão umbilical.
O conteúdo exposto pela gastrosquise quase sempre é formado pelo intestino delgado e grosso, estômago e fígado. A doença acomete aproximadamente 1 bebê para cada 10.000 nascidos vivos e pode levar semanas para que seja definitivamente corrigida.
“Na Gastrosquise, os músculos e a própria pele da parede abdominal do feto não se fecham completamente. Dessa forma, permitem que parte do intestino e mesmo de outros órgãos, como o estômago e bexiga, fiquem expostas ao líquido amniótico e, posteriormente, ao ambiente pós-parto, sem proteção”, afirma a cirurgiã.
De acordo com a especialista, a idade da mãe é um fator relacionado à doença. A gastrosquise costuma acontecer com maior frequência em bebês filhos de adolescentes. Além disso, o uso de drogas também é um fator que colabora para a ocorrência do problema.
A gastrosquise pode ser diagnosticada ainda na fase pré-natal, no ultrassom morfológico. Caso isso não aconteça, o diagnóstico será feito após o nascimento. “Em aproximadamente 15% dos casos, a gastrosquise pode estar associada com outras malformações. Entre elas, atresias e estenoses intestinais. Assim, o bebê que apresenta gastrosquise pode precisar de outras cirurgias para correção”, explica a médica.
Bebês com malformações, como Atresia de Esôfago, Onfalocele e Gastrosquise precisam de cuidados especiais. Por isso, assim que esses problemas forem diagnosticados, é importante que a família procure um cirurgião pediátrico. Além de tirar todas as dúvidas e de preparar a chegada do bebê de forma adequada, esse primeiro contato é importante para que a família e o profissional se conheçam, uma vez que essa relação se estenderá por muito tempo.
“O momento do diagnóstico de uma anomalia congênita é sempre muito difícil. Ter um profissional competente e com quem a gente se identifica ao nosso lado deixa tudo mais fácil. Por isso, consultar o cirurgião pediátrico é tão importante, antes mesmo de o bebê nascer”, recomenda a profissional.
O tratamento para a gastrosquise é sempre cirúrgico e deve ser feito imediatamente. O objetivo, dependendo do tamanho da gastrosquise, é reinserir as partes dos órgãos expostos de volta ao abdome e fechar o orifício. Para isso, contudo, podem ser necessárias mais de uma cirurgia. O ideal é que a equipe cirúrgica já esteja a postos no momento do nascimento do bebê.
“Nos casos em que a gastrosquise já está diagnosticada, assim que o bebê nascer, o médico pediatra na sala de cirurgia irá realizar um curativo no local da gastrosquise e encaminhar o bebê para a cirurgia. Nos casos em que a gastrosquise é diagnosticada após o nascimento, o médico pediatra também faz o curativo na sala do parto, mas é preciso esperar que toda a estrutura cirúrgica seja montada”, conta a médica.
Além disso, bebês com gastrosquise precisam do suporte de uma UTI Neonatal para sobreviverem. Assim, é importante que pais, médicos e hospital/maternidade estejam preparados para atender o bebê e conduzir o tratamento. A gastrosquise pode provocar: infecções, perda de calor e necrose e perda de parte do intestino.
Segundo a médica, o tratamento cirúrgico da gastrosquise não consiste apenas em reinserir os órgãos na cavidade abdominal do bebê. Muitas vezes, essa inserção pode provocar repercussões fisiológicas importantes, que se refletem especialmente na circulação sanguínea, o que precisa ser estudado pelo cirurgião pediátrico cuidadosamente.
“Outro problema é o funcionamento do intestino. Além de introduzi-lo para a cavidade abdominal, é importante garantir que ele esteja funcionando corretamente. O intestino exposto do bebê, por exemplo, ao ficar muito tempo em contato direto com o líquido amniótico, tende a ficar mais espesso (peritonite intestinal) e demorar para funcionar”, afirma a cirurgiã.
A médica explica que, mesmo bebês com gastrosquises pequenas podem ter que ficar internados por semanas ou meses até que os órgãos possam voltar a funcionar perfeitamente. Nesse tempo, o contato e o entrosamento com toda a equipe multidisciplinar responsável é fundamental. O carinho e a atenção do médico para com a família pode deixar esse desafio um pouco mais leve e fácil de superar.
FONTE: QUEM
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